Sebastian Fischer - Der Spiegel
20.mar.2003 - Ramzi Haidar/AFP
Bagdá é atacada por míssil no dia da invasão do Iraque pelos Estados Unidos e Inglaterra, que acusavam o país do Oriente Médio de ter armas químicas
Passada uma década, pesquisas sugerem que a maioria dos americanos vê a invasão ao Iraque em 2003 como um erro. Certa ou errada, a guerra influenciou enormemente como os Estados Unidos veem a si mesmos, como são vistos e como o país conduz a si mesmo no palco global.
Os Estados Unidos lutaram no Iraque por nove anos. Com exceção da guerra no Afeganistão, foi o mais longo engajamento em combate americano: mais longo do que a Guerra Civil Americana, as duas Guerras Mundiais, a Guerra da Coreia e a Guerra do Vietnã. Qualquer país que entra em uma guerra sai dela mudado. É inevitável que haja um antes e um depois. Há os mortos, os feridos e os sobreviventes.
Mas isso não é tudo. Há guerras que são justas e necessárias, como a luta dos Estados Unidos contra a Alemanha nazista. E há guerras que são sem sentido e erradas, como a guerra contra o Iraque. A sociedade, os políticos e os militares tiraram lições de ambas as guerras. Eles reconhecem e apreciam essas lições em graus diversos, independentemente de estarem certos ou errados. A guerra transforma uma nação.
Bruce Ridel, um ex-alto funcionário da CIA e consultor do presidente, vê assim a transição: "A guerra no Iraque elegeu Barack Obama e transformou a política externa americana. Há um consenso nacional de que foi uma guerra estúpida, que os custos foram enormes e que foi um dos maiores erros do país". A sombra dessa guerra, ele continua, "tem enorme peso" nas posições adotadas agora pelos Estados Unidos em relação a Irã, Síria e Líbia. O legado da guerra "perseguirá a América por anos".
Há dez anos, em 19 de março de 2003, o então presidente George W. Bush anunciou o início da guerra, dizendo que os Estados Unidos "não aceitarão nenhum resultado que não a vitória". Oito anos e nove meses depois, em 18 de dezembro de 2011, os últimos soldados americanos foram retirados do Iraque. O presidente Barack Obama declarou: "A maré da guerra está recuando."
O que resta da guerra? Como ela mudou os Estados Unidos e os americanos? E como ela alterou as políticas americanas? Aqui estão dez lições do 10º aniversário do lançamento das operações de combate contra o Iraque:
1. Foi uma "guerra estúpida"
A frase vem de Barack Obama. No final de 2002, Obama, então senador pelo Estado de Illinois, disse para uma multidão de pessoas que protestava contra a invasão iminente ao Iraque: "Eu não sou contrário a todas as guerras. Eu sou contrário a guerras estúpidas". Um total de 1,5 milhão de soldados americanos serviu no Iraque. Estima-se que um terço deles sofra de distúrbio de estresse pós-traumático. Mais de 30 mil deles foram feridos. E 4.422 morreram. Qual foi o sentido? Em janeiro de 2002, o presidente George W. Bush declarou: "Os Estados Unidos da América não permitirão que os regimes mais perigosos do mundo nos ameacem com as armas mais destrutivas do mundo".
Em 5 de fevereiro de 2003, o então secretário de Estado, Colin Powell, sentou-se perante o Conselho de Segurança da ONU e assegurou aos seus membros (e ao mundo): "Não há dúvida de que Saddam Hussein tem armas biológicas e a capacidade de produzir rapidamente muitas mais". Mas as supostas armas de destruição em massa do ditador nunca foram encontradas. Em sua biografia de 2006, Powell caracterizou sua apresentação na ONU como uma "mancha" em seu histórico. Hoje, muitos americanos são críticos da guerra. Uma pesquisa realizada no início de janeiro por YouGov apontou que 52% dos americanos acham que a invasão ao Iraque foi um erro, enquanto apenas 31% ainda dizem acreditar que foi a coisa certa a ser feita.
