Thomas Wieder - Le Monde
12.jan.2013 - Lionel Bonaventure/AFP
O presidente da França, François Hollande
É comum ouvirmos, inclusive de certos ministros, que a crescente impopularidade de François Hollande se deve a seu excessivo silêncio. A explicação é, ao mesmo tempo, insuficiente e inexata. Insuficiente porque negligencia um ponto essencial: o fato de que uma parte crescente de seus eleitores desaprova uma política que considera afastada demais das promessas de campanha. Inexata, pois o chefe do Estado, na verdade, fala muito. O que não quer dizer --e provavelmente esse é seu verdadeiro problema-- que ele seja suficientemente ouvido.
Consideremos a semana que passou: no espaço de oito dias, Hollande falou oito vezes: três discursos em Dijon, na segunda e na terça-feira (11 e 12); duas coletivas de imprensa paralelamente ao conselho europeu de Bruxelas, na quinta-feira (14); um discurso em Bordeaux, no sábado (16), durante a inauguração da ponte Jacques-Chaban-Delmas; um outro no dia seguinte, em Toulouse, em homenagem às vítimas de Mohamed Merah; por fim, uma breve fala na segunda-feira (18), no palácio do Eliseu, para celebrar a venda de 234 Airbus à companhia indonésia Lion Air.
Esses discursos, somados aos comunicados assinados por François Hollande e enviados todos os dias por sua assessoria de imprensa, desmentem a ideia de que os pronunciamentos presidenciais sejam raros. Pelo contrário: são abundantes, correm em fluxo quase contínuo, abordam todos os assuntos e, às vezes, passam a impressão de dispersão. Na verdade, tudo acontece como se o chefe do Estado, ao querer falar sobre muitas coisas, corresse o risco de não ser ouvido em nada.
Em sua defesa, é preciso reconhecer que é uma questão difícil. As instituições da Quinta República, através do papel que conferem ao presidente, fazem com que suas falas sejam mais esperadas que as de qualquer outro membro do Executivo. Só que essa expectativa foi duplamente reforçada nesses dez últimos anos: primeiro pelo fato de que o mandato passou de 7 para 5 anos, o que deslocou do primeiro-ministro para o presidente o centro de gravidade da política do país; segundo, por causa da maneira como Nicolas Sarkozy exerceu o poder, falando de tudo o tempo todo.
Mas, ao fazer isso, ele não teria caído em uma armadilha? Sua viagem recente a Dijon pode sugerir isso. Na tarde do primeiro dia, o discurso que ele fez no hall de uma empresa de biotecnologia foi breve demais e geral demais para reter as atenções. Por não ter havido nenhum anúncio da parte do presidente, logicamente foram os incidentes que marcaram sua visita a um bairro popular naquele dia que ocuparam as manchetes dos jornais.
No dia seguinte, seu discurso sobre os "bloqueios" da sociedade francesa, ainda que mais inovador, tampouco teve a repercussão que merecia. Dessa vez nada fora feito para destacá-lo, a bem dizer. Na noite da véspera, a comitiva do presidente havia minimizado a importância disso junto aos jornalistas. No mesmo dia, ao decidir pronunciar um segundo discurso, dessa vez sobre a descentralização, o presidente assumiu sozinho o risco de ver suas declarações da manhã sendo rapidamente esquecidas. Ainda mais em um universo midiático como o de hoje, dominado pelos canais e sites de notícias alimentados continuamente, onde qualquer nova informação expulsa quase que automaticamente a anterior.
Ainda que não o quisesse no início, François Hollande teve então de resolver ser mais falante que De Gaulle, Mitterrand ou Chirac. Mas nada o obriga, assim como seu antecessor, a falar tudo o tempo todo, o que para ele seria a melhor forma de tirar o valor de suas palavras.
Condenado a se manifestar, o chefe do Estado na verdade precisa tomar cuidado para não se dispersar e, pelo contrário, se concentrar no que é essencial hoje: sua estratégia para retomar o crescimento, diminuir o desemprego e reerguer o país. É somente insistindo nessa mensagem, inserindo-a num contexto que ele pode esperar refazer com os franceses o laço de confiança que se desintegrou ao longo dos meses.
