JOSÉ ROBERTO DE TOLEDO - O Estado de S.Paulo
Enquanto presidenciáveis da oposição falam para empresários e públicos já catequizados, Dilma Rousseff (PT) acelera a própria sucessão. Transforma inaugurações em comícios, e pronunciamentos formais em discursos de campanha. O descompasso entre a velocidade da presidente e a lentidão dos opositores faz parecer que são eles e não ela a ostentar intenção de voto recorde.
Dilma tem 35% das intenções de voto espontâneas tanto no Ibope quanto no Datafolha. É uma taxa inédita para um presidente disputando reeleição a um ano e meio do pleito. Mas grande parte desses eleitores é cativa, declara voto no candidato petista seja ele quem for. Partidários, aprovam qualquer gestão do PT.
É o que acontece com o prefeito paulistano Fernando Haddad, cujo saldo de aprovação com cem dias de mandato só não é maior do que o de outra prefeita petista de São Paulo: Marta Suplicy. Mas Marta não conseguiu se reeleger - porque o eleitorado cativo do PT nunca basta para um petista alcançar maioria absoluta.
A questão, portanto, não é quão intenso está ou não o apoio do terço de petistas ao seu candidato, mas qual a força da candidatura do PT nos outros dois terços do eleitorado - seja o brasileiro ou o paulistano.
Segundo o Datafolha, quase metade dos 35% de votos espontâneos de Dilma vem hoje de eleitores que se declaram petistas ou simpatizantes. É um fato contra o qual a oposição pode pouco.
O peso dos petistas no total dos que declaram voto em Dilma diminui quando a intenção de voto é estimulada. Isso ocorre porque mais eleitores não petistas tomam conhecimento, pelo pesquisador, de quem são os candidatos e, a partir dessa informação, escolhem um nome. Se só conhecem ou ouvem falar do nome de Dilma, tendem a citá-lo com mais frequência.
Esse é o campo de manobra dos oposicionistas. Mas, para manobrar, os candidatos a presidente da oposição precisam se tornar conhecidos e ter um discurso com apelo às aspirações desses eleitores não petistas. Por enquanto, nenhum presidenciável oposicionista encontrou seu público nem seu mote.
"Faremos uma campanha permanente de oposição clara ao governo do PT porque, para o Brasil, esse ciclo de governo do PT precisa e deve ser interrompido", disse Aécio Neves (PSDB-MG), em seminário promovido pelo PPS na Câmara dos Deputados.
A frase joga a oposição ao futuro, como algo a ser feito. Antes tarde do que nunca. Mas ao chamar sua campanha de "permanente", as palavras do candidato contradizem os votos do senador.
Nos dois primeiros anos de mandato, Aécio foi mais governista do que opositor nas votações nominais no Senado: votou com o governo 55% das vezes. Foi superado em "oposicionismo" por seis colegas da bancada tucana, mas em "governismo", por apenas três. Não é das mais claras e permanentes demonstrações de oposição.
Aécio Neves mirava o governador Eduardo Campos (PSB-PE), um aliado que sobe em palanques com Dilma enquanto aguarda e torce por uma oportunidade para lançar-se em voo solo à Presidência. O governador de Pernambuco faz um discurso oposicionista que mais assopra do que morde, à espreita de uma crise econômica que ainda não chegou - e talvez não chegue em tempo para a sucessão.
As chances de Campos residem num fracasso claro de Dilma na área econômica. Não um fracasso de índices e indicadores, mas de percepção popular. Algo que seja sentido no bolso antes de ser propagandeado em campanhas de comunicação. Mas a eventual derrocada da presidente não poderia ser rápida e forte a ponto de ressuscitar um fantasma hoje esquecido: a volta de Lula.
O problema do governador de Pernambuco, portanto, não é apenas o timing da pressuposta crise econômica, mas também a sua intensidade. Ele não controla nenhum desses fatores e, portanto, sua candidatura será, se for, fruto apenas de oportunidade - salvo, é claro, a hipótese de Campos assumir um discurso frontalmente oposicionista e abrir mão das benesses federais.
Outra banda da oposição tenta fazer do tomate uma limonada. No desejo de provar a si mesma que o precipício econômico está logo ali em 2014, confunde preço alto com inflação. Na busca de um ícone popular para a crise ansiada, trocou o PIB pelo fruto.
O que corrói a renda são aumentos sucessivos de preços, não oscilações sazonais exorbitantes. Só será possível extrair sumo eleitoral do tomate se seu preço continuar a subir sem parar. E não basta ser só o tomate e a cebola. Tem de subir todo o resto do churrasco: a carne, o arroz, o pão. Tem de subir e não cair. Fora esse cenário, a piada com tomate já vem pronta e repisada.
Dilma tem 35% das intenções de voto espontâneas tanto no Ibope quanto no Datafolha. É uma taxa inédita para um presidente disputando reeleição a um ano e meio do pleito. Mas grande parte desses eleitores é cativa, declara voto no candidato petista seja ele quem for. Partidários, aprovam qualquer gestão do PT.
É o que acontece com o prefeito paulistano Fernando Haddad, cujo saldo de aprovação com cem dias de mandato só não é maior do que o de outra prefeita petista de São Paulo: Marta Suplicy. Mas Marta não conseguiu se reeleger - porque o eleitorado cativo do PT nunca basta para um petista alcançar maioria absoluta.
A questão, portanto, não é quão intenso está ou não o apoio do terço de petistas ao seu candidato, mas qual a força da candidatura do PT nos outros dois terços do eleitorado - seja o brasileiro ou o paulistano.
Segundo o Datafolha, quase metade dos 35% de votos espontâneos de Dilma vem hoje de eleitores que se declaram petistas ou simpatizantes. É um fato contra o qual a oposição pode pouco.
O peso dos petistas no total dos que declaram voto em Dilma diminui quando a intenção de voto é estimulada. Isso ocorre porque mais eleitores não petistas tomam conhecimento, pelo pesquisador, de quem são os candidatos e, a partir dessa informação, escolhem um nome. Se só conhecem ou ouvem falar do nome de Dilma, tendem a citá-lo com mais frequência.
Esse é o campo de manobra dos oposicionistas. Mas, para manobrar, os candidatos a presidente da oposição precisam se tornar conhecidos e ter um discurso com apelo às aspirações desses eleitores não petistas. Por enquanto, nenhum presidenciável oposicionista encontrou seu público nem seu mote.
"Faremos uma campanha permanente de oposição clara ao governo do PT porque, para o Brasil, esse ciclo de governo do PT precisa e deve ser interrompido", disse Aécio Neves (PSDB-MG), em seminário promovido pelo PPS na Câmara dos Deputados.
A frase joga a oposição ao futuro, como algo a ser feito. Antes tarde do que nunca. Mas ao chamar sua campanha de "permanente", as palavras do candidato contradizem os votos do senador.
Nos dois primeiros anos de mandato, Aécio foi mais governista do que opositor nas votações nominais no Senado: votou com o governo 55% das vezes. Foi superado em "oposicionismo" por seis colegas da bancada tucana, mas em "governismo", por apenas três. Não é das mais claras e permanentes demonstrações de oposição.
Aécio Neves mirava o governador Eduardo Campos (PSB-PE), um aliado que sobe em palanques com Dilma enquanto aguarda e torce por uma oportunidade para lançar-se em voo solo à Presidência. O governador de Pernambuco faz um discurso oposicionista que mais assopra do que morde, à espreita de uma crise econômica que ainda não chegou - e talvez não chegue em tempo para a sucessão.
As chances de Campos residem num fracasso claro de Dilma na área econômica. Não um fracasso de índices e indicadores, mas de percepção popular. Algo que seja sentido no bolso antes de ser propagandeado em campanhas de comunicação. Mas a eventual derrocada da presidente não poderia ser rápida e forte a ponto de ressuscitar um fantasma hoje esquecido: a volta de Lula.
O problema do governador de Pernambuco, portanto, não é apenas o timing da pressuposta crise econômica, mas também a sua intensidade. Ele não controla nenhum desses fatores e, portanto, sua candidatura será, se for, fruto apenas de oportunidade - salvo, é claro, a hipótese de Campos assumir um discurso frontalmente oposicionista e abrir mão das benesses federais.
Outra banda da oposição tenta fazer do tomate uma limonada. No desejo de provar a si mesma que o precipício econômico está logo ali em 2014, confunde preço alto com inflação. Na busca de um ícone popular para a crise ansiada, trocou o PIB pelo fruto.
O que corrói a renda são aumentos sucessivos de preços, não oscilações sazonais exorbitantes. Só será possível extrair sumo eleitoral do tomate se seu preço continuar a subir sem parar. E não basta ser só o tomate e a cebola. Tem de subir todo o resto do churrasco: a carne, o arroz, o pão. Tem de subir e não cair. Fora esse cenário, a piada com tomate já vem pronta e repisada.
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