domingo, 28 de abril de 2013

Especialistas preveem um colapso na reforma da saúde nos EUA
David Brooks - NYT
SXC
Sempre se soube que seria difícil implantar a reforma da saúde de Obama, mas até mesmo os defensores fervorosos da lei admitem que as coisas estão se saindo piores do que o esperado.
A implantação começou mal porque o governo Obama não quis divulgar regras impopulares antes da eleição. Os reguladores estão trabalhando arduamente, mas estão claramente sobrecarregados, tentando escrever regras que influenciam todo o setor de saúde – uma unidade econômica aproximadamente do tamanho da França. Os republicanos no Congresso também estão tornando as coisas mais difíceis, ao se recusarem a fornecer recursos suficientes para a implantação.
No momento, todos os envolvidos parecem estar em um estado de ansiedade. As seguradoras estão tentando oferecer novos produtos, mas elas não sabem que parâmetros federais precisam atender. As pequenas empresas estão furiosas porque os artigos que as beneficiavam foram colocados em segundo plano. Os sistemas de saúde estão altamente frustrados. Eles não podem planejar sem um roteiro. O senador Max Baucus, um dos autores da lei, diz que está vendo um "imenso descarrilamento de trem" à frente.
Eu tenho conversado com um grupo bipartidário de especialistas em saúde, tentando ter uma ideia de quão exatamente ruins as coisas estão. Nas minhas conversas com esse grupo extremamente bem informado de provedores, acadêmicos e ex-autoridades de governo, eu diria que há uma minoria, incluindo alguns defensores da lei, que acham que a situação toda é um desastre completo. Eles preveem o colapso da reforma da saúde de Obama e sérios danos ao sistema de saúde.
Mas a grande maioria, incluindo alguns oponentes da lei, acredita que provavelmente enfrentaremos alguns poucos anos de confusão, período durante o qual todo mundo vai se atrapalhar e se ajustar, mas depois tudo se assentará na nova normalidade.
O que ninguém pode prever é como o caos na saúde interagirá com o sistema político. Há uma boa chance de que os republicanos possam usar o descontentamento com uma lei que já é impopular para reconquistar o Senado em 2014. Controlando ambas as casas no Congresso, eles estarão em uma boa posição para alterar, mas não reverter, o programa.
Os maiores defensores da lei então se tornarão as seguradoras e empresas de saúde. Após gastarem bilhões de dólares se adaptando ao novo sistema, elas não vão querer vê-lo derrubado ou substituído.
Os especialistas falam sobre os problemas que se encontram à frente. Primeiro, há o que poderia ser chamado de efeito cascata estrutural. Tudo está se tornando muito mais complicado do que originalmente previsto. A decisão da Suprema Corte deixou a parte do Medicaid (o seguro-saúde público para pessoas de baixa renda) mais complicada. As linhas de prestação de contas entre, por exemplo, as bolsas estaduais e federais de planos de saúde se tornaram complexas e não claras.
A lei que já era confusa se tornou incompreensível. Isso pode levar a uma paralisação. As seguradoras hesitarão antes de se aventurarem nas bolsas estaduais, limitando assim a concorrência e a escolha. Os americanos ficarão confusos. Muitos manterão distância, mesmo tendo direito aos benefícios.
Há o efeito cascata técnico. Em algum momento, as pessoas vão se sentar diante dos computadores e vão se inscrever. Se o processamento de dados for falho, se a informação não fluir livremente, então o impacto sobre a opinião pública será catastrófico.
Também há o efeito cascata de custos. Quase todo mundo que não está a serviço do governo concorda que a lei não resolve o problema dos custos, e muitas das recentes decisões regulatórias aumentarão os custos. Um estudo na Califórnia apontou que os preços dos planos poderiam aumentar em média em 20% para as pessoas não cobertas pelos subsídios federais. Um estudo realizado pela Sociedade dos Atuários apontou que os custos poderiam subir 32% até 2017 para as seguradoras cobrindo pessoas nas bolsas de planos de saúde individuais, e até 80% em Estados como Ohio.
Outro é o efeito cascata da seleção adversa. Segundo a lei, as pessoas jovens com saúde subsidiam as pessoas mais pobres, mais doentes e mais velhas. Mas os jovens podem decidir em massa que é totalmente irracional adquirirem um seguro saúde que subsidia outros enquanto eles estão saudáveis. Eles estarão em melhor situação pagando as multas, caso venham a ser aplicadas, e optando por sair do sistema. Sem planos para os jovens, os custos para todos os demais serão mais altos.
Finalmente, há o efeito cascata da concentração de provedores. A lei incentiva ainda mais uma tendência já em andamento: a consolidação de hospitais, consultórios médicos e outros provedores. Isso também aumenta os preços.
De modo geral, parece provável que de uma forma ou outra a reforma da saúde de Obama veio para ficar. Mas a turbulência em torno dela pode vir a dominar a política por mais outro ciclo eleitoral, e as mudanças depois disso – para finalmente controlar custos, consertar as complexidades e as consequências indesejadas– nunca terminarão.
Regimes regulatórios podem ser simples e burros ou complexos e vastos. Quando se faz algo complexo, é necessário um tempo para resolver as consequências.
Tradutor: George El Khouri Andolfato   

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