terça-feira, 19 de março de 2013

"Cidade inteligente" espanhola tem planejamento urbano digital
Marco Evers - Der Spiegel
Cidades do mundo todo querem se tornar "cidades inteligentes", mas em Santander, Espanha, este objetivo já se tornou realidade. Milhares de sensores ajudam a alertar os moradores sobre engarrafamentos, regulam a rega nos parques da cidade e apagam as luzes da rua.
Várias cidades de todo estabeleceram o mesmo objetivo. Amesterdã, Barcelona, São Paulo, Dubai, Helsinki, San Diego, Estocolmo, Nanjing, Viena, Yokohama – todas compartilham a aspiração de se tornarem "cidades inteligentes".
Isso soa como um objetivo atraente, mas quando os planejadores urbanos tentam explicar mais precisamente como planejam levar suas cidades para o futuro digital, as suas respostas são menos convincentes, e cada um propõe um plano diferente. Apesar dos muitos simpósios que já foram realizados sobre o assunto, não há consenso sobre como perseguir esta ambição.
Essencialmente, a única coisa com que todos concordam é que as cidades "inteligentes" empregarão sensores, computadores e smartphones, e implementarão novas formas de governo, tornando os processos administrativos mais transparentes do que nunca. A idéia é que a tecnologia digital vai ajudar a tornar a vida urbana mais limpa, mais sustentável e mais agradável. E, é claro, que ela também deve aumentar a prosperidade.
Em meio a essa incerteza, uma velha cidade portuária espanhola na costa do Atlântico passou à frente das cidades que aspiram ser inteligentes. Apesar de suas finanças precárias, a cidade de Santander, local de nascimento do grande banco de mesmo nome, já é bastante inteligente.

Experimento Cidade Inteligente

"Este é o futuro", declara orgulhosamente o prefeito Iñigo de la Serna, 42 anos, do conservador Partido Popular. "Esta é a única maneira de mudar as coisas", disse ele, acrescentando que todas as grandes cidades eventualmente terão que fazer o mesmo. "Não é uma opção, é algo obrigatório."
As águas do oceano são duras conosco na primavera. Grandes hotéis e um cassino luxuoso se enfileiram de frente para a praia, onde surfistas com roupas de neoprene se lançam às ondas de metros de altura. Na Espanha, Santander tinha uma reputação de glamour desde que o Rei Alfonso 13º escolheu a cidade como sua residência de verão quase 100 anos atrás.
Ultimamente, porém, visitantes curiosos têm chegado ali por outra razão. Alguns por causa de grandes empresas como o Google, a Microsoft ou a IBM. Recentemente, uma delegação chegou do Japão e outra de Wuxi, na China, uma cidade com uma população de vários milhões.
Todos esses visitantes vêem Santander como um laboratório experimental vivo, uma cidade que – com sua população de cerca de 180 mil – não é nem muito grande nem muito pequena para funcionar como um experimento de cidade inteligente.
Luis Muñoz, 48, é professor de TI da Universidade de Cantábria. Ele recebeu quase 9 milhões de euros (US$ 11,7 milhões) em verba para pesquisa, a maior parte da UE, para desenvolver um protótipo de cidade inteligente. Muñoz instalou permanentemente cerca de 10 mil sensores pelo centro de Santander, ao longo de uma área de 6 quilômetros quadrados. Os sensores estão escondidos dentro de pequenas caixas cinzas fixas nos postes de luz e paredes de edifícios. Alguns estão até mesmo enterrados sob o asfalto de estacionamentos.

Sensores trabalhando

Dia e sai dia, esses sensores mensuram praticamente quase tudo o que pode ser mensurável: luz, pressão, temperatura, umidade, até os movimentos de carros e pessoas.
A cada dois minutos, eles transmitem seus dados para o laboratório de Muñoz na universidade, o ponto central que coleta os fluxos de dados de toda a cidade. Cada ônibus transmite sua posição, quilometragem e velocidade, bem como dados de seu ambiente, como os níveis de poluição de ozônio ou óxido nítrico. Táxis e carros de polícia fazem o mesmo. Até as pessoas de Santander podem escolher se tornarem sensores humanos. Basta baixar um aplicativo especial para telefones celulares com GPS.
Um computador central compila os dados num grande quadro que é constantemente atualizado. Santander é uma cidade digital, e tudo aqui é registrado. O sistema sabe exatamente onde os engarrafamentos são e onde o ar está ruim. Mapas de ruído e ozônio mostram que partes da cidade estão ultrapassando os limites da UE. As coisas podem ficar particularmente interessantes quando uma rua principal fica bloqueada por causa de um acidente. Muñoz pode observar em tempo real como o incidente afeta o tráfego no resto da cidade.
No passado, o prefeito Serna chegou a enviar patrulhas noturnas para verificar se havia lâmpadas de rua quebradas na cidade. Agora, o computador Muñoz informa à prefeitura exatamente onde são necessárias novas lâmpadas. As lâmpadas podem até ajustar o seu brilho conforme necessário, reduzindo a luz quando não há ninguém na rua, e emitindo menos luz durante uma lua cheia do que numa noite chuvosa.
No Parque de las Llamas, em breve haverá sensores para ajudar a otimizar a quantidade de rega no parque, para evitar o desperdício de água. E a coleta de lixo eventualmente evitará viagens desnecessárias, porque sensores vão informar de antemão quais lixeiras precisam ser esvaziadas.

