sexta-feira, 19 de abril de 2013

Reação norte-americana a ataque em Boston demonstra maturidade para lidar com o terrorismo
Kristen Allen - Der Spiegel
A reação comedida dos EUA aos atentados fatais na Maratona de Boston foi admirável, segundo os editoriais alemães de quarta-feira (17). A capacidade de manter a calma diante da incerteza é crucial para derrotar os objetivos dos terroristas, argumentam.
Três pessoas foram mortas e mais de 170 ficaram feridas quando duas bombas explodiram perto da linha de chegada na prestigiada Maratona de Boston, no dia 15 de abril. Enquanto as autoridades continuam a investigar o incidente fatal, a população vela pelas vítimas.

Personagens da tragédia

Reprodução/The Boston Globe
Irmãos que assistiam à Maratona de Boston perdem uma perna cada um
Reprodução/Facebook
Estudante chinesa morta na Maratona de Boston é identificada
Reprodução/Boston Globe
Criança de 8 anos morta em ataque esperava o pai na chegada da maratona
Charles Krupa/AP
Homem que tentou suicídio após filho morrer no Iraque vira herói
Reprodução/Facebook
Mulher de 29 anos é a segunda vítima fatal da Maratona de Boston
Arquivo pessoal
"Não sabíamos para onde era seguro ir", diz brasileira em Boston
Arquivo pessoal
Passei pela chegada 1 min antes da explosão, diz brasileira em Boston
Reprodução
Brasileiro que olhava maratona é salvo da explosão em Boston por minutos
Entre os mortos no ataque contra espectadores do prestigiado evento esportivo estava Martin Richard, 8, cuja mãe e irmã também se feriram. Uma fotografia do menino segurando um cartaz escrito "paz" rapidamente tornou-se símbolo da tragédia, publicada no mundo todo. Também morreram no ataque Krystle Campbell, 29, gerente de restaurante, e uma aluna de pós-graduação chinesa da Universidade de Boston, identificada como Lu Lingzi pelo "Shenyang Evening News".

