quinta-feira, 18 de abril de 2013

Desde o início da crise, a Espanha é o país em que a imagem da UE mais se deteriorou
Joaquín Estefanía - El Pais
Alvaro Barrientos/AP
Espanhóis protestam na cidade de Barakaldo, no País Basco, contra o desemprego
Espanhóis protestam na cidade de Barakaldo, no País Basco, contra o desemprego
A imagem corresponde a alguém tão pouco suspeito de antieuropeísmo quanto Felipe González: o cenário europeu se parece cada vez mais com um canódromo, o lugar onde se realizam corridas de cães. O galgo que corre (os Estados nacionais, neste caso a Espanha) tenta alcançar uma lebre mecânica (a UE), que o deixa de língua de fora. Quando o galgo está prestes a apanhar a lebre mecânica, aquele que a conduz (Berlim) lhe dá outro puxão e a lebre se afasta de novo, obrigando o galgo a um novo esforço.
A metáfora lembra o que ocorreu na semana passada quando a Comissão Europeia se reuniu para abordar a supervisão e correção dos desequilíbrios macroeconômicos dos países e suspendeu a Espanha em seis dos dez indicadores abordados. Depois de garantir algo tão retórico quanto que a Espanha está no bom caminho, intimou o governo a apresentar um plano integral de reformas (leia-se "cortes" na maioria dos casos), entre os quais estão uma reforma trabalhista ainda mais agressiva (redução da indenização por demissão sem justa causa), aposentadorias, aumento de impostos, etc,, em troca de flexibilizar uma via de redução do déficit que todo mundo, absolutamente todo mundo, sabe que é impossível cumprir, sob pena de mergulhar a Espanha em uma depressão ainda mais profunda.
Crise financeira pelo mundo
O governo afirma que a análise feita por Bruxelas acaba em 2011 (Zapatero) e não reflete a correção que ocorreu no ano passado e que dá como resultado a melhora em oito indicadores. O problema é que os dois que pioraram são o desemprego (que vai ultrapassar 27% da população ativa) e a dívida pública, que em um só exercício cresceu 15 pontos e que em 2015 chegará a 100% do PIB (mais 16 pontos).
Há uma certa mudança no ponto de vista do governo sobre nosso papel no canódromo. O cansaço se manifestou no Congresso no último dia 10, onde pareceu estar se estabelecendo um novo consenso entre as forças políticas. Desta vez sobre a "limitação europeia", mais que sobre a "solução europeia". Até agora, o pensamento dominante indicava que estar na Europa, pertencer à Europa, tornava nosso país mais democrático e mais justo. Nas últimas pesquisas se manifesta que pela primeira vez desde que a Espanha ingressou no clube, na metade da década de 1980, este não é visto pelos cidadãos como a solução para suas dificuldades, senão como um problema em si. Desde que começou a crise econômica, a
Espanha é o país em que a imagem da UE mais se deteriorou, um mal-estar desconhecido por sua intensidade. O FMI, um dos três membros da troika que vigia os países europeus sob intervenção, e que dá uma mão de cal e outra de areia em suas mensagens, mencionava há alguns dias o perigo do " cansaço" dos cidadãos diante de uma austeridade tão longa, tão autoritária e tão única.
Tradutor: Luiz Roberto Mendes Gonçalves 

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