A instabilidade política e os protestos violentos no norte da África estão afetando negativamente o setor de energia da região. Na Líbia, que possui as maiores reservas comprovadas de petróleo na África, milícias altamente armadas e trabalhadores do setor petrolífero em greve fecharam muitos dos maiores terminais de exportação e campos de petróleo, reduzindo a produção a, aproximadamente, um décimo do normal.
Os protestos e as perturbações nos campos de petróleo também levantam dúvidas sobre se as empresas ocidentais continuarão investindo em projetos norte-africanos de gás e petróleo. Apesar das perspectivas de desenvolvimento de reservas comprovadas de energia permanecerem atraentes para empresas como BP e a norueguesa Statoil, analistas alertam que as empresas provavelmente adiarão novos investimentos até que a situação política nesses países se torne mais estável.
"O setor de petróleo e gás está acostumado a lidar com incerteza e volatilidade, mas a velocidade de alguns desses protestos é sem precedente", disse Julie Adams, chefe de pesquisa de energia global da Accenture, uma consultoria em Londres. "As empresas podem repensar seus planos de investimento de capital."
O impacto dos protestos por todo o país é mais pronunciado na Líbia.
Em agosto, milícias e trabalhadores do setor petrolífero acusaram em grandes protestos a companhia estatal de petróleo da Líbia de corrupção. Eles também pediram por maior autonomia do leste do país, onde a rebelião contra o ditador Muammar Gaddafi teve início.
Os grevistas tomaram muitos dos principais campos de petróleo e terminais de exportação da Líbia, reduzindo a produção diária para menos de 200 mil barris por dia, em comparação a aproximadamente 1,6 milhão de barris por dia no início do ano.
A queda acentuada na produção, que está custando ao governo do país mais de US$ 100 milhões em receita perdida por dia, provocou quedas disseminadas no fornecimento de energia elétrica por toda a Líbia e forçou os políticos locais a procurarem formas de apaziguar os manifestantes.
No início de setembro, o Parlamento líbio concordou com um aumento salarial de 20% para os funcionários públicos, inclusive para os seguranças do setor petrolífero em greve. Apesar das concessões, analistas disseram que a falta de controle do governo em partes do país e os recursos limitados das forças de segurança da Líbia deixam muitas instalações de petróleo e gás vulneráveis a futuras manifestações.
"O setor de petróleo e gás se tornou um alvo imenso para qualquer um que queira extrair algo do governo", disse Oliver Coleman, um analista para Oriente Médio e Norte da África da organização de pesquisa Maplecroft, em Bath, Inglaterra. "Com a queda das exportações de petróleo, os problemas do governo aumentarão."
As interrupções também estão atingindo as operações das empresas de energia ocidentais no país.
O petróleo líbio, quando não enfrenta interrupções, representa pelo menos 10% da produção global de empresas como a espanhola Repsol e a austríaca OMV.
Em resposta aos problemas do país, algumas empresas ocidentais, incluindo a Exxon Mobil, estão demitindo funcionários e reduzindo operações no país norte-africano, porque a instabilidade não justifica o grande investimento necessário para o desenvolvimento dos recursos de gás e petróleo.
Termos mais duros nos contratos de petróleo, incluindo a retenção pelo governo líbio de até 90% da receita gerada pelas vendas de petróleo, também afugentam os investidores internacionais.
"Toda exploração parece estar suspensa na Líbia", disse Femi Oso, um analista da Wood Mackenzie, uma consultoria de energia em Edimburgo.
No Egito, o governo militar deu prioridade à proteção dos grandes campos de petróleo e gás, assim como à infraestrutura, incluindo o Canal de Suez e oleoduto Sumed, que corta o país.
Apesar de ser um ator relativamente pequeno no setor global de gás e petróleo, o Egito continua dependente dos bilhões de dólares de receita anual gerada pelo setor, que ajuda a subsidiar o uso doméstico de energia a baixo preço.
Concessões locais para consumo de diesel e petróleo atualmente consomem pouco menos de um quarto do orçamento anual do país. Os subsídios também levam o governo egípcio a acumular dívidas de US$ 5 bilhões a US$ 7 bilhões em pagamentos devidos às empresas ocidentais pelo petróleo e gás que produziram no Egito.
