Matthias Schulz - Der Spiegel
AP
Nazistas são julgados em sessão do Tribunal de Nuremberg por crimes de guerra, em 1945
O interesse dela era inicialmente em moda, mas então passou para assassinato e decomposição. Marita Genesis, 42 anos, trabalhou como modelo de passarela para a Escada após se formar no ensino médio. Posteriormente, ela estudou história antiga e aprendeu sobre a lei criminal.
Agora, a arqueóloga está cercada por criminosos. Ela está em um depósito pertencente ao Escritório para a Preservação de Monumentos do Estado de Turíngia apontando para vários ossos. São os restos mortais de ladrões, sodomitas e assassinos de crianças.
Os esqueletos foram encontrados próximos de Alkersleben, não distante da cidade de Erfurt, no leste da Alemanha, onde os condes de Kevernburg puniam os criminosos há 700 anos.
Em uma colina com vista para a rota comercial para Nuremberg, visível de longe, o executor realizava seu ofício impiedoso. Ele mantinha sua cabeça coberta com um capuz – não por repugnância, mas para se proteger do "mau olhado" do condenado.
Os pesquisadores desenterraram os restos mortais de cerca de 70 pessoas, que agora estão passando por uma avaliação antropológica. Um dos mortos foi amarrado, outro foi enterrado ao lado de uma corrente de ferro de estrangulamento. Um terceiro foi enterrado com uma faca afiada. "Pode ser a arma do crime", disse Genesis.
A natural de Potsdam, vizinha de Berlim, acabou de concluir sua dissertação sobre o sítio de execução. Ela é uma dos muitos pesquisadores à caça dos segredos sob as antigas forcas e cadafalsos.
As descobertas mais recentes surpreendentes mostraram um amontoado caótico de ossos na colina. "Alguns criminosos ficavam pendurados pelo pescoço por tanto tempo que entravam em decomposição e caíam. Então eram descartados com desprezo em solo não consagrado", explicou Jost Auler, um historiador da cidade de Dormagen, no oeste da Alemanha. "Não há menção disso em nenhum documento antigo."
Auler, célebre como o "rei das forcas" da Alemanha, é amplamente visto como o pioneiro do movimento. Ele publicou três volumes sobre "arqueologia de sítio de execução". Em seu livro mais recente, lançado em novembro passado, quase 40 colegas relatam sobre "sítios de decapitação", "carretas" (os veículos usados para levar os condenados ao local de execução) e o comércio de cadáveres destinados às mesas de dissecação dos médicos.
Um trabalho complicado
Epiléticos teriam coletado e bebido o sangue de Schinderhannes, o famoso fora da lei alemão às vezes comparado a Robin Hood, na crença de que os curaria. Foi dito que a cabeça do pirata alemão Klaus Störtebeker foi empalada em uma estaca às margens do rio Elba.
Mas isso é verdade? Como nossos antepassados de fato faziam justiça? Os velhos "locais desagradáveis" foram ignorados por muitos anos, Auler disse a respeito dos locais das mortes, "mas eles faziam parte do cenário tanto quanto os moinhos de vento".
Agora há um interesse renovado nesses locais macabros. O cadafalso de um carrasco se ergue por sete metros no ar no Estado austríaco de Styria, no sudeste, onde uma escavação arqueológica começará em breve. Mais ao norte, na cidade bávara de Pottenstein, uma equipe também está investigando as ruínas em deterioração das forcas locais.
A evidência que eles encontram testemunha a brutalidade da Idade Média. Os arqueólogos frequentemente encontram restos mortais espalhados. Muitas cidades permitiam que os patifes ficassem enforcados ao vento por anos. Corvos comiam a carne deles e despedaçavam os cadáveres. Certa vez, 30 criminosos apodreceram juntos nas forcas em Augsburg, perto de Munique. Depois, eles foram jogados em pequenas valas como se fossem lixo. Esses enterros negligentes em solo não consagrado eram comuns.
Não era mais agradável para aqueles que eram quebrados na roda. Esse era a mais desonrosa das punições. O torturador quebrava as costelas do criminoso e as extremidades antes de amarrá-lo na roda, que então era fixada em um poste para permitir que o condenado fosse erguido no ar e colocado em exibição. "Havia indivíduos que sobreviviam a essa tortura e eram perdoados", disse Auler.