2. A guerra manchou a imagem dos Estados Unidos
A invasão americana ao Iraque isolou o país no mundo. As políticas do presidente Bush passaram a ser vistas com maior ceticismo no Ocidente e criaram novos inimigos no mundo árabe. Ao resumir o dano moral que a guerra infligiu aos Estados Unidos, a "Spiegel" escreveu: "Para essa guerra, os Estados Unidos violaram a lei internacional, difamaram aliados e tornaram a ONU objeto de escárnio". O escândalo de tortura em Abu Ghraib, uma prisão no oeste de Bagdá, causou um dano duradouro à reputação moral da orgulhosa democracia. Os soldados americanos viam a si mesmos como libertadores que revelavam as violações de direitos humanos do ditador. Mas eles eram vistos como uma força de ocupação, como uma potência que lançou o país no caos e em uma guerra civil que custou mais de 100 mil vidas iraquianas.
3. A guerra desacreditou a CIA
Sob pressão do governo Bush, a agência de inteligência estrangeira americana forneceu as supostas provas de que o Iraque possuía armas de destruição em massa. Quando Colin Powell compareceu perante a ONU e colocou em jogo sua credibilidade, o então diretor da CIA, George Tenet, estava sentado atrás dele. Em 2011, Rafid Ahmed Alwan al-Janabi, codenome "Curveball" (bola com efeito), que forneceu o depoimento chave para a CIA, revelou que mentiu e forneceu informação falsa de propósito sobre as armas biológicas do Iraque. "Eles me deram essa chance", disse Al-Janabi ao jornal "The Guardian". "Eu tinha a chance de fabricar algo para derrubar o regime."
4. A guerra dividiu o país
Um dos motivos para democratas e republicanos em Washington terem se tornado rivais tão amargos pode ser rastreado às suas posições conflitantes a respeito da guerra. Os democratas deram, inicialmente, apoio a Bush, mas posteriormente se sentiram enganados. O enorme grau de antagonismo residual veio à tona recentemente, em batalha em torno de Chuck Hagel, que foi indicado por Obama como seu secretário da Defesa. Hagel, um republicano, chamou em 2007 o aumento de tropas no Iraque de "o erro de política externa mais perigoso deste país desde o Vietnã". Seus companheiros republicanos não esqueceram o que ele disse --e tentaram bloquear sua nomeação por semanas.
5. A guerra levou à vitória de Obama na eleição presidencial
Ele podia carecer de experiência, mas, durante as primárias democratas de 2008, Barack Obama contava com uma vantagem clara: diferente de sua forte adversária, Hilary Clinton, ele nunca votou a favor da invasão ao Iraque. De fato, ele podia até mesmo apontar para sua declaração em 2002 de que ela seria uma "guerra estúpida". Em um debate pela televisão realizado em Cleveland em fevereiro de 2008, Obama acusou Hillary Clinton de "ter cedido a George Bush desde o início nesta questão crítica". Isso lhe rendeu alguns pontos entre os americanos cansados de guerra, primeiro junto aos democratas e, depois, durante a campanha presidencial contra o candidato republicano, o senador John McCain. Obama prometeu "colocar um fim na guerra no Iraque de modo responsável".
6. Foi a guerra dos neoconservadores
Por anos, a queda de Saddam Hussein era a meta dos neoconservadores que cercavam Paul Wolfowitz, Richard Perle e William Kristol, os padrinhos intelectuais do movimento. O vice-presidente Dick Cheney e o secretário de Defesa, Donald Rumsfeld, ajudaram a conquistar aceitação para as fantasias neoconservadoras a respeito do uso das forças armadas para promover a democracia ao redor do mundo. Os falcões que cercavam Bush viram os ataques terroristas do 11 de Setembro como algo que legitimava um ataque contra o Iraque --apesar de não haver nenhuma ligação entre o regime de Saddam Hussein e a Al Qaeda. De fato, em seu livro de memórias de 2004, "Contra Todos os Inimigos", o ex-czar de contraterrorismo de Bush, Richard A. Clarke escreveu que bombardear o Iraque após ser atacado pela Al Qaeda "seria como invadir o México depois que os japoneses nos atacaram em Pearl Harbor".
