terça-feira, 19 de março de 2013

Mídia corta recurso e perde público nos EUA
Estudo aponta queda no investimento em reportagem afasta leitor e telespectador de publicações e telejornais
LUCIANA COELHO - FSP
O corte de investimentos em reportagem nos Estados Unidos está afastando o público do noticiário, seja ele na TV, nas revistas, nos jornais ou nos sites, conclui um estudo anual publicado ontem pelo Projeto de Excelência em Jornalismo do Centro de Pesquisa Pew.
Segundo o relatório "O Estado da Mídia em 2013", as Redações de jornais no país cortaram seus quadros de funcionários em 30% entre 2000 e 2012. É a primeira vez, desde 1978, que os jornais dos EUA têm menos que 40 mil profissionais, estima o Pew.
As redes de TV também diluíram o investimento em reportagens aprofundadas.
Há quatro anos, esse tipo de material ocupava metade do tempo na rede CNN, um dos principais canais noticiosos do país. Hoje, de cada quatro minutos de notícias, só um tem esse perfil.
A queda de investimentos refletiu na qualidade do conteúdo e não passou despercebida ao público, alerta o Pew.
"Tudo isso resulta em uma indústria [de mídia] que tem menos pessoal e menos preparação para descobrir notícias novas, cavar mais a fundo aquelas que já emergiram ou questionar a informação que entrega", diz o relatório.
"Nossa pesquisa de opinião para esse relatório mostra que o público nota: quase um terço dos participantes, ou 31%, desistiu de acompanhar um veículo porque ele não fornecia mais as informações às quais as pessoas se acostumaram a receber."
São os mais velhos que mais abandonam o noticiário, mostra a enquete para a qual foram ouvidas 2.009 pessoas e que tem margem de erro de 2,5 pontos percentuais: entre aqueles acima de 65 anos, o índice chega a 36%, ante 27% dos de até 29.
'PAYWALL'
O estudo mostra, porém, que parte dos conglomerados elevou o lucro em 2012.
A melhora veio sobretudo da implementação do "paywall poroso" (a cobrança para ler mais do que um certo número de textos por mês, como faz a Folha), adotada por 450 jornais no país.
Mas os mais bem-sucedidos, ressalta o Pew, são os que mantiveram o investimento na equipe, como o "New York Times".
A má qualidade não é o único problema visto pelo Pew. O estudo questiona a credibilidade de Redações com menos investimentos, enquanto profissionais demitidos de jornais e TVs se tornam cada vez mais cobiçados por empresas, políticos e outros grupos interessados em promover seu nome e ideias.
O esforço de instituições políticas e corporativas para pôr sua mensagem no noticiário não é novo", pondera o relatório.
"O que mudou é que as organizações jornalísticas são menos capazes de questionar o que vem delas."
O exemplo mais agudo citado pelo Pew é o da revista "Forbes", que usa o serviço da agência Narrative Science para produzir textos por meio de algoritmos (fórmulas matemáticas ou lógicas).
Nesse modelo, um programa de computador é alimentado por dados preestabelecidos por um editor e os organiza, sozinho, em forma de narrativa. Sem repórteres.

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