Acessando a informação

Todas estas coisas poupam algum dinheiro, mas ainda não tornam uma cidade particularmente inteligente. Uma cidade verdadeiramente inteligente é uma na qual o maior número possível de moradores pode acessar estas e outras informações sem esforço. O prefeito Serna tem um orgulho particular do novo aplicativo "Pulse of the City", que faz extamente isso, conectando os moradores de Santander aos fluxos de dados da cidade.
Por exemplo, alguém que espera no ponto de ônibus e quer saber quando o próximo ônibus vai chegar só precisa iniciar o aplicativo de smartphone e apontar o telefone para o ponto de ônibus. O telefone imediatamente mostra todas as linhas de ônibus que passam por aquele ponto, assim como os tempos de chegada. Apontar o telefone para a sala de concertos da cidade mostra a programação de eventos ao longo dos próximos dias e semanas. Um turista que aponte um smartphone na direção de uma fonte no centro da cidade, fica sabendo quando ela foi construída e por quem, enquanto abrir o aplicativo perto de um supermercado fornece informações sobre as atuais ofertas especiais.
No passado, moradores frustrados com buracos nas ruas do Santander telefonavam para a prefeitura da cidade ou escreviam uma carta. Agora basta abrir o aplicativo "Pulse of the City" e tirar uma foto do buraco. Com um clique, o aplicativo envia um relatório digital de danos, completo com dados de GPS, direto para a prefeitura.
De lá, um computador envia a informação tanto para os responsáveis pela parte técnica de correção do problema quanto para os que têm a responsabilidade política por ele – uma abordagem em duas vertentes que aparentemente aumenta a eficácia do sistema. Todos os dados são públicos, mas a pessoa que originalmente enviou a reclamação permanece anônima. Moradores da cidade e a imprensa local também pode usar o aplicativo para acompanhar quanto tempo leva para o dano ser reparado. A prefeitura, é claro, tenta atuar o mais rapidamente possível.
Os moradores de Santander têm usado o aplicativo para relatar mais de 500 problemas desde que o "Pulse of the City" foi lançado há cerca de cinco meses. "A fé das pessoas nesta tecnologia está crescendo", diz Serna. Em comparação, enviar um e-mail para a prefeitura de uma cidade alemã pode se parecer a jogar uma mensagem numa garrafa ao mar.

Publicando os dados

Depois disso, o prefeito Serna quer revelar os segredos da cidade. Muitos tipos de informações que antes eram confidenciais ou de difícil acesso serão agora tornadas públicas, incluindo dados estatísticos sobre as mudanças demográficas e os preços imobiliários. Em seguida, o prefeito quer criar um equivalente digital de uma praça pública. O aplicativo "Ideias para Todos" – algo como um Facebook, mas só para os moradores da cidade – vai conectar a prefeitura com seus habitantes. "Queremos criar uma nova relação de cooperação entre as pessoas e o governo da cidade", explica Serna.
O prefeito espera que esta avalanche de dados inspire os programadores a criar mais aplicativos para tornar Santander ainda mais inteligente. Até agora, não houve nenhuma resistência ao projeto. Nenhum dos sensores de Muñoz foram vítimas de vandalismo. Os motoristas de táxi da cidade temiam inicialmente que a prefeitura queria usar esses sensores para vigiar constantemente a cidade, mas esta preocupação, diz Serna, há muito tempo deu lugar ao orgulho de fazer parte de um projeto tão futurista, especialmente durante um período econômico difícil.
Esse espírito pioneiro aparentemente já está rendendo frutos. A empresa multinacional espanhola Ferrovial – proprietária, entre outras coisas, do aeroporto londrino de Heathrow – decidiu investir em Santander e vai construir um centro de pesquisa de cidade inteligente lá.
Tradutor: Eloise De Vylder

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