7. Os neoconservadores aprenderam pouco com a guerra
Os neoconservadores não desapareceram. William Kristol, por exemplo, o fundador da revista política conservadora "The Weekly Standard", continua elogiando a decisão de invadir o Iraque. E esses combatentes da liberdade há muito tempo têm outro alvo em vista: o Irã. Kristol zomba da ideia de que alguém possa acreditar que uma bomba nuclear iraniana possa ser controlada. Enquanto isso, Rumsfeld e Cheney publicaram seus livros de memórias, mas alguém teria dificuldade em encontrar qualquer indício de autocrítica. Nem as ideias deles sobre a realização de guerras preventivas foram abandonadas. Até certo ponto, o presidente Obama está fazendo a mesma coisa com sua guerra de aeronaves não tripuladas contra os terroristas: eliminando oponentes potenciais antes que tenham uma chance de atacar.
8. A guerra no Iraque abriu o caminho para a guerra secreta
A guerra no Iraque moldou as políticas americanas para guerras. Inicialmente, o então secretário da Defesa Donald Rumsfeld se concentrou em manter uma "pegada leve", ao empregar apenas 145 mil soldados americanos e aliados na invasão ao Iraque. O resultado foi o caos. Os soldados tiveram sucesso em conquistar o país, mas fracassaram em estabelecer a paz. Após a renúncia de Rumsfeld em novembro de 2006, o general David Petraeus implantou uma estratégia de contrainsurgência que envolvia o uso de mais soldados para proteção da população civil e coordenação da luta contra os insurgentes. A situação no Iraque se acalmou, e o recém eleito presidente Obama deixou a estratégia de contrainsurreição também ser usada no Afeganistão. Mas quando ela fracassou, Obama decidiu apostar na guerra secreta: ataques com aeronaves não tripuladas contra supostos terroristas e militantes no Afeganistão, Paquistão e Iêmen: o uso de unidades de combate de elite; e uma guerra contra as instalações nucleares do Irã.
9. A guerra moldou a posição dos Estados Unidos em relação à Primavera Árabe
Uma das lições mais importantes que Obama tirou da guerra no Iraque foi: não se deixe envolver em uma segunda guerra estúpida. Isso levou os Estados Unidos a se conterem durante os distúrbios apelidados de Primavera Árabe. No caso da Líbia, por exemplo, os Estados Unidos apenas apoiaram os rebeldes por um curto tempo com ataques aéreos e permitiram aos europeus liderarem a intervenção do Ocidente na guerra. Os conselheiros de Obama descreveram a política como "liderando da retaguarda". Os falcões do governo Bush ficaram atônitos. Em uma entrevista para a "Spiegel" em setembro de 2011, o ex-vice-presidente Dick Cheney criticou a política de Obama, dizendo que "deixar aos cuidados de outros (...) não é necessariamente uma boa forma de fazer as coisas". Em relação à guerra civil na Síria, Obama está enfrentando crescente pressão para ao menos permitir que os insurgentes recebam ajuda militar direta. Mas há um grande temor de que um envolvimento na Síria possa vir a se transformar em um segundo Iraque. "De fato, a Síria é gêmea do Iraque", alertou o colunista do "The New York Times", Thomas Friedman, em julho de 2012, "uma ditadura multisectária, governada pela minoria, que foi mantida unida por um punho de ferro sob a ideologia baathista".
10. Os efeitos da guerra estão impregnados no país
Homens e mulheres jovens com membros amputados não são uma visão rara nas ruas americanas. A guerra está por toda parte. Todo mundo conhece algum veterano, e muitos perderam parentes ou amigos no Iraque. Pessoas colocam adesivos ovais em seus carros que dizem "IRQ" (Iraque) com "I Served" (eu servi) em letras menores abaixo. Isso geralmente é um sinal de um orgulho desafiador, dado que os veteranos da guerra no Iraque costumam ser alvo de pena por terem servido em uma guerra travada pelos motivos errados, assim como seus pais após o Vietnã. Muitos veteranos estão tendo dificuldade para encontrar emprego, e a taxa de suicídio é alta. O país está perturbado e cansado de guerra. Muitos democratas e republicanos não querem ouvir falar de missões militares no exterior. Em vez disso, há um grande apoio à "construção de nação em casa".
