quarta-feira, 2 de outubro de 2013

Ato de professores do Rio tem confronto de dia e saques à noite
Após conflito entre educadores em greve e policiais, grupos de mascarados vandalizaram centro da cidade
Violência cresceu após o fim do protesto dos docentes; pelo menos 17 foram detidos e 20 terminaram feridos
FSP
Na maior mobilização desde os atos de junho, um protesto de professores do Rio levou milhares de pessoas às ruas --não apenas docentes--, isolou o centro e resultou numa série de confrontos com a polícia, depredações, assaltos, saques e medo espalhados pela região.
A manifestação desta vez tinha uma causa específica: professores municipais protestavam contra o plano de cargos e salários proposto pela prefeitura, que acabou aprovado, em meio à confusão, pela Câmara Municipal.
O desfecho, no entanto, seguiu o roteiro de outras manifestações, com ação violenta da polícia, presença de "black blocs" e vandalismo.
Após às 20h, os educadores saíram de cena e as ruas do centro foram tomadas por pequenos grupos, repletos de jovens encapuzados, que iniciaram uma sequência de depredações de bancos, lojas, edifícios comerciais.
Pelo 20 pessoas ficaram feridas. Dos 17 detidos, até 22h, nenhum era professor, de acordo com a polícia.
Com o vandalismo generalizado, os policiais do Batalhão de Choque se dividiam em grupos em perseguição, atirando bombas.
"Não está seguro, tem muito bandido rodando o centro", afirmou um policial à gerente de uma loja de telefone celular saqueada.
Pela manhã, 700 policiais organizaram um cerco à Câmara e o Batalhão de Choque da PM isolava, com cercas, os acessos ao prédio.
No fim do dia, a adesão aumentou, com a presença de sindicalistas, integrantes de partidos de esquerda, além dos "black blocs".
A primeira confusão aconteceu às 14h, após uma discussão entre um professor e um policial, que ameaçou prender o manifestante.
A atitude revoltou os dezenas de manifestantes, que trocaram empurrões com PMs. Estes revidaram com bombas, causando correria.
A partir daí, se iniciou uma pancadaria generalizada na Cinelândia, com a PM lançando bombas e manifestantes atirando paus, pedras, cones e garrafas contra os militares.
Bombas de gás lacrimogêneo foram disparadas em série por mais de duas horas.
"A PM agiu de maneira desmedida. O município não faz greve há 18 anos. Na primeira, dão esse tratamento?", disse Alexandre Farias, 40, professor de educação física há 11 anos.
A manifestação foi o ápice de uma queda de braço que se arrasta desde agosto, quando começou a greve.
Eles queriam um reajuste de 19%. A prefeitura deu aumento de 15%. Contestam também pontos do plano aprovado como o que amplia a jornada de trabalho para 40 horas semanais para os novos professores concursados.
O plano segue para sanção do prefeito Eduardo Paes (PMDB) que, em nota, disse que foi uma "vitória" para os servidores e "um passo para o melhor ensino público".
As bombas lançadas pela polícia podiam ser ouvidas à distância e fizeram tremer os vidros do prédio da Câmara. Do lado de dentro, vereadores reagiram assustados e houve gritaria de funcionários. Fora, uma multidão de trabalhadores que tentava voltar para casa foi surpreendida pelo tumulto.
Trabalhadores buscavam uma rota de fuga --a estação de metrô da Cinelândia foi fechada e o trânsito de ônibus nos arredores, interrompido.
As sessões do Festival do Rio, que aconteceriam no cinema Odeon foram suspensas.

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