Tradutor: Lana Lim
O presidente da França, François Hollande
É comum ouvirmos, inclusive de certos ministros, que a crescente impopularidade de François Hollande se deve a seu excessivo silêncio. A explicação é, ao mesmo tempo, insuficiente e inexata. Insuficiente porque negligencia um ponto essencial: o fato de que uma parte crescente de seus eleitores desaprova uma política que considera afastada demais das promessas de campanha. Inexata, pois o chefe do Estado, na verdade, fala muito. O que não quer dizer --e provavelmente esse é seu verdadeiro problema-- que ele seja suficientemente ouvido.
Consideremos a semana que passou: no espaço de oito dias, Hollande falou oito vezes: três discursos em Dijon, na segunda e na terça-feira (11 e 12); duas coletivas de imprensa paralelamente ao conselho europeu de Bruxelas, na quinta-feira (14); um discurso em Bordeaux, no sábado (16), durante a inauguração da ponte Jacques-Chaban-Delmas; um outro no dia seguinte, em Toulouse, em homenagem às vítimas de Mohamed Merah; por fim, uma breve fala na segunda-feira (18), no palácio do Eliseu, para celebrar a venda de 234 Airbus à companhia indonésia Lion Air.
Esses discursos, somados aos comunicados assinados por François Hollande e enviados todos os dias por sua assessoria de imprensa, desmentem a ideia de que os pronunciamentos presidenciais sejam raros. Pelo contrário: são abundantes, correm em fluxo quase contínuo, abordam todos os assuntos e, às vezes, passam a impressão de dispersão. Na verdade, tudo acontece como se o chefe do Estado, ao querer falar sobre muitas coisas, corresse o risco de não ser ouvido em nada.
Em sua defesa, é preciso reconhecer que é uma questão difícil. As instituições da Quinta República, através do papel que conferem ao presidente, fazem com que suas falas sejam mais esperadas que as de qualquer outro membro do Executivo. Só que essa expectativa foi duplamente reforçada nesses dez últimos anos: primeiro pelo fato de que o mandato passou de 7 para 5 anos, o que deslocou do primeiro-ministro para o presidente o centro de gravidade da política do país; segundo, por causa da maneira como Nicolas Sarkozy exerceu o poder, falando de tudo o tempo todo.
Armadilha?
No início de seu mandato, Hollande pensou que podia escapar desse processo. Ele logo constatou que não conseguiria. Primeiro porque os franceses estão tão acostumados a ouvir seu presidente que, agora, consideram qualquer silêncio prolongado de sua parte como uma ausência. Segundo porque Jean-Marc Ayrault, que o chefe do Estado gostaria que falasse mais, praticamente não exerce nenhuma função oratória. Então o presidente decidiu ocupar o primeiro plano com mais frequência do que havia imaginado.Mas, ao fazer isso, ele não teria caído em uma armadilha? Sua viagem recente a Dijon pode sugerir isso. Na tarde do primeiro dia, o discurso que ele fez no hall de uma empresa de biotecnologia foi breve demais e geral demais para reter as atenções. Por não ter havido nenhum anúncio da parte do presidente, logicamente foram os incidentes que marcaram sua visita a um bairro popular naquele dia que ocuparam as manchetes dos jornais.
No dia seguinte, seu discurso sobre os "bloqueios" da sociedade francesa, ainda que mais inovador, tampouco teve a repercussão que merecia. Dessa vez nada fora feito para destacá-lo, a bem dizer. Na noite da véspera, a comitiva do presidente havia minimizado a importância disso junto aos jornalistas. No mesmo dia, ao decidir pronunciar um segundo discurso, dessa vez sobre a descentralização, o presidente assumiu sozinho o risco de ver suas declarações da manhã sendo rapidamente esquecidas. Ainda mais em um universo midiático como o de hoje, dominado pelos canais e sites de notícias alimentados continuamente, onde qualquer nova informação expulsa quase que automaticamente a anterior.
Ainda que não o quisesse no início, François Hollande teve então de resolver ser mais falante que De Gaulle, Mitterrand ou Chirac. Mas nada o obriga, assim como seu antecessor, a falar tudo o tempo todo, o que para ele seria a melhor forma de tirar o valor de suas palavras.
Condenado a se manifestar, o chefe do Estado na verdade precisa tomar cuidado para não se dispersar e, pelo contrário, se concentrar no que é essencial hoje: sua estratégia para retomar o crescimento, diminuir o desemprego e reerguer o país. É somente insistindo nessa mensagem, inserindo-a num contexto que ele pode esperar refazer com os franceses o laço de confiança que se desintegrou ao longo dos meses.
Tradutor: Lana Lim
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