Tradutor: George El Khouri Andolfato
Bagdá é atacada por míssil no dia da invasão do Iraque pelos Estados Unidos e Inglaterra, que acusavam o país do Oriente Médio de ter armas químicas
Passada uma década, pesquisas sugerem que a maioria dos americanos vê a invasão ao Iraque em 2003 como um erro. Certa ou errada, a guerra influenciou enormemente como os Estados Unidos veem a si mesmos, como são vistos e como o país conduz a si mesmo no palco global.
Os Estados Unidos lutaram no Iraque por nove anos. Com exceção da guerra no Afeganistão, foi o mais longo engajamento em combate americano: mais longo do que a Guerra Civil Americana, as duas Guerras Mundiais, a Guerra da Coreia e a Guerra do Vietnã. Qualquer país que entra em uma guerra sai dela mudado. É inevitável que haja um antes e um depois. Há os mortos, os feridos e os sobreviventes.
Mas isso não é tudo. Há guerras que são justas e necessárias, como a luta dos Estados Unidos contra a Alemanha nazista. E há guerras que são sem sentido e erradas, como a guerra contra o Iraque. A sociedade, os políticos e os militares tiraram lições de ambas as guerras. Eles reconhecem e apreciam essas lições em graus diversos, independentemente de estarem certos ou errados. A guerra transforma uma nação.
Bruce Ridel, um ex-alto funcionário da CIA e consultor do presidente, vê assim a transição: "A guerra no Iraque elegeu Barack Obama e transformou a política externa americana. Há um consenso nacional de que foi uma guerra estúpida, que os custos foram enormes e que foi um dos maiores erros do país". A sombra dessa guerra, ele continua, "tem enorme peso" nas posições adotadas agora pelos Estados Unidos em relação a Irã, Síria e Líbia. O legado da guerra "perseguirá a América por anos".
Há dez anos, em 19 de março de 2003, o então presidente George W. Bush anunciou o início da guerra, dizendo que os Estados Unidos "não aceitarão nenhum resultado que não a vitória". Oito anos e nove meses depois, em 18 de dezembro de 2011, os últimos soldados americanos foram retirados do Iraque. O presidente Barack Obama declarou: "A maré da guerra está recuando."
O que resta da guerra? Como ela mudou os Estados Unidos e os americanos? E como ela alterou as políticas americanas? Aqui estão dez lições do 10º aniversário do lançamento das operações de combate contra o Iraque:
1. Foi uma "guerra estúpida"
A frase vem de Barack Obama. No final de 2002, Obama, então senador pelo Estado de Illinois, disse para uma multidão de pessoas que protestava contra a invasão iminente ao Iraque: "Eu não sou contrário a todas as guerras. Eu sou contrário a guerras estúpidas". Um total de 1,5 milhão de soldados americanos serviu no Iraque. Estima-se que um terço deles sofra de distúrbio de estresse pós-traumático. Mais de 30 mil deles foram feridos. E 4.422 morreram. Qual foi o sentido? Em janeiro de 2002, o presidente George W. Bush declarou: "Os Estados Unidos da América não permitirão que os regimes mais perigosos do mundo nos ameacem com as armas mais destrutivas do mundo".
Em 5 de fevereiro de 2003, o então secretário de Estado, Colin Powell, sentou-se perante o Conselho de Segurança da ONU e assegurou aos seus membros (e ao mundo): "Não há dúvida de que Saddam Hussein tem armas biológicas e a capacidade de produzir rapidamente muitas mais". Mas as supostas armas de destruição em massa do ditador nunca foram encontradas. Em sua biografia de 2006, Powell caracterizou sua apresentação na ONU como uma "mancha" em seu histórico. Hoje, muitos americanos são críticos da guerra. Uma pesquisa realizada no início de janeiro por YouGov apontou que 52% dos americanos acham que a invasão ao Iraque foi um erro, enquanto apenas 31% ainda dizem acreditar que foi a coisa certa a ser feita.
