17.mar.2013 - Peter Morrison/AP
Pai e filha se divertem durante desfile do dia de Saint Patrick, em Limerick (Irlanda)
O dia de Saint Patrick, comemorado no domingo (17), deve ter sido um pouco mais festivo que de costume na Irlanda. Após cinco anos de uma profunda crise econômica e dois anos e meio de um plano de resgate pelo FMI (Fundo Monetário Internacional) e pela UE (União Europeia), o país parece estar se desafogando. No dia 13 de março, ele voltou para os mercados financeiros ao emitir, pela primeira vez desde o plano de ajuda, um bônus de dez anos, referência no assunto.
O sucesso foi nítido: os investidores internacionais pediram 2,5 vezes mais que os 5 bilhões de euros emitidos. A taxa de juros, a 4,15%, era inferior àquelas praticadas atualmente pela Itália e pela Espanha. Michael Noonan, o ministro das Finanças, normalmente muito cauteloso, agora pode proclamar: "Esse sucesso significa que o Estado está no caminho para sair do programa FMI-União Europeia no final do ano, como previsto".
De fato, parece bastante provável que eles consigam sair do plano de resgate de 67,5 bilhões de euros, assinado em novembro de 2010 por três anos. A maior parte dos economistas prevê isso. Somente um deslize de toda a zona do euro (eleições italianas, problema cipriota) poderia fazer com que as taxas irlandesas disparassem novamente.
No entanto, já dizer que a Irlanda é uma história de sucesso seria enganoso. Talvez seja o caso algum dia, mas, por enquanto, claramente é muito cedo para afirmar. O antigo "tigre celta" está longe de ter retomado seu dinamismo econômico. Para os irlandeses, que passaram por oito orçamentos de rigor em cinco anos, a abertura do mercado da dívida não muda nada. O desemprego, apesar de uma ligeira queda, permanece acima de 14% --três vezes mais que antes da crise. E centenas de milhares de habitantes continuam assoberbados por um empréstimo imobiliário que jamais conseguirão pagar.
Pior: nada deverá mudar por muitos anos ainda. Na melhor das hipóteses, a austeridade deve continuar até 2015. Em seguida, com uma dívida em torno de 120% do PIB, não se cogita aumentar os gastos públicos, mas simplesmente parar de reduzi-los.
A economia irlandesa continua sendo uma história de copo meio cheio ou meio vazio. Os cortes orçamentários permitiram que o país reconquistasse competitividade: os salários do funcionalismo diminuíram cerca de 15%, os do setor privado foram congelados, os preços dos imóveis caíram pela metade... As grandes multinacionais que exportam estão lucrando muito com isso. Para elas, encontrar pontos está mais barato, contratar tem sido mais fácil e menos custoso, sem contar que a tributação para as empresas continua imbatível, em 12,5%.
O problema é que a mesma política asfixia a economia interna, que representa 80% do PIB. A demanda doméstica se retraiu em um quarto (!) desde o início da crise e continua a recuar. Os preços dos imóveis ainda estão baixando, apesar das recorrentes previsões de que o fim está próximo.
Então, é verdade, a economia não está mais em recessão. Mas, com somente 1% de crescimento em 2012, ela está longe de voltar ao que era. Até Michael Noonan reconhece: "Existe demanda interna suficiente? Não. Mas está se estabilizando".
David Begg, secretário-geral da confederação sindical ICTU, não esconde um certo fatalismo. "A doença econômica estava em uma fase aguda; acabou, agora estamos em uma fase crônica", afirma. "As pessoas pensam que é uma dor passageira e que vai passar. Infelizmente não é o que acontece."
Será que pelo menos esse sacrifício tem dado seus frutos, do ponto de vista orçamentário? Sim, mas lentamente: o déficit do Estado passou de 12% do PIB em 2010 (32%, contando com o plano de salvamento dos bancos) para os 7,3% previstos este ano. Mas esse continua sendo o nível mais elevado da zona do euro, superior ao da Grécia.
Outra fonte de preocupação: os bancos. A crise irlandesa veio, sobretudo, de seus estabelecimentos financeiros, que o Estado resgatou diversas vezes. No total, ele injetou 64 bilhões de euros --ou seja, 40% do PIB. Hoje, os bancos parecem estabilizados, mas ainda possuem inúmeros clientes incapazes de pagar suas dívidas. Grande parte dessas dívidas incobráveis não foram anuladas. Consequentemente, não está descartado um novo deslize bancário, o que aniquilaria imediatamente todos os esforços realizados pelos contribuintes.
Então, como entender esse novo entusiasmo dos investidores pela Irlanda? Há duas respostas. De um lado, a Irlanda de fato fez progressos econômicos, apesar dos muitos limites que acabamos de expor. De outro, e isso é essencial, o governo operou uma excelente comunicação junto aos mercados. Sua técnica é prometer pouco, mas realizar mais. Ao contrário da Grécia, que teve de rever inúmeras vezes seu plano de recuperação das finanças públicas, a Irlanda está se atendo a seu projeto inicial e está se saindo até melhor que o previsto. Os mercados, que não gostam de surpresas, ficaram tranquilizados. A isso se soma um discurso político que nunca questionou a austeridade.
A possível saída da Irlanda do plano de ajuda no final do ano deve ser comemorada. Mas esse é só um primeiro passo. Para os irlandeses, levará anos até que a melhora seja realmente sentida na prática.
