François Fressoz - Le Monde
O presidente da França, François Hollande, discursa na 68ª Assembleia Geral da ONU
A verdade que muita coisa depende dele, mas nem tudo. Para entender as dificuldades encontradas por François Hollande é preciso fazer uma digressão através da revista "Le Débat" (número 176). Uma série de artigos expõe a singularidade do momento político no qual se deu sua eleição. O diálogo entre Marcel Gauchet, redator-chefe da "Débat", e Jean-François Kahn, cofundador da "Marianne", permite apontar as quatro peculiaridades desse início de mandato.A estranheza de uma eleição
Foi menos a eleição de Hollande do que a derrota de Sarkozy, constatam os dois autores. A eleição presidencial de 2012 não foi decidida segundo um programa, mas sim por uma maneira de exercer o poder. O "presidente normal" diante da transgressão representada por seu adversário, analisa Marcel Gauchet. Mas "foi a pessoa de Nicolas Sarkozy a derrotada, não sua política", completa Jean-François Kahn, relembrando a recuperação do ex-presidente entre os dois turnos da eleição. Logo, François Hollande está tendo dificuldades para corresponder às expectativas. "Ele encarna muito bem uma certa francesice na qual as pessoas estão dispostas a se reconhecer", constata Marcel Gauchet, mas existe "um profundo mal estar" pelo fato de que sua vitória "não diz grande coisa sobre aquilo que deveria ser uma política à altura dos desafios do país".
A angústia ideológica da esquerda
Esse bloqueio existe porque a esquerda está totalmente confusa do ponto de vista ideológico, afirma Marcel Gauchet. A herança de Mitterrand na qual ela tem vivido desde os anos 1990 está sendo questionada. A promessa europeia formulada pelo ex-presidente da República em 1983 --uma superação do socialismo pela Europa, a capacidade de conseguir fazer na Europa aquilo que não podia mais acontecer em contexto nacional-- não foi cumprida. Hoje, "estamos ao mesmo tempo entre os perdedores da globalização e os perdedores da europeização. O choque da desilusão foi grande", diz Gauchet. Incapaz de fazer uma oferta de "transformação social radical", o Partido Socialista se refugia na "herança pós-68 da qual ele fez parte", acrescenta Jean-François Kahn. É isso que explica seu empenho pelo casamento entre pessoas de mesmo sexo e sua ausência em todos os outros assuntos.
O enfraquecimento dos partidos de governo
A inadequação da oferta em relação à demanda política também afeta a UMP [União por um Movimento Popular, partido de Sarkozy]. Esta concluiu sua mutação liberal, mas se vê diante de uma demanda de autoridade do Estado. Segundo Gauchet, em todos os assuntos ela é obrigada a se dividir entre "uma visão essencialmente conservadora da sociedade e uma visão essencialmente liberal". Incapaz de adotar uma linha clara, ela se encontra na defensiva diante da Frente Nacional.
A Frente Nacional como oposição universal
Marine Le Pen "tem a seu favor todos os elementos da crise atual", constatam Gauchet e Kahn. Ao substituir o discurso ultraliberal de seu pai por um discurso estatal e social, "ela reavivou a motivação de uma das alianças mais fortes no campo político francês, a da aspiração nacional e da aspiração social", opina o filósofo. Segundo ele, a Frente Nacional pode assim se tornar um fator de bloqueio inevitável do sistema político, sobretudo à direita: "Impossível governar sem ele, impossível de governar com ele.
Tradutor: UOL
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