"O grande problema é que as empresas não estão sendo pagas pelo governo", disse Coleman, da Maplecroft, a organização de pesquisa. "Se o Egito tiver dificuldade para pagar as empresas de petróleo e gás, ele dificilmente atrairá investimento futuro."
A instabilidade política do país também continua sendo uma preocupação para algumas empresas ocidentais.
Em meados de setembro, por exemplo, a empresa britânica de gás e petróleo BP disse que a continuidade dos distúrbios sociais por todo o Egito adiaria o desenvolvimento de um de seus novos projetos de gás no delta do rio Nilo em cerca de quatro meses.
O BP Group, que gerou cerca de 20% de sua produção total de petróleo no país norte-africano no ano passado, também tem cerca de US$ 600 milhões a receber do governo egípcio pelo produto que entregou à estatal Corporação Geral Egípcia de Petróleo.
No final de agosto, a China Petrochemical Corporation, a gigante estatal de petróleo e refino mais conhecida como Sinopec, aproveitou a apreensão dos investidores com a alta exposição da Apache, uma empresa americana de Houston, no Egito para comprar uma participação de um terço dos ativos egípcios das operações de petróleo da Apache, a maioria localizada no deserto no oeste, longe das grandes cidades e não diretamente afetados pelos problemas sociais do país.
"A Apache detém muito poder em seu relacionamento com o Egito", disse Mark Hanson, um analista da Morningstar, em Chicago. "Sem o capital ocidental e sem a perícia técnica de empresas como a Apache, o Egito seria incapaz de atender" suas necessidades energéticas.
Mas, o acordo permite que a Apache mantenha o que considera um prêmio, enquanto reduz a dívida e libera capital para investimentos na América do Norte.
Tradutor: George El Khouri Andolfato
Várias empresas ocidentais sofrem com atrasos em seus projetos de petróleo e gás natural no Egito, cujo governo ainda deve bilhões de dólares em pagamentos a muitas das empresas responsáveis por esses projetos.
Analistas também alertam que a continuidade do impasse em torno da Síria pode vir a pesar na produção de petróleo e gás tanto no norte da África quanto no Oriente Médio, à medida que qualquer conflito militar potencial poderia facilmente espirrar para os países produtores de petróleo vizinhos, como o Iraque.
"As perspectivas para o setor de petróleo e gás em países como a Líbia são inexistentes pelos próximos anos", disse Riccardo Fabiani, um analista para o norte da África da consultoria de risco Eurasia Group, em Londres. "O principal problema é que muitos desses governos não estão no controle em terra."
A incerteza representa um sério revés para países como a Líbia e o Egito, onde os governos permanecem dependentes da receita gerada pelas suas grandes reservas de energia. Na Argélia, a maior produtora de gás na região, o setor de energia ainda representa cerca de 60% do orçamento anual do país.
Analistas também alertam que a continuidade do impasse em torno da Síria pode vir a pesar na produção de petróleo e gás tanto no norte da África quanto no Oriente Médio, à medida que qualquer conflito militar potencial poderia facilmente espirrar para os países produtores de petróleo vizinhos, como o Iraque.
"As perspectivas para o setor de petróleo e gás em países como a Líbia são inexistentes pelos próximos anos", disse Riccardo Fabiani, um analista para o norte da África da consultoria de risco Eurasia Group, em Londres. "O principal problema é que muitos desses governos não estão no controle em terra."
A incerteza representa um sério revés para países como a Líbia e o Egito, onde os governos permanecem dependentes da receita gerada pelas suas grandes reservas de energia. Na Argélia, a maior produtora de gás na região, o setor de energia ainda representa cerca de 60% do orçamento anual do país.
"O setor de petróleo e gás está acostumado a lidar com incerteza e volatilidade, mas a velocidade de alguns desses protestos é sem precedente", disse Julie Adams, chefe de pesquisa de energia global da Accenture, uma consultoria em Londres. "As empresas podem repensar seus planos de investimento de capital."
O impacto dos protestos por todo o país é mais pronunciado na Líbia.
Em agosto, milícias e trabalhadores do setor petrolífero acusaram em grandes protestos a companhia estatal de petróleo da Líbia de corrupção. Eles também pediram por maior autonomia do leste do país, onde a rebelião contra o ditador Muammar Gaddafi teve início.
Os grevistas tomaram muitos dos principais campos de petróleo e terminais de exportação da Líbia, reduzindo a produção diária para menos de 200 mil barris por dia, em comparação a aproximadamente 1,6 milhão de barris por dia no início do ano.
