sábado, 23 de março de 2013

Nos EUA, republicanos se abrem para a imigração para seduzir latinos
Sylvain Cypel - Le Monde
Peter Morgan/AP


Aos poucos, o abalo político gerado no partido republicano nos Estados Unidos pela derrota de Mitt Romney, seu candidato nas eleições presidenciais, tem mudado algumas coisas em seu interior. O último sinal marcante foram as várias intervenções feitas desde meados de março pelo senador Rand Paul: discurso para a Câmara de Comércio hispano-americana em Washington, entrevista na TV, coletiva de imprensa nacional por telefone.
Filho de Ron Paul, o eterno candidato "libertário" das eleições primárias republicanas, e ele mesmo figura do Tea Party, Rand Paul se distanciou da posição republicana majoritária, que, desde o fracasso do presidente George Bush em iniciar uma reforma até a recente campanha presidencial de Romney, recusou qualquer tipo de regularização dos clandestinos nos Estados Unidos, argumentando que ela ofereceria "um bônus para a criminalidade".
Depois do senador republicano da Flórida Marco Rubio, outra personalidade conservadora em ascensão que promete um plano de acesso de certos imigrantes clandestinos à cidadania americana, Paul também mencionou a necessidade de mudança: "Sou um republicano conservador que diz que é preciso avançar na direção de uma reforma", disse ele. Sugerindo que as leis atuais permitem agir sem ter de legiferar novamente, ele promoveu a concessão de "vistos de trabalho" de longa duração aos "imigrantes que queiram trabalhar". Evitando pronunciar os termos "acesso à nacionalidade", ele ofereceu aos imigrantes irregulares --cujo número é estimado em 11 a 13 milhões de pessoas-- a perspectiva de uma "normalização" de seu status, permitindo-lhes que "saiam da clandestinidade para se tornarem membros contribuintes da sociedade".
Dessa forma, Paul se junta a um número crescente de republicanos que consideram urgente levar em conta as "mudanças demográficas" do país. Assim, senadores dos dois partidos reunidos em um "grupo dos oito" estão considerando um acesso à nacionalidade americana após 13 anos de presença ilegal sem histórico criminal. Diversas figuras ultraconservadoras criticaram a "reviravolta" inesperada de Rand Paul.
Mas suas declarações suscitaram poucas reações ultrajadas entre os representantes republicanos, ainda que muito direitistas. O presidente da Câmara, John Boehner, lembrou que a reforma da imigração constituía uma de suas "principais prioridades". E o senador republicano Lindsay Graham apontou a fragilidade do projeto de Rand Paul e daqueles que pretendem agir ao mesmo tempo em que evitam a questão da nacionalidade. "O presidente não assinará nenhuma lei que não inclua uma via de acesso à nacionalidade, e nenhum acesso à nacionalidade será garantido sem que um novo sistema migratório substitua o anterior."
Paul explicitou sua nova posição: "Os republicanos devem promover um novo futuro para os eleitores latinos [hispânicos], senão deveremos nos resignar de forma perene ao status de [partido] minoritário". Em novembro de 2012, 71% dos hispânicos votaram em Obama (mais que em 2008), e somente 27% deles preferiram Romney. O presidente em final de mandato venceu em todas as grandes categorias de população em crescimento numérico, sendo que o voto hispânico foi o exemplo principal.
Dez dias após a reeleição de Barack Obama, o governador de Nova Jersey, Chris Christie, ao ser questionado sobre a razão da derrota de Romney, retrucou que era "simples". "Foi porque Obama recebeu mais votos." Ele disse que, em suma, você não pode fazer inimizade entre os hispânicos, os negros, as mulheres, os homossexuais, os jovens e os velhos e ainda esperar vencer a eleição. Para ganhar, é preciso "unir, não dividir". A mesma ideia emerge de um relatório de auditoria independente encomendado pela direção republicana após a derrota e publicado na segunda-feira (18).
Constatando que o Partido "está se marginalizando" em nível federal e que ele se tornou "especialista na maneira de fornecer um suporte ideológico às pessoas de mente mais estreita", esse relatório recomenda que seja rejuvenescido o quadro do Partido, que apresente mais mulheres como candidatas em diferentes eleições e que, sobretudo, multiplique em todos os escalões os porta-vozes oriundos de minorias. Em 100 páginas, a palavra "hispânico" aparece nada menos que 99 vezes.
Tradutor: Lana Lim

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