O suposto assassino Robert François Damiens, que ousou atacar o rei Luís 15, sofreu ainda mais. Meirinhos usaram enxofre para queimar a mão que segurou a adaga. Pinças foram usadas para rasgar a carne de seus braços, peito e coxas, e chumbo derretido foi despejado nas feridas.
Seu desmembramento subsequente inicialmente fracassou, apesar de seis cavalos terem sido usados. Só foi possível desmembrar o infeliz depois que os tendões em seus ombros e quadris foram sangrentamente cortados.
Mas era raro o público ser tratado com essas orgias públicas extravagantes de tortura. Em vez disso, a evidência arqueológica sugere que a decapitação era a forma mais comum de assassinar vítimas. O condenado tinha que se ajoelhar, e então ele ou ela recebia um forte golpe por trás com uma espada. No século 17, machados e cepos entraram na moda.
Os jovens executores, é claro, tinham que passar por testes para mostrar que contavam com a habilidade necessária. Apesar de praticarem em cabeças de repolho, eles frequentemente erravam e apenas atingiam as costas ou crânio do delinquente. Isso também pode ser provado com base nos restos mortais que foram descobertos.
Ainda assim, os arqueólogos ainda estão intrigados com o esqueleto de uma mulher, que foi encontrado em um sítio próximo do novo Aeroporto de Berlim-Brandemburgo. O cadáver foi encontrado em uma vala próxima da aldeia de Selchow, a 15 quilômetros do local de assassinato mais próximo. O crânio estava ao lado do osso da perna, indicando que ela foi decapitada.
Mas onde estava seu pescoço? Quase todas as vértebras cervicais estavam faltando.
Expiação e Dissuasão
Os executores torturavam e mutilavam suas vítimas, frequentemente trabalhando em uma nuvem de putrefação. Não é de se estranhar que eram evitados pelas pessoas. A profissão deles era vista como "desonrosa" e os estalajadeiros frequentemente se recusavam a servi-los. As famílias dos executores apenas se casavam entre elas mesmas.
Mas os executores tinha outros deveres mais úteis. Eles cortavam as carcaças de animais, castravam cães e limpavam as prisões. E eram bem versados nas artes da cura e cirurgia.
De fato, como os executores podiam cortar bem os pés dos fugitivos, as mãos dos ladrões e os dedos dos que cometiam perjúrio, eles também eram hábeis em remover partes doentes do corpo. Quando marcavam criminosos, eles tinham que trabalhar habilmente com uma peça de ferro em brasa e posteriormente esfregar pólvora no ferimento.
Apesar de seu conhecimento anatômico útil, os carrascos mantiveram uma reputação sinistra. E apesar de elogiados por fazerem o "trabalho de Deus" no "Sachsenspiegel" ("Espelho dos Saxões"), um código legal elaborado no século 13, a maioria dos executores era condenada ao ostracismo pela sociedade. Eles usavam luvas, porque ninguém queria tocá-los.
Além disso, eles não tinham escrúpulos em fazer negócios sórdidos com pedaços de corpos. Eles vendiam gordura humana e pelos pubianos, dedos e tecido cerebral como base para remédios mágicos. Mas a principal função deles continuava sendo enforcar os condenados. "A maioria das sentenças de morte era executada com a forca", diz Auler.
O enforcamento era realizado assim: uma corda untada era colocada em torno do pescoço do criminoso e ele era empurrado de uma escada. Isso raramente bastava para quebrar seu pescoço, porque a queda não era alta o bastante. Em vez disso, a corda estrangulava as artérias do pescoço. Na melhor das hipóteses, a queda interrompia abruptamente o fornecimento de sangue ao cérebro, causando perda da consciência após cinco segundos. Na pior, as pessoas se contorciam e sufocavam até morrerem asfixiadas.
Era assim que eles morriam, os pecadores do passado: torturados, marretados e estrangulados. "Na época, ninguém pensava em ressocialização", disse Auler. "Resumia-se apenas a expiação e dissuasão."
Mas isso nem sempre bastava para os defensores medievais da tortura e execução. Por segurança, as bruxas eram queimadas até restar apenas cinzas.
Perto da cidade de Alkersleben, no leste da Alemanha, um esqueleto foi descoberto enterrado sob uma camada espessa de pedras. O homem foi aparentemente colocado sob enorme peso para impossibilitar que escapasse do túmulo.
Talvez fosse um vampiro.