Tradutor: Lana Lim
Pai e filha se divertem durante desfile do dia de Saint Patrick, em Limerick (Irlanda)
O dia de Saint Patrick, comemorado no domingo (17), deve ter sido um pouco mais festivo que de costume na Irlanda. Após cinco anos de uma profunda crise econômica e dois anos e meio de um plano de resgate pelo FMI (Fundo Monetário Internacional) e pela UE (União Europeia), o país parece estar se desafogando. No dia 13 de março, ele voltou para os mercados financeiros ao emitir, pela primeira vez desde o plano de ajuda, um bônus de dez anos, referência no assunto.
O sucesso foi nítido: os investidores internacionais pediram 2,5 vezes mais que os 5 bilhões de euros emitidos. A taxa de juros, a 4,15%, era inferior àquelas praticadas atualmente pela Itália e pela Espanha. Michael Noonan, o ministro das Finanças, normalmente muito cauteloso, agora pode proclamar: "Esse sucesso significa que o Estado está no caminho para sair do programa FMI-União Europeia no final do ano, como previsto".
De fato, parece bastante provável que eles consigam sair do plano de resgate de 67,5 bilhões de euros, assinado em novembro de 2010 por três anos. A maior parte dos economistas prevê isso. Somente um deslize de toda a zona do euro (eleições italianas, problema cipriota) poderia fazer com que as taxas irlandesas disparassem novamente.
No entanto, já dizer que a Irlanda é uma história de sucesso seria enganoso. Talvez seja o caso algum dia, mas, por enquanto, claramente é muito cedo para afirmar. O antigo "tigre celta" está longe de ter retomado seu dinamismo econômico. Para os irlandeses, que passaram por oito orçamentos de rigor em cinco anos, a abertura do mercado da dívida não muda nada. O desemprego, apesar de uma ligeira queda, permanece acima de 14% --três vezes mais que antes da crise. E centenas de milhares de habitantes continuam assoberbados por um empréstimo imobiliário que jamais conseguirão pagar.
Pior: nada deverá mudar por muitos anos ainda. Na melhor das hipóteses, a austeridade deve continuar até 2015. Em seguida, com uma dívida em torno de 120% do PIB, não se cogita aumentar os gastos públicos, mas simplesmente parar de reduzi-los.
A economia irlandesa continua sendo uma história de copo meio cheio ou meio vazio. Os cortes orçamentários permitiram que o país reconquistasse competitividade: os salários do funcionalismo diminuíram cerca de 15%, os do setor privado foram congelados, os preços dos imóveis caíram pela metade... As grandes multinacionais que exportam estão lucrando muito com isso. Para elas, encontrar pontos está mais barato, contratar tem sido mais fácil e menos custoso, sem contar que a tributação para as empresas continua imbatível, em 12,5%.
O problema é que a mesma política asfixia a economia interna, que representa 80% do PIB. A demanda doméstica se retraiu em um quarto (!) desde o início da crise e continua a recuar. Os preços dos imóveis ainda estão baixando, apesar das recorrentes previsões de que o fim está próximo.
Então, é verdade, a economia não está mais em recessão. Mas, com somente 1% de crescimento em 2012, ela está longe de voltar ao que era. Até Michael Noonan reconhece: "Existe demanda interna suficiente? Não. Mas está se estabilizando".
David Begg, secretário-geral da confederação sindical ICTU, não esconde um certo fatalismo. "A doença econômica estava em uma fase aguda; acabou, agora estamos em uma fase crônica", afirma. "As pessoas pensam que é uma dor passageira e que vai passar. Infelizmente não é o que acontece."
Será que pelo menos esse sacrifício tem dado seus frutos, do ponto de vista orçamentário? Sim, mas lentamente: o déficit do Estado passou de 12% do PIB em 2010 (32%, contando com o plano de salvamento dos bancos) para os 7,3% previstos este ano. Mas esse continua sendo o nível mais elevado da zona do euro, superior ao da Grécia.
Outra fonte de preocupação: os bancos. A crise irlandesa veio, sobretudo, de seus estabelecimentos financeiros, que o Estado resgatou diversas vezes. No total, ele injetou 64 bilhões de euros --ou seja, 40% do PIB. Hoje, os bancos parecem estabilizados, mas ainda possuem inúmeros clientes incapazes de pagar suas dívidas. Grande parte dessas dívidas incobráveis não foram anuladas. Consequentemente, não está descartado um novo deslize bancário, o que aniquilaria imediatamente todos os esforços realizados pelos contribuintes.
Então, como entender esse novo entusiasmo dos investidores pela Irlanda? Há duas respostas. De um lado, a Irlanda de fato fez progressos econômicos, apesar dos muitos limites que acabamos de expor. De outro, e isso é essencial, o governo operou uma excelente comunicação junto aos mercados. Sua técnica é prometer pouco, mas realizar mais. Ao contrário da Grécia, que teve de rever inúmeras vezes seu plano de recuperação das finanças públicas, a Irlanda está se atendo a seu projeto inicial e está se saindo até melhor que o previsto. Os mercados, que não gostam de surpresas, ficaram tranquilizados. A isso se soma um discurso político que nunca questionou a austeridade.
A possível saída da Irlanda do plano de ajuda no final do ano deve ser comemorada. Mas esse é só um primeiro passo. Para os irlandeses, levará anos até que a melhora seja realmente sentida na prática.
Tradutor: Lana Lim
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