segunda-feira, 15 de abril de 2013

Busca global da China por recursos se mostra arriscada
Neil Gouch - IHT
Reuters

Trabalhador anda entre as pilhas de carvão de uma carvoaria na China. Segundo relatório da agência Internacional de Energia, o carvão será primeira fonte de energia mundial em dez anos, superando o petróleo, devido ao desenvolvimento acelerado dos países emergentes, como China e BrasilTrabalhador anda entre as pilhas de carvão de uma carvoaria na China. Segundo relatório da agência Internacional de Energia, o carvão será primeira fonte de energia mundial em dez anos, superando o petróleo, devido ao desenvolvimento acelerado dos países emergentes, como China e Brasil
A fome da China por energia e recursos impulsionou suas empresas a irem para o exterior nos últimos anos, rondando alvos de aquisição que podem ajudar a alimentar a demanda voraz por petróleo, gás natural, minério de ferro e outros minerais no país. Mas será que essas empresas chinesas têm os olhos maiores do que a barriga?
Considere o caso da Sundance Resources, uma mineradora australiana cujas ações caíram até 56% na terça-feira depois de encerrar uma longa e conturbada aquisição de US$ 1,4 bilhão pelo Grupo Hanlong da China, que não conseguiu apresentar o financiamento necessário.
O turbulento namoro de 21 meses da Sundance foi pontuado por um grave caso de negociações com informações privilegiadas na Austrália contra três executivos da Hanlong, um dos quais foi sentenciado em fevereiro por um tribunal de Sydney a mais de dois anos de prisão.
Em outra complicação para o negócio, a mídia estatal chinesa informou no mês passado que o presidente multimilionário da Hanlong, Liu Han, havia sido detido pela polícia por suspeita de ter ajudado seu irmão a fugir da captura por um suposto envolvimento num triplo assassinato na província de Sichuan, em 2009.
A oferta da Hanlong para a Sundance, que planeja desenvolver um grande projeto de minério de ferro em Camarões e na República do Congo, no oeste africano, parece ter sido desafiada por circunstâncias excepcionais. O acordo é um dos muitos que não deram certo por vários motivos. Mas uma tendência mais ampla mostra que as empresas chinesas têm tido dificuldades em sua busca para garantir recursos por meio de fusões e aquisições no exterior.
No setor de mineração, cerca de 42% dos US$ 107 bilhões de dólares em aquisições tentadas por empresas chinesas nos últimos cinco anos terminou em fracasso, de acordo com dados da Bloomberg. Isso se compara a uma taxa de 32% de fracassos nos US$ 562 bilhões em aquisições de mineradoras no exterior durante o mesmo período.
"Os fracassos provavelmente recebem mais atenção do que os sucessos, mas a oferta da Hanlong para a Sundance já vinha acontecendo há alguns anos – e, se há uma lição nisso, é provável que seja a de que, quanto mais tempo demoram estes acordos, menos chances eles têm de serem fechados", disse Michael Evans, diretor de pesquisa de recursos em Sydney para o banco CIMB Group. "Entidades estatais chinesas e conglomerados continuarão tentando investir em recursos naturais no mundo inteiro", disse Evans. "Eles continuarão possivelmente pagando um prêmio pela segurança proporcionada pelos recursos."
No passado, várias grandes aquisições chinesas foram anunciadas e depois foram descartadas por oposição política ou dos acionistas.
A tentativa de aquisição de US$ 18,5 bilhões pela Cnooc, a estatal chinesa produtora de petróleo no mar, da companhia petrolífera norte-americana Unocal em 2005 fracassou depois que políticos em Washington expressaram preocupações. Outra gigante apoiada pelo Estado, a Aluminum Corp. da China, conhecida como Chinalco, desistiu de uma oferta de US$ 19,5 bilhões por uma participação na mineradora australiana Rio Tinto em 2009.
Chinalco desistiu da oferta depois que a diretoria da companhia que seria comprada retirou seu apoio à oferta chinesa, escolhendo, em vez disso, levantar o dinheiro dos acionistas e através de uma aliança com a mineradora rival BHP Billiton.
Apesar desses contratempos, quando se trata de acordos transnacionais bem sucedidos, a China liderou o ranking mundial de compradores nos quatro dos últimos cinco anos, e continua no primeiro posto até hoje, de acordo com dados da Dealogic.
Companhias chinesas somaram US$ 20,2 bilhões em aquisições nos setores de mineração, metais e petróleo e gás natural este ano, respondendo por 45% do total mundial nesses setores. A participação da China cresceu por conta da aquisição pela Cnooc da companhia de gás e petróleo canadense Nexen, que fechou em fevereiro depois que as companhias garantiram as aprovações dos governos do Canadá e dos Estados Unidos.
Entretanto, nem sempre o prêmio almejado se mostra fácil de digerir. Companhias chinesas que nos últimos anos pagaram muito dinheiro por as empresas de mineração na Austrália muitas vezes enfrentaram dificuldades com custos em alta e atrasos prolongados, que praguejaram o setor nos últimos anos.
O setor de recursos naturais responde por sete das dez principais aquisições da China no exterior que foram anunicadas desde 2012 e que no fim fracassaram, de acordo com a Dealogic. A oferta mal sucedida da Hanlong pela Sundance é classificada como o segundo maior entre esses negócios recentes, depois que uma oferta de US$ 1,8 bilhão de uma companhia de Pequim para adquirir uma indústria de aviões da falida Hawker Beechcraft, de Wichita, Kansas, ruiu em outubro.
As ações da Sundance terminaram o dia em queda de 47,6% nesta terça-feira, a 11 centavos de dólar australiano. Seu valor de mercado era de cerca de US$ 353 milhões – um quarto da oferta pela qual a Hanlong a avaliou.
Num comunicado na segunda-feira sobre o fim do negócio, a Sundance disse que continua com seus planos para a mineração no oeste africano: "a Sundance está se envolvendo com outros potenciais parceiros estratégicos chineses com vista a desenvolver o projeto".
Tradutor: Eloise de Vylder

Nenhum comentário: