quarta-feira, 2 de outubro de 2013

Líderes iranianos reconhecem que sanções prejudicam economia do país
Thomas Erdbrink - NYT                                      
O proprietário de uma empresa de fabricação de ônibus local admite gostar de suas rotinas e, por isso, ele continua indo todos os dias para seu escritório no centro. Lá, ele pede xícaras de chá, grita ordens para os gerentes da fábrica pelo telefone e assina um fluxo constante de documentos que seus empregados colocam sobre a mesa.
"Parece que estou trabalhando, certo?", perguntou o proprietário, Bahman Eshghi, cruzando as mãos. "Não. Na realidade, eu estou orando, ou por um milagre para salvar a nossa economia ou para um tolo entrar e comprar a minha fábrica."
Durante anos, os líderes do Irã zombaram das sanções econômicas ocidentais, vangloriando-se de que poderiam escapar de qualquer coisa. Agora, à medida que tentam negociar um acordo sobre seu programa nuclear, os líderes estão reconhecendo que as sanções, particularmente aquelas aplicadas em 2010 sobre as transações financeiras internacionais, estão criando uma forte escassez de moeda, que está deixando a economia do país de joelhos.
Isso ficou evidente em Nova York na semana passada, quando o novo presidente do Irã, Hasan Rowhani, enfatizou a necessidade de agir rapidamente para resolver o impasse sobre o programa nuclear do Irã, talvez em um período de três a seis meses. Talvez haja razões políticas para ele estar com pressa, mas Rowhani e outros admitiram que as sanções eram prejudiciais.
Em repetidas reuniões durante a semana, Rowhani e seu ministro das Relações Exteriores, Mohammad Javad Zarif, disseram que a situação financeira do governo era muito mais terrível do que o presidente anterior, Mahmoud Ahmadinejad, havia deixado transparecer.
O presidente do Irã e o ministro das Relações Exteriores não especificaram publicamente a gravidade do problema de caixa, mas os economistas ocidentais acreditam que o ponto de crise pode estar muito mais próximo do que se pensava -- e talvez seja uma questão de meses. Agências de notícias iranianas informaram que o governo deve bilhões de dólares para empresas privadas, bancos e municípios.
Por causa das sanções, as vendas de petróleo, que representam 80% da receita do governo, foram cortadas pela metade. Ahmadinejad afirmava que o Irã tinha US$ 100 bilhões (em torno de R$ 200 bilhões) em reservas cambiais. Esse total foi reduzido a US$ 80 bilhões até meados de 2013, de acordo com um novo estudo da Roubini Global Economics, uma empresa de pesquisa com sede em Nova York, e da Fundação para a Defesa de Democracias, um grupo de Washington que defende fortes sanções contra o Irã.
Até mesmo este cálculo, porém, exagera vastamente as verbas prontamente disponíveis para o Irã. Três quartos dos US$ 80 bilhões estão presos em contas judiciais em países que compram o petróleo iraniano, por causa de uma lei norte-americana que entrou em vigor em fevereiro. Segundo essa legislação, o valor só pode ser gasto para comprar produtos provenientes desses países.
Conseguir acesso aos US$ 20 bilhões restantes é difícil. As operações precisam ser feitas fisicamente, em dinheiro, por causa da expulsão do Irã da rede bancária global conhecida pela sigla Swift, que permitia que o dinheiro fosse transmitido eletronicamente.
"Eles não conseguem repatriar o dinheiro para o Irã", disse Mark Dubowitz, diretor-executivo da Fundação para a Defesa das Democracias. "Este é o dilema em que se encontra o Irã."
As sanções causam outros problemas. Diante da impossibilidade de financiar de forma simples seus negócios, os executivos são forçados a transferir malas de dinheiro por meio de cambistas para banqueiros obscuros no exterior. Isto não é apenas caro, com intermediários cobrando taxas a cada passo do caminho, mas também perigoso, pois o dinheiro se torna um alvo tentador para os ladrões.
As autoridades de nível mais baixo e os empresários estão ainda mais assustados do que a liderança e alguns dizem que a economia do Irã já está à beira do colapso.
Os empresários iranianos viram a situação se agravando e foram se adaptando à realidade, disse um analista econômico, que pediu para não ser identificado para evitar problemas com o governo. "Mas o governo é lento e demasiado otimista em suas previsões", disse o analista. "Agora, eles estão começando a sentir a força total do que foi lançado sobre eles."
As sanções introduziram inúmeras distorções na vida cotidiana. Por exemplo, o Irã está autorizado a usar o dinheiro que ganha com a venda do petróleo apenas para comprar produtos do país adquirente. Como resultado, os supermercados iranianos estão cheios de produtos chineses de baixa qualidade, enquanto vários projetos de infraestrutura estão sendo construídos por empresas chinesas, em vez de iranianas.
"Nós não temos um programa de troca de petróleo por alimentos, como o Iraque", disse o analista. "Nós temos um programa petróleo-por-lixo."
Um economista, Mohammad Sadegh Jahansefat, disse que o governo havia se tornado refém dos países que se beneficiam das sanções, particularmente a China, que ele chamou de o pior parceiro comercial que o Irã já teve.
"A China monopolizou o nosso comércio. Estamos subsidiando os produtos deles, que somos forçados a importar", disse ele e acrescentou, sobre o setor de energia: "Eles destroem a produção local e deixam os projetos de petróleo e gás inacabados, de modo que ninguém possa trabalhar com eles".
As dificuldades financeiras do Estado são especialmente duras para os empreiteiros e seus trabalhadores. Akbar, 50, um empreiteiro de Isfahan, disse que uma grande fundação estatal não pagou os US$ 40 mil que lhe devia. "Eu nunca vou voltar a trabalhar para o Estado", disse ele. "Nós simplesmente não podemos confiar que eles vão pagar."
As famílias de empresários iranianos estão acostumadas a lidar com a montanha-russa da economia do Irã. Paciência é chave, disse Ali Khalilpour, 34, que opera uma cadeia de lojas de vestuário de esportes com o pai. "Nós demitimos muitas pessoas, perdemos dezenas de lojas e muito dinheiro, após o colapso da moeda nacional", disse ele.
Houve momentos em que o rial caía 20% em poucos meses, enquanto os Khalilpour deviam o equivalente a milhões de dólares em produtos de marcas esportivas ocidentais em Dubai. Eles foram forçados a absorver as perdas.
"Isso é difícil, mas algumas coisas estão além do nosso controle", disse Khalilpour, antes de encontrar uma fresta de esperança. A maioria de seus concorrentes faliu, deixando o campo livre para a sua família.
"Temos fé que os bons tempos estão finalmente chegando a este país", disse ele. "Quando chegarem, vamos ser o maior player do mercado".
Tradutor: Deborah Weinberg 

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