Ansiedade disseminada

Com a presença policial alta na cidade, os investigadores ainda estão buscando evidências e estudando vídeos e fotos do evento. Até agora, eles concluíram que as duas bombas provavelmente foram feitas de panelas de pressão cheias de estilhaços, colocadas em sacolas de nylon pretas e deixadas no local. Ninguém se responsabilizou pelos ataques e nenhum suspeito foi preso, o que levou o FBI a pedir pistas à população.
O presidente Barack Obama, que irá a Boston na quinta-feira (18) para participar de uma missa em homenagem às vítimas, chamou os ataques de "ato de terror". Depois dos piores atentados com bombas nos EUA desde 11 de setembro de 2001, a ansiedade está alta. Dois voos foram desviados na terça-feira (16) por temores de segurança e passageiros nervosos.
Além dessas preocupações, o FBI está investigando uma carta suspeita, enviada ao senador Roger Wicker de Mississippi, que continha ricina mortífera, segundo revelou a polícia na noite de terça-feira.
Ainda assim, a reação do país foi decididamente comedida, segundo os editorais alemães de quarta-feira. Eles estimularam os países do Ocidente a permanecerem calmos e a resistirem ao ímpeto de restringir as liberdades civis como resposta ao terrorismo.
O conservador "Die Welt" disse: "Depois dos ataques fatais de 11 de setembro de 2001, os americanos construíram uma rede poderosa de instituições para impedir esse tipo de atentado. E de fato, até Boston, conseguiram evitar muitos complôs terroristas. Estava claro, porém, que esta série de sucessos não duraria para sempre. O público provavelmente terá de conviver com o fato de que estará sob ameaça de forças totalitárias por muitas décadas. A única coisa que vai ajudar é uma mistura de vigilância e calma… Ao mesmo tempo, não devemos permitir um desvio em nossas vidas, nossos esportes e outras festividades, mesmo que os radicais consigam atacar novamente. Foram necessários alguns anos, mas depois de 11 de setembro, as democracias do Ocidente encontraram uma resposta equilibrada ao terrorismo. Em geral, a sociedade aberta provou-se tão firme quanto capaz de aprendizado. É essa força interna que caracteriza nossas sociedades e repetidamente desafia a ira dos extremistas. Qualquer um que acredite na necessidade de usar bombas já perdeu a batalha das ideias".
O "Süddeutsche Zeitung", de centro-esquerda, escreve: "Novamente, a simplicidade do terrorismo ficou clara. Os mesmos mecanismos que mudaram o curso da história há mais de 11 anos ainda estão em funcionamento hoje – o ataque a uma multidão insuspeita, o efeito paralisante de inúmeras imagens, o local simbólico, o medo coletivo. Apesar de Boston não chegar perto das dimensões dos ataques de 11 de setembro contra Nova York e Washington, o terrorismo ainda funciona da mesma forma."
"Por sorte, porém, também é verdade que, como o terror tem maior efeito sobre a mente, grande parte de sua força devastadora pode ser aplacada pela serenidade e cautela. Dada a monstruosidade de 11 de setembro, esse distanciamento interno não foi possível na época. Mas, com Boston, pode ser possível. O presidente Obama esperou um bom tempo antes de usar a palavra terrorismo. Sua prudência é útil e contribui para o esfriamento".
"A histeria é o triunfo do terrorismo, mas os EUA responderam de forma notável e sem histeria às bombas em Boston. Isso demonstra uma nova maturidade – e também um cansaço. Os americanos querem deixar a década de terror para trás, mas os terroristas não estão dispostos a desistir. Ainda não. Eventualmente, porém, finalmente sua futilidade será compreendida".
O jornal de esquerda "Die Tageszeitung" escreve: "O que é tão traiçoeiro sobre as explosões é que seu efeito é tão amplo. Além dos transeuntes, eles também atingem toda a sociedade, que depois tem de conviver com maiores restrições dos direitos civis e liberdades".
"As bombas de Boston atingiram uma maratona cheia de tradição. Milhares de pessoas se reuniram sem terem de passar por revistas de forma a torcer pelos 23 mil corredores. Isso agora mudou e é possível que no futuro sejam adotados os tipos de verificações de segurança, que antes só eram vistos em aeroportos, nas maratonas das cidades e em eventos com grandes multidões."
"Os eventos esportivos, ou seja, eventos com alto significado simbólico e grande público, sempre foram alvos potenciais, como em Munique em 1972, nas Olimpíadas de Verão em Atlanta em 1996 e na Copa da África de 2010 em Angola, quando a seleção de Togo foi atacada. O drama dos jogos de Verão de Munique, há 41 anos mudou tudo. Desde então, os Jogos Olímpicos se tornaram eventos de alta segurança, monitorados pela polícia, forças especiais e militares. O acesso livre aos estádios, aos locais de treino ou às vilas olímpicas não é mais possível. De fato, há poucos esportes que ainda oferecem um espaço onde se pode manobrar livremente. As maratonas estão entre eles. E agora, podem se tornar eventos de alta segurança."
"O que resta é uma sensação de desconforto para a próxima maratona. Mas este sentimento –que surge em regiões movimentadas de comércio, no metrô ou em manifestações com milhares de pessoas- não pode se tornar tão dominante que as pessoas se disponham a abandonar os espaços abertos e os progressos das liberdades civis."
O jornal conservador "Frankfurter Allgemeine Zeitung" diz: "As bombas de Boston foram detonadas em um feriado público em Massachusetts que celebra as primeiras batalhas da Guerra Revolucionária. Talvez os assassinos se vejam como descendentes desses revolucionários em uma luta contra o poder repressivo do Estado. Que loucura seria isso! Os culpados por trás do ataque de Boston não são heróis corajosos, mas assassinos covardes que fizeram de um grande evento esportivo um banho de sangue. O presidente Obama muitas vezes teve de encontrar palavras de conforto para uma nação em sofrimento. Mais recentemente, no massacre de uma escola de ensino fundamental. Ele terá de voltar a fazê-lo, enquanto os americanos têm a expectativa que as autoridades encontrem rapidamente os perpetradores. E com a esperança que Boston não marque o início de uma nova onda de ataques terroristas, porque o mundo todo sentiu as consequências de 11 de setembro".

Duas bombas explodem durante Maratona de Boston, nos EUA


Tradutor: Deborah Weinberg 

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