A queda acentuada na produção, que está custando ao governo do país mais de US$ 100 milhões em receita perdida por dia, provocou quedas disseminadas no fornecimento de energia elétrica por toda a Líbia e forçou os políticos locais a procurarem formas de apaziguar os manifestantes.
No início de setembro, o Parlamento líbio concordou com um aumento salarial de 20% para os funcionários públicos, inclusive para os seguranças do setor petrolífero em greve. Apesar das concessões, analistas disseram que a falta de controle do governo em partes do país e os recursos limitados das forças de segurança da Líbia deixam muitas instalações de petróleo e gás vulneráveis a futuras manifestações.
"O setor de petróleo e gás se tornou um alvo imenso para qualquer um que queira extrair algo do governo", disse Oliver Coleman, um analista para Oriente Médio e Norte da África da organização de pesquisa Maplecroft, em Bath, Inglaterra. "Com a queda das exportações de petróleo, os problemas do governo aumentarão."
As interrupções também estão atingindo as operações das empresas de energia ocidentais no país.
O petróleo líbio, quando não enfrenta interrupções, representa pelo menos 10% da produção global de empresas como a espanhola Repsol e a austríaca OMV.
Em resposta aos problemas do país, algumas empresas ocidentais, incluindo a Exxon Mobil, estão demitindo funcionários e reduzindo operações no país norte-africano, porque a instabilidade não justifica o grande investimento necessário para o desenvolvimento dos recursos de gás e petróleo.
Termos mais duros nos contratos de petróleo, incluindo a retenção pelo governo líbio de até 90% da receita gerada pelas vendas de petróleo, também afugentam os investidores internacionais.
"Toda exploração parece estar suspensa na Líbia", disse Femi Oso, um analista da Wood Mackenzie, uma consultoria de energia em Edimburgo.
No Egito, o governo militar deu prioridade à proteção dos grandes campos de petróleo e gás, assim como à infraestrutura, incluindo o Canal de Suez e oleoduto Sumed, que corta o país.
Apesar de ser um ator relativamente pequeno no setor global de gás e petróleo, o Egito continua dependente dos bilhões de dólares de receita anual gerada pelo setor, que ajuda a subsidiar o uso doméstico de energia a baixo preço.
Concessões locais para consumo de diesel e petróleo atualmente consomem pouco menos de um quarto do orçamento anual do país. Os subsídios também levam o governo egípcio a acumular dívidas de US$ 5 bilhões a US$ 7 bilhões em pagamentos devidos às empresas ocidentais pelo petróleo e gás que produziram no Egito.
"O grande problema é que as empresas não estão sendo pagas pelo governo", disse Coleman, da Maplecroft, a organização de pesquisa. "Se o Egito tiver dificuldade para pagar as empresas de petróleo e gás, ele dificilmente atrairá investimento futuro."
A instabilidade política do país também continua sendo uma preocupação para algumas empresas ocidentais.
Em meados de setembro, por exemplo, a empresa britânica de gás e petróleo BP disse que a continuidade dos distúrbios sociais por todo o Egito adiaria o desenvolvimento de um de seus novos projetos de gás no delta do rio Nilo em cerca de quatro meses.
O BP Group, que gerou cerca de 20% de sua produção total de petróleo no país norte-africano no ano passado, também tem cerca de US$ 600 milhões a receber do governo egípcio pelo produto que entregou à estatal Corporação Geral Egípcia de Petróleo.
No final de agosto, a China Petrochemical Corporation, a gigante estatal de petróleo e refino mais conhecida como Sinopec, aproveitou a apreensão dos investidores com a alta exposição da Apache, uma empresa americana de Houston, no Egito para comprar uma participação de um terço dos ativos egípcios das operações de petróleo da Apache, a maioria localizada no deserto no oeste, longe das grandes cidades e não diretamente afetados pelos problemas sociais do país.
"A Apache detém muito poder em seu relacionamento com o Egito", disse Mark Hanson, um analista da Morningstar, em Chicago. "Sem o capital ocidental e sem a perícia técnica de empresas como a Apache, o Egito seria incapaz de atender" suas necessidades energéticas.
Mas, o acordo permite que a Apache mantenha o que considera um prêmio, enquanto reduz a dívida e libera capital para investimentos na América do Norte.
Tradutor: George El Khouri Andolfato
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