Tradutor: George El Khouri Andolfato
Nazistas são julgados em sessão do Tribunal de Nuremberg por crimes de guerra, em 1945
O interesse dela era inicialmente em moda, mas então passou para assassinato e decomposição. Marita Genesis, 42 anos, trabalhou como modelo de passarela para a Escada após se formar no ensino médio. Posteriormente, ela estudou história antiga e aprendeu sobre a lei criminal.
Agora, a arqueóloga está cercada por criminosos. Ela está em um depósito pertencente ao Escritório para a Preservação de Monumentos do Estado de Turíngia apontando para vários ossos. São os restos mortais de ladrões, sodomitas e assassinos de crianças.
Os esqueletos foram encontrados próximos de Alkersleben, não distante da cidade de Erfurt, no leste da Alemanha, onde os condes de Kevernburg puniam os criminosos há 700 anos.
Em uma colina com vista para a rota comercial para Nuremberg, visível de longe, o executor realizava seu ofício impiedoso. Ele mantinha sua cabeça coberta com um capuz – não por repugnância, mas para se proteger do "mau olhado" do condenado.
Os pesquisadores desenterraram os restos mortais de cerca de 70 pessoas, que agora estão passando por uma avaliação antropológica. Um dos mortos foi amarrado, outro foi enterrado ao lado de uma corrente de ferro de estrangulamento. Um terceiro foi enterrado com uma faca afiada. "Pode ser a arma do crime", disse Genesis.
A natural de Potsdam, vizinha de Berlim, acabou de concluir sua dissertação sobre o sítio de execução. Ela é uma dos muitos pesquisadores à caça dos segredos sob as antigas forcas e cadafalsos.
As descobertas mais recentes surpreendentes mostraram um amontoado caótico de ossos na colina. "Alguns criminosos ficavam pendurados pelo pescoço por tanto tempo que entravam em decomposição e caíam. Então eram descartados com desprezo em solo não consagrado", explicou Jost Auler, um historiador da cidade de Dormagen, no oeste da Alemanha. "Não há menção disso em nenhum documento antigo."
Auler, célebre como o "rei das forcas" da Alemanha, é amplamente visto como o pioneiro do movimento. Ele publicou três volumes sobre "arqueologia de sítio de execução". Em seu livro mais recente, lançado em novembro passado, quase 40 colegas relatam sobre "sítios de decapitação", "carretas" (os veículos usados para levar os condenados ao local de execução) e o comércio de cadáveres destinados às mesas de dissecação dos médicos.
Um trabalho complicado
Epiléticos teriam coletado e bebido o sangue de Schinderhannes, o famoso fora da lei alemão às vezes comparado a Robin Hood, na crença de que os curaria. Foi dito que a cabeça do pirata alemão Klaus Störtebeker foi empalada em uma estaca às margens do rio Elba.
Mas isso é verdade? Como nossos antepassados de fato faziam justiça? Os velhos "locais desagradáveis" foram ignorados por muitos anos, Auler disse a respeito dos locais das mortes, "mas eles faziam parte do cenário tanto quanto os moinhos de vento".
Agora há um interesse renovado nesses locais macabros. O cadafalso de um carrasco se ergue por sete metros no ar no Estado austríaco de Styria, no sudeste, onde uma escavação arqueológica começará em breve. Mais ao norte, na cidade bávara de Pottenstein, uma equipe também está investigando as ruínas em deterioração das forcas locais.
A evidência que eles encontram testemunha a brutalidade da Idade Média. Os arqueólogos frequentemente encontram restos mortais espalhados. Muitas cidades permitiam que os patifes ficassem enforcados ao vento por anos. Corvos comiam a carne deles e despedaçavam os cadáveres. Certa vez, 30 criminosos apodreceram juntos nas forcas em Augsburg, perto de Munique. Depois, eles foram jogados em pequenas valas como se fossem lixo. Esses enterros negligentes em solo não consagrado eram comuns.
Não era mais agradável para aqueles que eram quebrados na roda. Esse era a mais desonrosa das punições. O torturador quebrava as costelas do criminoso e as extremidades antes de amarrá-lo na roda, que então era fixada em um poste para permitir que o condenado fosse erguido no ar e colocado em exibição. "Havia indivíduos que sobreviviam a essa tortura e eram perdoados", disse Auler.
