sexta-feira, 1 de março de 2013

Descobertas de esconderijos de armas se multiplicam na Tunísia
Isabelle Mandraud - Le Monde
Fethi Belaid/AFP

Apoiantes do partido tunisiano Al-Nahda participam de uma manifestação no centro de Túnis, na Tunísia, após o assassinato do líder da oposição, Chokri BelaidApoiantes do partido tunisiano Al-Nahda participam de uma manifestação no centro de Túnis, na Tunísia, após o assassinato do líder da oposição, Chokri Belaid
Um "corredor" para outros destinos, como havia evocado o presidente Moncef Marzouki? Ou uma preocupante formação de arsenais? As apreensões de armas se multiplicam na Tunísia, onde vários esconderijos foram descobertos desde o início do ano. O último, contendo três fuzis, quatro Kalashnikovs, duas granadas e mais de 300 cartuchos, teria sido encontrado pelas forças de segurança durante uma batida em um apartamento no centro de Túnis, relatou em 27 de fevereiro o jornal em língua árabe "Chourouk".
Na véspera, dois ocupantes de um carro onde havia uma metralhadora e munições teriam sido interpelados durante um controle de rotina em Menzel Bouzelfa, na governação de Nabeul. Em 21 de fevereiro, 13 suspeitos também foram apreendidos em duas cidades populares a oeste de Túnis, em posse de grande quantidade de armas. "Dezenas de lança-foguetes [RPG], Kalashnikovs, munições e explosivos foram descobertos pela Guarda Nacional em Mnihla", uma comuna situada a 15 km da capital, indicou então o Ministério do Interior tunisiano, expondo em seu site na Internet as fotos do arsenal descoberto.
Em Douar Hicheur, um bairro popular considerado uma praça-forte dos jihadistas salafistas, uma importante quantidade de armas brancas foi encontrada. Em 17 de janeiro em Médenine, a 480 quilômetros ao sul de Túnis, 65 foguetes, três GPS e 13 lança-foguetes foram apreendidos.
Essa proliferação de armas, atribuída à dispersão dos antigos arsenais do coronel Gaddafi da Líbia, preocupa as autoridades tunisianas enquanto se multiplicam os choques entre as forças de segurança e grupos armados. Em 21 de fevereiro, abrigados na mesquita Errahma de Sidi Bouzid, local da insurreição tunisiana, indivíduos abriram fogo contra a polícia e feriram dois policiais. Em 29 de janeiro, outros choques, desta vez em Kasserine (a 300 km de Túnis), terminaram com dois outros agentes feridos por tiros.
O mais preocupante: em dezembro de 2012, o ministro do Interior, Ali Larayedh - atualmente chamado a formar um novo governo -, reconheceu pela primeira vez a existência de um campo de treinamento de extremistas religiosos na região de Kasserine, perto da fronteira com a Argélia, no monte Chaambi. "Descobrimos um grupo terrorista ligado à Al Qaeda no Magreb Islâmico [AQMI] em um campo de treinamento dirigido por três argelinos ligados a Abou Mossaab Abdel Wadoud", declarou o ministro em uma entrevista coletiva, citando o nome de guerra de Abdelmalek Droukdal, o chefe da AQMI.
No local, munições, explosivos, binóculos, mapas militares e roupas de combate foram apreendidos e 16 homens, interpelados. O grupo, chamado "Falange Okba Ibnou Nafâa", segundo Larayedh, era procurado depois da morte alguns dias antes de um guarda tunisiano. Esse campo, segundo o ministro, tinha o objetivo de criar "uma organização jihadista capaz de realizar atos violentos com o fim de impor a xariá", a lei islâmica, na Tunísia. Perto dali, em Ferfana, armas automáticas tinham sido apreendidas, também durante o mês de dezembro.
Essa situação levou as autoridades tunisianas a discutir com seus homólogos argelinos. No final de janeiro, depois da intervenção francesa no Mali e da sangrenta tomada de reféns nas instalações de gás de Tigantourine, na Argélia, por um comando do qual fariam parte 11 tunisianos, o chefe de Estado Marzouki também se encontrou com o presidente do Senado da Argélia, Abdelkader Bensalah, para avaliar "uma estratégia clara sobre os desafios de segurança" na região.
Até agora na Tunísia o tráfico de armas e treinamento pareciam reservados aos extremistas religiosos que partiram para combater o regime de Bashar Al-Assad na Síria ou unir-se às fileiras jihadistas no Mali. O grupo salafista mais conhecido em Túnis, Ansar Al-Charia, cujo chefe, Abou Ayad, é procurado pela polícia depois do ataque à embaixada americana em 14 de setembro de 2012, sempre insistiu no fato de que a Tunísia não era "uma terra de jihad, mas de pregação". Mas o assassinato em 6 de fevereiro do opositor de esquerda Chokri Belaid, morto diante de sua casa com vários tiros, mudou a situação.
Desde então, o ministro do Interior designou claramente o movimento salafista como o principal suspeito, o que foi desmentido na quarta-feira (27) por sites fundamentalistas na Internet.
Tradutor: Luiz Roberto Mendes Gonçalves

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