segunda-feira, 29 de abril de 2013

Alemanha tem forças para enfrentar uma nova crise financeira?
John Vinocur - IHT
AP Photo/Markus Schreiber

Angela Merkel, chanceler da Alemanha, disse para jornalistas que o Chipre precisa de um plano para corrigir seu sistema bancário
Angela Merkel, chanceler da Alemanha, disse para jornalistas que o Chipre precisa de um plano para corrigir seu sistema bancário
No início de 2011, quando a Alemanha tinha acabado de terminar um ano com crescimento de 3,7% e um grande salto na criação de empregos, o ministro da Economia de Angela Merkel descreveu a ascensão, para o Bundestag, como "não um conto curto, mas uma série de romances" de sucesso.
Esta Alemanha, disse Rainer Brüderle, "está muito consciente de sua grande responsabilidade para com a Europa", e ele insistiu: "Estamos prontos para fazer contribuições consideráveis". Nove meses depois, Merkel afirmou que a Alemanha era mais uma vez a "locomotiva da Europa".
O momento era de doses cavalares de confiança, generosidade e afirmações de poder da Alemanha. Como o tempo voa.
Agora, com o Bundesbank prevendo de que a economia crescerá apenas 0,4% ou 0,5% este ano, o grande surto de crescimento da Alemanha parece, em retrospectiva, a subida do bungee jumping depois de seu forte declínio de recessão em 2009.
Retratada como verdade suprema aqui, embora menos aceita como um evangelho hoje em dia por muitos de seus vizinhos europeus, a convicção alemã que o deficit rápido e a consolidação da dívida podem ser concomitantes com um crescimento econômico significativo, e fazer com que as pessoas voltem a trabalhar, parece cada vez mais como um ídolo em queda.
Até mesmo Merkel, passados seus dias de locomotiva alemã, reconheceu este mês que "nós não temos força para criar um grande programa de estímulo pela segunda vez sem perder a confiança internacional", de acordo com uma agência de notícias.
Num ano eleitoral, o crescimento claramente não é sua prioridade. Com cinco meses de campanha pela frente antes de colocar a chancelaria em jogo em 22 de setembro, Merkel dificilmente aponta para a ausência de crescimento, um reconhecimento, para a Europa, da derrocada econômica alemã.
Veja só as manchetes que foram publicadas ao longo do mês passado: o "Frankfurter Allgemeine Zeitung", com base na sua própria compilação de estatísticas de empregadores, escreveu que mais empregos estavam sendo extintos do que criados na Alemanha no primeiro trimestre do ano. Um instituto de pesquisa informou que os salários médios na Alemanha caíram 1,8% desde 2000. Os registros de automóveis novos na Alemanha caíram 17,1% em março, muito pior do que o declínio médio do mês em toda a Europa.
Se isto não é material para o exemplo ou a liderança alemã na Europa, como é que a candidata Merlkel lida com a dura realidade em termos do eleitorado alemão e do eleitorado europeu mais amplo?
Em primeiro lugar, deixando claro para os eleitores alemães que eles não terão que pagar pelo resto da Europa, estimulando a demanda alemã. Depois, contando aos parceiros da União Europeia que eles precisam enfrentar taxas de crescimento (baixas) de 1% a 1,5% num futuro próximo, mas que o único caminho a seguir é mais deficit e consolidação da dívida.
De fato, o ministro das Finanças Wolfgang Schauble foi mais longe. Ele teria afirmado que aqueles que esperam um maior crescimento na Europa correm o risco de por em risco o seu próprio futuro. Isso quer dizer: não há soluções de estímulo a custa de mais rigor.
Mais privadamente, as autoridades alemãs disseram a repórteres que 1% a 1,5% de crescimento é bastante aceitável. A explicação que eu tenho aqui insiste que esses números representam uma economia alemã "forte e sustentável".
Mas esta suposição não é necessariamente transponível para outros lugares.
Em conversas com economistas da Organização de Cooperação Econômica e Desenvolvimento Econômico, a Espanha foi descrita como um país que "precisa muito mais do que 1,5% de crescimento para se arrastar para fora de seu buraco em direção a algum tipo de equilíbrio."
A organização estima que a Alemanha – sem uma grande mudança estrutural – terá uma média de crescimento de 1,1% ao longo das próximas quatro décadas. Um crescimento de 1,1% ou 1,2% foi considerado insuficiente para criar empregos na França.
E então a OECD ofereceu este cálculo: tomando a taxa de produtividade do trabalho que ela espera na Alemanha, a taxa de crescimento de 1,2% que a organização prevê no país no período de 2018 a 2030 significa que os empregos alemães na verdade sofrerão declínio. Isto sugere que o modelo de "estabilidade" que a Alemanha criou para a Europa não oferece garantias de alcançar o que se deseja.
Ao mesmo tempo, a realidade imediata é que a Alemanha, com sua população em declínio, continua apaixonada por suas próprias regras básicas de baixo crescimento numa União Europeia que nunca foi capaz de sustentar um ambicioso programa de crescimento. Acrescente a isso a noção generalizada que diz que ninguém é leito na Alemanha propondo mudanças radicais.
Uma pesquisa realizada pela organização de pesquisa Instituto Allensbach argumenta que uma boa maneira para Merkel arriscar perder em setembro é fazer com que os alemães se preocupem com algum tipo de transformação econômica difícil pela frente. As mudanças mais ameaçadores seriam dizer que a Alemanha precisa exportar menos e aumentar as importações, abrir os setores fechados de sua economia para a concorrência externa, e acabar com seu sistema perdulário e politicamente protegido de bancos públicos. Esses seriam passos clássicos e estruturais em direção à possibilidade de novo crescimento.
Mas não para a reeleição de Merkel. Helmut Kohl dirigiu magistralmente a reunificação alemã enquanto ficou no poder por 16 anos como o chanceler que não propôs mudanças importantes para uma economia estagnada. Gerhard Schroder fez isso e em grande parte foi por isso que perdeu para Merkel.
Crescimento, emprego, um novo estado de ânimo além do desespero de hoje? A aposta aqui é que os eleitores alemães sustentem seu modelo de estabilidade. E isso significa um status quo mais sombrio na Europa.
Tradutor: Eloise De Vylder

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