2. A guerra manchou a imagem dos Estados Unidos
A invasão americana ao Iraque isolou o país no mundo. As políticas do presidente Bush passaram a ser vistas com maior ceticismo no Ocidente e criaram novos inimigos no mundo árabe. Ao resumir o dano moral que a guerra infligiu aos Estados Unidos, a "Spiegel" escreveu: "Para essa guerra, os Estados Unidos violaram a lei internacional, difamaram aliados e tornaram a ONU objeto de escárnio". O escândalo de tortura em Abu Ghraib, uma prisão no oeste de Bagdá, causou um dano duradouro à reputação moral da orgulhosa democracia. Os soldados americanos viam a si mesmos como libertadores que revelavam as violações de direitos humanos do ditador. Mas eles eram vistos como uma força de ocupação, como uma potência que lançou o país no caos e em uma guerra civil que custou mais de 100 mil vidas iraquianas.
3. A guerra desacreditou a CIA
Sob pressão do governo Bush, a agência de inteligência estrangeira americana forneceu as supostas provas de que o Iraque possuía armas de destruição em massa. Quando Colin Powell compareceu perante a ONU e colocou em jogo sua credibilidade, o então diretor da CIA, George Tenet, estava sentado atrás dele. Em 2011, Rafid Ahmed Alwan al-Janabi, codenome "Curveball" (bola com efeito), que forneceu o depoimento chave para a CIA, revelou que mentiu e forneceu informação falsa de propósito sobre as armas biológicas do Iraque. "Eles me deram essa chance", disse Al-Janabi ao jornal "The Guardian". "Eu tinha a chance de fabricar algo para derrubar o regime."
4. A guerra dividiu o país
Um dos motivos para democratas e republicanos em Washington terem se tornado rivais tão amargos pode ser rastreado às suas posições conflitantes a respeito da guerra. Os democratas deram, inicialmente, apoio a Bush, mas posteriormente se sentiram enganados. O enorme grau de antagonismo residual veio à tona recentemente, em batalha em torno de Chuck Hagel, que foi indicado por Obama como seu secretário da Defesa. Hagel, um republicano, chamou em 2007 o aumento de tropas no Iraque de "o erro de política externa mais perigoso deste país desde o Vietnã". Seus companheiros republicanos não esqueceram o que ele disse --e tentaram bloquear sua nomeação por semanas.
5. A guerra levou à vitória de Obama na eleição presidencial
Ele podia carecer de experiência, mas, durante as primárias democratas de 2008, Barack Obama contava com uma vantagem clara: diferente de sua forte adversária, Hilary Clinton, ele nunca votou a favor da invasão ao Iraque. De fato, ele podia até mesmo apontar para sua declaração em 2002 de que ela seria uma "guerra estúpida". Em um debate pela televisão realizado em Cleveland em fevereiro de 2008, Obama acusou Hillary Clinton de "ter cedido a George Bush desde o início nesta questão crítica". Isso lhe rendeu alguns pontos entre os americanos cansados de guerra, primeiro junto aos democratas e, depois, durante a campanha presidencial contra o candidato republicano, o senador John McCain. Obama prometeu "colocar um fim na guerra no Iraque de modo responsável".
6. Foi a guerra dos neoconservadores
Por anos, a queda de Saddam Hussein era a meta dos neoconservadores que cercavam Paul Wolfowitz, Richard Perle e William Kristol, os padrinhos intelectuais do movimento. O vice-presidente Dick Cheney e o secretário de Defesa, Donald Rumsfeld, ajudaram a conquistar aceitação para as fantasias neoconservadoras a respeito do uso das forças armadas para promover a democracia ao redor do mundo. Os falcões que cercavam Bush viram os ataques terroristas do 11 de Setembro como algo que legitimava um ataque contra o Iraque --apesar de não haver nenhuma ligação entre o regime de Saddam Hussein e a Al Qaeda. De fato, em seu livro de memórias de 2004, "Contra Todos os Inimigos", o ex-czar de contraterrorismo de Bush, Richard A. Clarke escreveu que bombardear o Iraque após ser atacado pela Al Qaeda "seria como invadir o México depois que os japoneses nos atacaram em Pearl Harbor".