O suposto assassino Robert François Damiens, que ousou atacar o rei Luís 15, sofreu ainda mais. Meirinhos usaram enxofre para queimar a mão que segurou a adaga. Pinças foram usadas para rasgar a carne de seus braços, peito e coxas, e chumbo derretido foi despejado nas feridas.
Seu desmembramento subsequente inicialmente fracassou, apesar de seis cavalos terem sido usados. Só foi possível desmembrar o infeliz depois que os tendões em seus ombros e quadris foram sangrentamente cortados.
Mas era raro o público ser tratado com essas orgias públicas extravagantes de tortura. Em vez disso, a evidência arqueológica sugere que a decapitação era a forma mais comum de assassinar vítimas. O condenado tinha que se ajoelhar, e então ele ou ela recebia um forte golpe por trás com uma espada. No século 17, machados e cepos entraram na moda.
Os jovens executores, é claro, tinham que passar por testes para mostrar que contavam com a habilidade necessária. Apesar de praticarem em cabeças de repolho, eles frequentemente erravam e apenas atingiam as costas ou crânio do delinquente. Isso também pode ser provado com base nos restos mortais que foram descobertos.
Ainda assim, os arqueólogos ainda estão intrigados com o esqueleto de uma mulher, que foi encontrado em um sítio próximo do novo Aeroporto de Berlim-Brandemburgo. O cadáver foi encontrado em uma vala próxima da aldeia de Selchow, a 15 quilômetros do local de assassinato mais próximo. O crânio estava ao lado do osso da perna, indicando que ela foi decapitada.
Mas onde estava seu pescoço? Quase todas as vértebras cervicais estavam faltando.
Expiação e Dissuasão
Os executores torturavam e mutilavam suas vítimas, frequentemente trabalhando em uma nuvem de putrefação. Não é de se estranhar que eram evitados pelas pessoas. A profissão deles era vista como "desonrosa" e os estalajadeiros frequentemente se recusavam a servi-los. As famílias dos executores apenas se casavam entre elas mesmas.
Mas os executores tinha outros deveres mais úteis. Eles cortavam as carcaças de animais, castravam cães e limpavam as prisões. E eram bem versados nas artes da cura e cirurgia.
De fato, como os executores podiam cortar bem os pés dos fugitivos, as mãos dos ladrões e os dedos dos que cometiam perjúrio, eles também eram hábeis em remover partes doentes do corpo. Quando marcavam criminosos, eles tinham que trabalhar habilmente com uma peça de ferro em brasa e posteriormente esfregar pólvora no ferimento.
Apesar de seu conhecimento anatômico útil, os carrascos mantiveram uma reputação sinistra. E apesar de elogiados por fazerem o "trabalho de Deus" no "Sachsenspiegel" ("Espelho dos Saxões"), um código legal elaborado no século 13, a maioria dos executores era condenada ao ostracismo pela sociedade. Eles usavam luvas, porque ninguém queria tocá-los.
Além disso, eles não tinham escrúpulos em fazer negócios sórdidos com pedaços de corpos. Eles vendiam gordura humana e pelos pubianos, dedos e tecido cerebral como base para remédios mágicos. Mas a principal função deles continuava sendo enforcar os condenados. "A maioria das sentenças de morte era executada com a forca", diz Auler.
O enforcamento era realizado assim: uma corda untada era colocada em torno do pescoço do criminoso e ele era empurrado de uma escada. Isso raramente bastava para quebrar seu pescoço, porque a queda não era alta o bastante. Em vez disso, a corda estrangulava as artérias do pescoço. Na melhor das hipóteses, a queda interrompia abruptamente o fornecimento de sangue ao cérebro, causando perda da consciência após cinco segundos. Na pior, as pessoas se contorciam e sufocavam até morrerem asfixiadas.
Era assim que eles morriam, os pecadores do passado: torturados, marretados e estrangulados. "Na época, ninguém pensava em ressocialização", disse Auler. "Resumia-se apenas a expiação e dissuasão."
Mas isso nem sempre bastava para os defensores medievais da tortura e execução. Por segurança, as bruxas eram queimadas até restar apenas cinzas.
Perto da cidade de Alkersleben, no leste da Alemanha, um esqueleto foi descoberto enterrado sob uma camada espessa de pedras. O homem foi aparentemente colocado sob enorme peso para impossibilitar que escapasse do túmulo.
Talvez fosse um vampiro.
Tradutor: George El Khouri Andolfato
Nenhum comentário:
Postar um comentário