sexta-feira, 19 de abril de 2013

Milhares de argentinos saem às ruas para protestar contra governo
Manifestação agora é contra reforma do Poder Judiciário
Manifestantes também se queixam de inflação e denúncias de corrupção
Janaína Figueiredo - O Globo

Argentinos carregam bandeira durante panelaço em Buenos Aires
Foto: Victor R. Caivano / AP
Argentinos carregam bandeira durante panelaço em Buenos AiresVictor R. Caivano / AP
BUENOS AIRES — O governo da presidente argentina, Cristina Kirchner, enfrentou nesta quinta-feira uma nova onda de panelaços, desta vez, em repúdio a um pacote de projetos que preveem uma profunda reforma do Judiciário. A medida é considerada por todos os partidos opositores uma tentativa de ampliar seu poder. Pouco antes da votação de um dos projetos enviados pelo Executivo ao Senado (onde foi aprovado), a capital argentina e cidades como Córdoba, Rosário e Santa Fé foram cenário de protestos convocados pelas redes sociais para questionar, também, a corrupção, a inflação, a insegurança e outros problemas sociais e econômicos que assolam o país.
Assim como em ocasiões anteriores, o protesto foi convocado por meio das redes sociais, com apoio da oposição, meses antes da realização de eleições legislativas, nas quais o governo tentará conservar sua maioria parlamentar. Antes de partir para Lima, onde participou de uma reunião extraordinária da União de Nações Sul-americanas (Unasul), convocada para analisar a delicada situação política venezuelana, Cristina referiu-se aos protestos:
- Bom, quem quiser protestar, me parece bem, mas seria bom, também, que pudessem ajudar - afirmou a presidente argentina.
Mais preocupada com a crise venezuelana do que com as manifestações contra seu governo, Cristina partiu com a certeza de que sua bancada no Senado conseguiria aprovar um dos seis projetos considerados cruciais por seu governo. Depois da longa disputa entre o Executivo argentino e o grupo Clarín sobre a plena aplicação da Lei de Meios, que regula a propriedade de veículos de comunicação, a Casa Rosada decidiu que chegou a hora de reformar o Judiciário.
O argumento oficial é a necessidade de “democratizar a Justiça”. Já a oposição considera a iniciativa uma “clara estratégia para ampliar o controle sobre outras instituições do Estado”.
A elevada inflação no país, que, segundo especialistas, é o dobro dos números oficiais, além de várias denúncias de corrupção eram outras das queixas dos manifestantes.
- Estou cansado das mentiras e da prepotência. Cansado de que roubem tudo. O protesto é massivo - disse à Reuters Gabriel Segura, de 28 anos.
Em meio à multidão, que mostrava cartazes com dizeres como “Basta” e vários tipos de exigências, a TV local mostrou diversos membros da oposição política e sindical.
- Alguém tem que responder pelos níveis sem precedentes de corrupção que estamos vendo. Gostaria que meus companheiros da Frente para a Vitória (governista) viessem à rua e escutassem as pessoas - afirmou ao canal C5N Sergio Bergman, do partido opositor PRO.
Alheia, Cristina viaja a Lima
Cristina viajou para o Peru junto a seu colega uruguaio, José “Pepe” Mujica, uma hora antes do início do panelaço. Foi o primeiro encontro entre ambos depois do incidente diplomático provocado por declarações de Mujica sobre Cristina. Sem perceber que estava sendo gravado, o presidente uruguaio assegurou que “esta velha (Cristina) é pior do que o caolho (o ex-presidente Néstor Kirchner)”.
Depois de ser reeleita em 2011 com 54% dos votos, a aprovação da gestão de Cristina caiu de forma sustentada durante o ano passado. O estilo de confronto da presidente, que chegou ao governo em 2007 sucedendo seu marido Néstor Kirchner, que morreu em 2010, provocou disputas com diversos grupos e corporações nos últimos anos e também costuma causar mal-estar entre seus opositores.

Nenhum comentário: