domingo, 17 de março de 2013

Uma trapalhada em Cingapura
Elio Gaspari - FSP
Antonio Patriota deverá explicar quem mandou sugerir à Jurong que saísse do caminho de Eike e André Esteves
Está sobre a mesa do chanceler Antonio Patriota uma daquelas encrencas que caem nas costas dos diplomatas e acabam em fritura quando eles ouvem os poderosos do momento. O senador Ricardo Ferraço denunciou que o embaixador do Brasil em Cingapura, Luís Fernando Serra, procurou a direção da empresa Jurong para que ela transferisse seu estaleiro do município capixaba de Aracruz para o Porto do Açu, no norte do Rio de Janeiro. Esse empreendimento pertence ao empresário Eike Batista, que há pouco se associou ao banqueiro André Esteves, do BTG Pactual. A gestão de Cingapura foi confirmada pelos diretores da Jurong no Brasil.
Como se fosse uma brincadeira de cubos, um estaleiro que está com 15% de suas obras feitas, com investimentos previstos para R$ 500 milhões e encomendas assinadas, seria transferido total ou parcialmente para outro lugar. No fundo, trata-se de repassar as encomendas e de absorver um concorrente. Dificilmente uma ideia dessas sairia da cabeça do embaixador. Segundo o senador Ferraço, num contato que teve com Nery De Rossi, secretário do Desenvolvimento do governo capixaba, o diplomata informou que a gestão foi solicitada pelos ministros Guido Mantega, da Fazenda, e Fernando Pimentel, do Desenvolvimento. Os dois negaram que tenham patrocinado a proposta.
Se os ministros pediram a gestão, deveriam tê-lo feito formalmente. Nesse caso, estaria documentada. O que levaria um diplomata lotado em Cingapura a sugerir a transferência de um empreendimento para a carteira de interesses de Batista e Esteves? Não é da tradição do Itamaraty esse tipo de ligeireza. Pelo contrário, em 1980 o embaixador do Brasil no Chile, Raul de Vincenzi, provocou uma situação de barata-voa no Planalto quando um general muy amigo de Augusto Pinochet disse-lhe que a transação de uma hidrelétrica já tinha sido acertada em escalões superiores brasileiros. Quando De Vincenzi narrou o encontro num telegrama oficial e pediu instruções, os hierarcas disseram que nada tinham a ver com a história.
Ricardo Ferraço preside a Comissão de Relações Exteriores do Senado e pediu formalmente a Patriota que explique a história. A ver.

Nenhum comentário: