terça-feira, 30 de abril de 2013

Congelamento não segura preços em mercados da Argentina
De março a abril, alta foi de 8,8% para 4.960 itens, diz consultoria
Janaína Figueiredo - O Globo

Consumidores esperam para comprar carne em mercado na periferia de Buenos Aires
Foto: Marcos Brindicci/ReutersConsumidores esperam para comprar carne em mercado na periferia de Buenos Aires Marcos Brindicci/Reuters
BUENOS AIRES - Passados três meses desde que o governo de Cristina Kirchner decidiu recorrer ao congelamento de preços, entidades de defesa do consumidor e consultorias concordam que a medida desacelerou a inflação, mas não conteve integralmente os aumentos em supermercados. De acordo com a ONG Consumidores Livres, comandada pelo ex-deputado socialista Hector Polino, entre 1º de fevereiro e 15 de abril, o valor de uma cesta de 38 produtos básicos foi reajustado em 1,85%. No mesmo período de 2012, o percentual alcançara 6,20%. Outros estudos já apontam alta, entre março e abril, de 8,8% para um grupo de 4.960 itens.
— A inflação não desapareceu dos supermercados, mas diminuiu bastante. A questão é até quando o governo poderá manter esta política, que não resolve o problema — disse Polino ao GLOBO.
Em meados de 2012, a ONG foi acusada pelo governo de ter violado a Lei de Defesa do Consumidor, por divulgar dados sobre inflação no jornal “Clarín”, considerado inimigo pela Casa Rosada. O caso ainda está aberto nos tribunais, e a entidade foi retirada do registro oficial de associações de defesa do consumidor.
Conforme a ONG, entre 1º de janeiro (quando o congelamento ainda não estava em vigor) e 1º de abril, alguns alimentos sofreram reajustes expressivos: cebola (48%), laranja (25%), pão (14,75%), farinha (9,89%) e chá (8,65%). Polino estima que este ano a inflação ficará entre 23% e 25%, taxa similar à de 2012, conforme cálculo das principais consultorias do país.
O congelamento aplicado pelo polêmico secretário de Comércio Interior, Guillermo Moreno, que também está à frente do Indec (o equivalente local ao IBGE), acusado de manipular as estatísticas oficiais, não inclui despesas como roupas, calçados, transporte, mensalidades escolares, clubes, farmácias e telefonia celular. Alguns itens são mais controlados do que outros. Os planos de saúde, por exemplo, só podem aplicar reajustes com autorização do Ministério da Saúde.
Reajustes foram maiores no interior
Nas últimas seis semanas, a consultoria Elypsis monitorou preços que deveriam estar congelados e constatou, numa amostra de 53 mil produtos, um aumento, em média, de 1%. Os reajustes são maiores em supermercados e armazéns da Grande Buenos Aires e do interior do país, onde o governo não exerce controle tão rigoroso. Nos grandes supermercados da capital e das grandes cidades, os preços se mantiveram estáveis, segundo a Elypsis. Dos 53 mil produtos monitorados, 4.960 sofreram aumentos entre a primeira semana de março e a primeira semana de abril. Em média, os reajustes foram de 8,8%.
— Temos um congelamento parcial — disse Claudia Collado, da ONG Ação do Consumidor (ADELCO).
Para ela, a situação dos consumidores é de incerteza, porque não sabem que preços encontrarão nos mercados.
Segundo o Indec, em março a inflação alcançou 0,7%, abaixo do 1,54% calculado por consultorias privadas que — para evitar perseguição — entregam as estatísticas a deputados opositores, que divulgam mensalmente o Índice de Preços do Congresso. O índice mostra inflação acumulada em 12 meses de 24,43%.

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