7. Os neoconservadores aprenderam pouco com a guerra
Os neoconservadores não desapareceram. William Kristol, por exemplo, o fundador da revista política conservadora "The Weekly Standard", continua elogiando a decisão de invadir o Iraque. E esses combatentes da liberdade há muito tempo têm outro alvo em vista: o Irã. Kristol zomba da ideia de que alguém possa acreditar que uma bomba nuclear iraniana possa ser controlada. Enquanto isso, Rumsfeld e Cheney publicaram seus livros de memórias, mas alguém teria dificuldade em encontrar qualquer indício de autocrítica. Nem as ideias deles sobre a realização de guerras preventivas foram abandonadas. Até certo ponto, o presidente Obama está fazendo a mesma coisa com sua guerra de aeronaves não tripuladas contra os terroristas: eliminando oponentes potenciais antes que tenham uma chance de atacar.
8. A guerra no Iraque abriu o caminho para a guerra secreta
A guerra no Iraque moldou as políticas americanas para guerras. Inicialmente, o então secretário da Defesa Donald Rumsfeld se concentrou em manter uma "pegada leve", ao empregar apenas 145 mil soldados americanos e aliados na invasão ao Iraque. O resultado foi o caos. Os soldados tiveram sucesso em conquistar o país, mas fracassaram em estabelecer a paz. Após a renúncia de Rumsfeld em novembro de 2006, o general David Petraeus implantou uma estratégia de contrainsurgência que envolvia o uso de mais soldados para proteção da população civil e coordenação da luta contra os insurgentes. A situação no Iraque se acalmou, e o recém eleito presidente Obama deixou a estratégia de contrainsurreição também ser usada no Afeganistão. Mas quando ela fracassou, Obama decidiu apostar na guerra secreta: ataques com aeronaves não tripuladas contra supostos terroristas e militantes no Afeganistão, Paquistão e Iêmen: o uso de unidades de combate de elite; e uma guerra contra as instalações nucleares do Irã.
9. A guerra moldou a posição dos Estados Unidos em relação à Primavera Árabe
Uma das lições mais importantes que Obama tirou da guerra no Iraque foi: não se deixe envolver em uma segunda guerra estúpida. Isso levou os Estados Unidos a se conterem durante os distúrbios apelidados de Primavera Árabe. No caso da Líbia, por exemplo, os Estados Unidos apenas apoiaram os rebeldes por um curto tempo com ataques aéreos e permitiram aos europeus liderarem a intervenção do Ocidente na guerra. Os conselheiros de Obama descreveram a política como "liderando da retaguarda". Os falcões do governo Bush ficaram atônitos. Em uma entrevista para a "Spiegel" em setembro de 2011, o ex-vice-presidente Dick Cheney criticou a política de Obama, dizendo que "deixar aos cuidados de outros (...) não é necessariamente uma boa forma de fazer as coisas". Em relação à guerra civil na Síria, Obama está enfrentando crescente pressão para ao menos permitir que os insurgentes recebam ajuda militar direta. Mas há um grande temor de que um envolvimento na Síria possa vir a se transformar em um segundo Iraque. "De fato, a Síria é gêmea do Iraque", alertou o colunista do "The New York Times", Thomas Friedman, em julho de 2012, "uma ditadura multisectária, governada pela minoria, que foi mantida unida por um punho de ferro sob a ideologia baathista".
10. Os efeitos da guerra estão impregnados no país
Homens e mulheres jovens com membros amputados não são uma visão rara nas ruas americanas. A guerra está por toda parte. Todo mundo conhece algum veterano, e muitos perderam parentes ou amigos no Iraque. Pessoas colocam adesivos ovais em seus carros que dizem "IRQ" (Iraque) com "I Served" (eu servi) em letras menores abaixo. Isso geralmente é um sinal de um orgulho desafiador, dado que os veteranos da guerra no Iraque costumam ser alvo de pena por terem servido em uma guerra travada pelos motivos errados, assim como seus pais após o Vietnã. Muitos veteranos estão tendo dificuldade para encontrar emprego, e a taxa de suicídio é alta. O país está perturbado e cansado de guerra. Muitos democratas e republicanos não querem ouvir falar de missões militares no exterior. Em vez disso, há um grande apoio à "construção de nação em casa".
Tradutor: George El Khouri Andolfato
Nenhum comentário:
Postar um comentário