domingo, 28 de abril de 2013

Rose estressada
Merval Pereira - O Globo

Os bastidores do processo administrativo disciplinar desencadeado desde fevereiro deste ano pela Controladoria Geral da União (CGU), vinculada à Presidência da República, contra Rosemary Noronha, ex-chefe de gabinete da presidência da República em São Paulo, e “amiga íntima” do ex-presidente Lula, estão agitados.
As informações são de que Rose está inquieta, se considera injustiçada e abandonada e, assim como o núcleo petista ligado ao ex-presidente Lula, não perdoa a forma “implacável e fria” como a presidenta Dilma vem tratando muitos “companheiros”, não apenas no caso do mensalão, mas, sobretudo, pela maneira com que abraçou a bandeira de suposto combate à "corrupção", atingindo importantes quadros do partido, entre os quais ela se insere.
O que se comenta nesses meios petistas é que a presidente só poupa quem lhe é conveniente, como no caso de sua amiga Erenice Guerra, que atua com desenvoltura em Brasília depois de ter sido exonerada da Chefia do Gabinete Civil por tráfico de influência, ou dos políticos do PR e do PDT que retornaram ao governo depois de enxotados por corrupção. Muito citado ainda o caso do ministro do Desenvolvimento Fernando Pimentel, que mesmo sem ter explicado o dinheiro recebido em consultorias, foi tratado com benevolência pela presidente.
Desde a instauração da sindicância, as notícias têm vazado, o que revelaria, na opinião dela, interesse na deterioração de sua imagem, atingindo diretamente o próprio Lula, e José Dirceu, pessoas próximas a Rose, como é conhecida. E a CGU tem sido implacável em detalhes até surpreendentes para ela.
O que irritou, de modo mais específico, Rosemary, nos últimos vazamentos, foi a notícia de que teria sido apreendida em seu poder, a quantia de 33 mil reais em moeda sul coreana (won), quando, segundo ela, consta do auto de apreensão a quantia de 33 mil won , o que faria toda a diferença. Essa quantia seria algo equivalente a um cafezinho na Coréia do Sul, como 10 reais.
Foi apreendida ainda uma quantia em dólares (cerca de 20 mil dólares) que, segundo Rosemary, fora comprada licitamente para uma viagem a Disney que faria em dezembro. Apesar do alto poder aquisitivo demonstrado nessa compra antecipada de dólares, Rose garante que todos seus recursos estão declarados e nega enriquecimento ilícito.
Rosemary também demonstra indignação com a divulgação de sua hospedagem na embaixada em Roma, como se tivesse cometido algum ilícito. Alega que essas hospedagens são comuns e que esteve lá na condição de amiga do ex-embaixador do Brasil em Roma José Viegas, ex-ministro da Defesa de Lula.
A defesa de Rosemary, aliás, está disposta a pedir o levantamento das pessoas que teriam se hospedado em todas as Embaixadas Brasileiras no exterior, na gestão da presidenta Dilma, para averiguar se houve situações análogas, de modo a garantir a isonomia de tratamento. Diz ela que tal levantamento pode ser explosivo, mas necessário.
Vários altos funcionários da República, como o ministro Gilberto Carvalho (ex-chefe de Rosemary), Beto Vasconcelos (número 2 da Casa Civil) ou Erenice Guerra (ex-ministra chefe do Gabinete Civil) foram arrolados pela defesa, o que possivelmente demonstra uma estratégia de esmiuçar os meandros da Administração Pública Federal no tocante ao conceito de tráfico de influência, de que Rosemary é acusada. Ela teria atuado para a nomeação de uma desembargadora, além de diretores da Agência Nacional de Águas e da Agência Nacional de Aviação Civil e intermediado diversos negócios.
Seguindo o mesmo raciocínio dos “companheiros” de mensalão, Rosemary tem dito que sempre fez o que é comum em Brasília. Segundo sua defesa, as ações estão “absolutamente dentro da cultura político institucional brasileira, que demanda essa espécie de contato”. Se o processo administrativo disciplinar (PAD) contra Rosemary vingar, ela não poderá mais fazer parte do serviço público federal, e certamente uma sanção terá desdobramentos muito negativos no processo penal a que responde.
Daí porque causa a Rosemary surpresa a fúria punitiva com que se lança o próprio Governo Federal contra ela. Ela identifica na ministra-chefe do Gabinete Civil, Gleisi Hoffman a responsável pelo rigor da investigação, e o núcleo petista que reclama disso vê na ministra e em seu marido o ministro da Comunicação Paulo Bernardo traços de deslealdade.
Até que ponto Rosemary aceitará passivamente servir de bode expiatório? Ou a presidenta Dilma não comanda seus burocratas, e as instituições atuam sob o comando de outros personagens? Rosemary não acredita nisso.

Nenhum comentário: