Produção de ópio no Afeganistão registra aumento pelo 3° ano consecutivo

Rob Nordland - NYT                      

Pelo terceiro ano consecutivo, o cultivo de ópio aumentou por todo o Afeganistão, revertendo quedas anteriores conseguidas pelo esforço internacional e do governo afegão de uma década de combate ao narcotráfico, segundo um relatório da ONU divulgado na segunda-feira (15).
Os resultados do relatório aumentaram as preocupações entre as autoridades internacionais de que se a tendência continuar, o ópio se transformará na principal atividade econômica do país após a retirada das forças militares estrangeiras em 2014, levando ao espectro do que já foi chamado de "o primeiro verdadeiro narco-Estado do mundo".
O Afeganistão já é o maior produtor mundial de ópio e foi responsável no ano passado por 75% da oferta mundial de heroína. "A previsão é de que volte novamente a 90% neste ano", disse Jean-Luc Lemahieu, a principal autoridade antinarcóticos da ONU aqui.
O relatório, o Levantamento de Risco do Ópio do Afeganistão 2013, emitido pelo Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime e baseado em levantamentos extensos, apontou que o cultivo de ópio aumentou em 12 das 34 províncias do país. Herat, no oeste do Afeganistão, é a única província na qual a expectativa é de que o cultivo diminua, disse o relatório.
O relatório sugere que insurgentes do Taleban tiraram proveito da insegurança em várias províncias para auxiliar os produtores de ópio e conquistar apoio popular –protegendo uma importante forma de renda para suas operações. O cultivo de ópio aumentou mais onde havia insegurança.
Ao todo, o número de hectares dedicados ao cultivo de ópio neste ano deverá superar o número de 2008, quando o plantio da papoula atingiu o pico de 157 mil hectares, disse Lemahieu. Depois de 2008, os esforços de erradicação, assim como o programa de incentivo em dinheiro para as províncias que erradicassem todo o cultivo de ópio, ajudaram a reduzir o cultivo drasticamente até 2010.

Neste ano, três províncias –Balkh, Faryab e Takhar, no norte e no oeste– correm o risco de perderem seu status de livres da papoula, segundo o relatório das ONU. Elas estão entre as 16 províncias que foram declaradas livres da papoula. Essas províncias receberam prêmios de US$ 1 milhão da embaixada americana, pagos diretamente ao gabinete do governador.
Em fevereiro, o Departamento de Estado anunciou que estava distribuindo US$ 18,2 milhões em Prêmios da Iniciativa Bom Desempenho para redução do cultivo da papoula no Afeganistão. Não houve resposta imediata das autoridades da embaixada americana sobre como o programa seria afetado pelos novos dados da ONU.
A produção de ópio se tornou particularmente alta na província de Helmand no sul, a maior produtora de ópio do país, e na província de Kandahar. Em ambos os lugares, o aumento de tropas americanas ajudou a reduzir a influência do Taleban, mas à medida que essas tropas começaram a ser retiradas no ano passado, o cultivo aumentou drasticamente. Mais de 70% da produção de ópio atualmente ocorre nas três províncias onde ocorreu o aumento de tropas.
"Este país está a caminho de se tornar o primeiro narco-Estado real do mundo", disse uma autoridade internacional, que não quis ser citada criticando o governo afegão. "O comércio de ópio já representa uma parte muito maior da economia do que os narcóticos já representaram na Bolívia ou na Colômbia."
Mas Mirwais Yasini, um ex-chefe de combate aos narcóticos do governo afegão e atualmente um membro proeminente do Parlamento, disse: "Eu não iria tão longe".
"Mas caso fique assim no futuro, eu me preocuparia com isso", ele disse.
Yasini disse que os esforços de erradicação foram minados pela insegurança, somada à corrupção nas esferas local, provincial e nacional. "Eu não vejo nada palpável sendo feito", ele disse. "Não há substituição significativa de plantações e nenhuma fiscalização eficaz."
A ONU estimou no passado que o tráfico de ópio seja responsável por 15% do produto interno bruto do Afeganistão, um número que deverá aumentar à medida que os gastos militares e de desenvolvimento internacionais diminuírem com a retirada da Otan no final de 2014.
O setor de mineração, a outra grande esperança de autossuficiência econômica para o Afeganistão, ainda está moribundo enquanto o Parlamento afegão continua brigando em torno da lei de mineração. A falta de segurança e de clareza legal também impede a exploração em grande escala dos recursos minerais.
O aumento no cultivo da papoula é atribuído principalmente à alta histórica dos preços do ópio, somada à insegurança. Os preços começaram a subir drasticamente em 2010, quando uma praga nas papoulas reduziu severamente a produção, mas permaneceram altos desde então. Os produtores ganham até US$ 203 por quilo de ópio colhido, em comparação a apenas US$ 0,43 por quilo de trigo ou US$ 1,25 por quilo de arroz, segundo o relatório.
Lemahieu elogiou os esforços do Ministério do Combate às Drogas afegão, mas disse que os doadores internacionais não financiam suficientemente programas fundamentais para o combate ao tráfico, com apenas US$ 300 mil doados dos US$ 11 milhões pedidos para este ano.
Tradutor: George El Khouri Andolfato