quinta-feira, 14 de março de 2013

Na Alemanha, maiores empresas do setor da energia sofrem para se adaptar ao fim da opção nuclear
Cécile Boutelet - Le Monde
Kyodo News/AP - 18.jul.2012

Usina nuclear Ohi, em Fukui, oeste do Japão
Usina nuclear Ohi, em Fukui, oeste do Japão
Dois anos após o acidente da usina japonesa de Fukushima e a repentina mudança de opinião da chanceler alemã Angela Merkel em relação à energia nuclear, o setor energético alemão ainda está lambendo suas feridas. O grupo E.ON, quarto produtor de energia da Alemanha oa divulgar seus resultados depois da EnBW, da RWE e da Vattenfall, anunciou na quarta-feira (13) ter mantido lucro, mas que as perspectivas são pouco animadoras para 2013.
Assim como suas concorrentes, a E.ON precisa enfrentar desafios industriais consideráveis. A suspensão imediata de oito reatores, decidida em 2011, e o fechamento progressivo das usinas restantes até 2022 obrigam as operadoras a redefinirem com urgência seus modelos econômicos.
Sem a máquina de lucro que era a energia nuclear, essas empresas estão condenadas a investirem maciçamente em uma reorientação de sua estratégia industrial na direção das energias renováveis, dentro de uma década.
Mas as margens de manobra financeiras estão se reduzindo. O baixo preço da eletricidade no atacado devido a pouca demanda, combinado com a alta do preço do gás e com a concorrência cada vez mais forte de produtores descentralizados de energias renováveis – eles são prioritários na rede – deteriorou o cerne da atividade tradicional desses grupos.
E os 15 bilhões de euros em indenizações pedidos ao Estado federal no verão de 2012 para compensar o abandono antecipado da energia nuclear não serão o suficiente para cobrir o prejuízo.
Outrora chamadas de as "big four" da energia em razão de seu tamanho e de seu peso econômico, a E.ON, a RWE, a EnBW e a sueca Vatenfall estão condenadas a reduzir suas atividades e buscar o crescimento fora da Alemanha, se quiserem sobreviver.
A situação mais dramática é a da EnBW. A produtora de eletricidade de Bade-Wurtemberg, a próspera região do sudeste da Alemanha, teve de desligar em 2011 dois reatores nucleares, ou seja, 50% de sua ferramenta de produção. Por muito tempo adepta do "100% nuclear", ela acusa um atraso grande em matéria de energias renováveis.
Após uma perda de 800 milhões de euros em 2011, ela conseguiu manter suas atividades em 2012, sem apresentar lucro. Mas o recuo de 13% em sua produção de eletricidade traz à tona a questão de sua existência quando os dois últimos reatores forem suspensos. Os grandes clientes já estão a deixando: em 2012, a montadora Daimler migrou para a concorrente Enovo.
Já a RWE conseguiu limitar seus prejuízos. Em 2012, ela realizou um lucro de 6,4 bilhões de euros. Ela foi salva por suas várias usinas de carvão, que estão funcionando a todo vapor em razão do baixo preço dos direitos de emissão de CO2. Mas o grupo de Essen tem diante de si uma dívida de 35 bilhões de euros (67% de seu faturamento), que restringe suas possibilidades de empréstimo e de investimentos. Além disso, seu programa de 7 bilhões de euros em cessões de ativos está estagnado por causa da crise europeia.

Contenção de danos

A sueca Vattenfall, que realiza 60% de seu faturamento na Alemanha, também foi obrigada a reduzir seus custos de operação. Embora ela tenha conseguido, como a RWE, conter os danos associados ao fechamento de dois reatores nucleares graças às suas usinas de carvão, ela viu seu lucro cair pela metade em 2012, para 5,2 bilhões de coroas (R$1,54 bilhões).
Ela está buscando novas margens de manobra para compensar seu atraso no setor de energias renováveis. Também anunciou o corte de 2.500 postos de trabalho até 2016, sendo 1.500 deles na Alemanha.
A E.ON também reduziu maciçamente seu número de funcionários. Assim, 11 mil empregos serão cortados até 2015, sendo 6 mil na Alemanha. Graças às vendas de filiais, ela conseguiu manter seus lucros, que em 2012 chegaram a 4,2 bilhões de euros. E 15 bilhões de euros em cessões de ativos estão previstos até 2015.
Será o suficiente? O grupo está sofrendo com a baixa lucratividade de suas usinas de gás. Construídas para oferecer uma fonte de energia limpa e segura, ao substituir o nuclear, elas estão sendo menos utilizadas que o previsto, em razão da concorrência das energias renováveis, prioritárias na rede, e que constituem 25% do "mix" energético alemão. A única salvação para a E.ON seriam os países emergentes, especialmente a Turquia, a Rússia e o Brasil.
Tradutor: Lana Lim

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