Sophie Landrin - Le Monde
Getty Images
Já se sabia que a água da torneira não era livre de poluentes. A França está sendo processada pela Comissão Europeia por sua incapacidade de combater a contaminação dos lençóis freáticos por nitratos. Mas os consumidores acreditavam estar protegidos ao beber água engarrafada, conhecida por sua pureza original. Essas águas oriundas unicamente de uma fonte subterrânea deviam ser desprovidas de qualquer poluente de origem humana sem nenhum tratamento químico.
Um estudo conduzido pela revista "60 Millions de Consommateurs" e pela fundação de Danielle Mitterrand, a France Libertés, divulgado na segunda-feira (25), põe em xeque essa certeza: a água mineral engarrafada não escapa da contaminação --47 amostras de garrafas de água de diferentes marcas foram analisadas e 85 moléculas foram pesquisadas, sobretudo moléculas medicamentosas ou disruptores endócrinos que a regulamentação atual não obriga a controlar.
Resultados: dez garrafas comportavam resíduos de pesticidas e de medicamentos; 10% das águas engarrafadas apresentaram vestígios de tamoxifeno, um hormônio sintético usado no tratamento de câncer de mama. Como é possível essa poluição de água subterrânea, supostamente protegida de qualquer contaminação? Os toxicólogos não têm uma explicação.
Além disso, resíduos de um pesticida, a atrazina, foram encontrados em quatro águas engarrafadas (Cora com gás, Vittel, Volvic e Cristalline com gás). Esse herbicida nocivo para o ser humano foi proibido em 2001. Por que ele foi encontrado mais de dez anos depois? "Provavelmente porque são produtos muito persistentes e hidrossolúveis", observa a "60 Millions de Consommateurs".
A concentração desses poluentes é extremamente pequena --são doses que não apresentam risco para o consumidor--, mas essas descobertas fazem com que sejam reconsiderados os mecanismos de poluição das fontes.
Como os fabricantes de água mineral contestaram a pertinência desses testes, a "60 Millions de Consommateurs" realizou uma segunda série de medições, que confirmou os primeiros resultados. "O método que empregamos permitiu baixar muito o limiar de detecção. Pudemos rastrear moléculas em graus extremamente sutis. Para acabar com qualquer dúvida, é preciso que o poder público realize controles em grande escala", disse Thomas Laurenceau, redator-chefe da revista.
"Essas constatações revelam até que ponto nosso meio ambiente está contaminado. Não estamos questionando a potabilidade da água, mas sim os possíveis efeitos da mistura entre várias moléculas e as consequências dessas contaminações a longo prazo", diz Emmanuel Poilâne, da France Libertés.
A análise de certos galões de água, muitas vezes utilizados em empresas e repartições públicas, é mais preocupante para a saúde. Foram encontrados vestígios de bisfenol A, um disruptor endócrino, vestígios de pesticidas (atrazina) e de um retardador de chama, sobretudo em galões da marca Culligan. Uma concentração extremamente alta de uma dezena de microrganismos de bisfenol A por litro foi detectada. Como esses galões são reutilizáveis, os pesquisadores observaram que o teor de bisfenol A na água poderia aumentar com o tempo. Nos galões da Obio, vestígios de outro disruptor endócrino foram detectados.
A água de torneira também foi analisada em três departamentos da França: Ile-et-Vilaine, Haute-Vienne e Seine-et-Marne. Em sete de dez casos a água continha entre dois e quatro pesticidas. Dois resíduos de medicamentos também foram encontrados.
Para Emmanuel Poilâne, essa pesquisa mostra "que a lista atual dos poluentes controlados está aquém da realidade das contaminações e que as normas são obsoletas". A France Libertés e a "60 Millions de consommateurs" pedem para que as normas sejam refeitas do zero e que sejam conduzidos estudos sobre os efeitos da exposição a essas pequenas contaminações.
Essas novas revelações sobre a qualidade da água concluem "a operação transparência" lançada pelas duas associações em março de 2011. Elas evidenciaram o desperdício anual de 1,3 bilhão de metros cúbicos de água potável devido a vazamentos em canalizações coletivas, a pouca transparência no preço da água e a inúmeras derrogações que permitem que os municípios forneçam água que ultrapasse os limites de nitratos, de arsênio e de outros poluentes.
Após dois anos de investigação, as duas parceiras estão pedido com urgência por "conferências nacionais da água".
Tradutor: Lana Lim
Já se sabia que a água da torneira não era livre de poluentes. A França está sendo processada pela Comissão Europeia por sua incapacidade de combater a contaminação dos lençóis freáticos por nitratos. Mas os consumidores acreditavam estar protegidos ao beber água engarrafada, conhecida por sua pureza original. Essas águas oriundas unicamente de uma fonte subterrânea deviam ser desprovidas de qualquer poluente de origem humana sem nenhum tratamento químico.
Um estudo conduzido pela revista "60 Millions de Consommateurs" e pela fundação de Danielle Mitterrand, a France Libertés, divulgado na segunda-feira (25), põe em xeque essa certeza: a água mineral engarrafada não escapa da contaminação --47 amostras de garrafas de água de diferentes marcas foram analisadas e 85 moléculas foram pesquisadas, sobretudo moléculas medicamentosas ou disruptores endócrinos que a regulamentação atual não obriga a controlar.
Resultados: dez garrafas comportavam resíduos de pesticidas e de medicamentos; 10% das águas engarrafadas apresentaram vestígios de tamoxifeno, um hormônio sintético usado no tratamento de câncer de mama. Como é possível essa poluição de água subterrânea, supostamente protegida de qualquer contaminação? Os toxicólogos não têm uma explicação.
Além disso, resíduos de um pesticida, a atrazina, foram encontrados em quatro águas engarrafadas (Cora com gás, Vittel, Volvic e Cristalline com gás). Esse herbicida nocivo para o ser humano foi proibido em 2001. Por que ele foi encontrado mais de dez anos depois? "Provavelmente porque são produtos muito persistentes e hidrossolúveis", observa a "60 Millions de Consommateurs".
A concentração desses poluentes é extremamente pequena --são doses que não apresentam risco para o consumidor--, mas essas descobertas fazem com que sejam reconsiderados os mecanismos de poluição das fontes.
Como os fabricantes de água mineral contestaram a pertinência desses testes, a "60 Millions de Consommateurs" realizou uma segunda série de medições, que confirmou os primeiros resultados. "O método que empregamos permitiu baixar muito o limiar de detecção. Pudemos rastrear moléculas em graus extremamente sutis. Para acabar com qualquer dúvida, é preciso que o poder público realize controles em grande escala", disse Thomas Laurenceau, redator-chefe da revista.
"Essas constatações revelam até que ponto nosso meio ambiente está contaminado. Não estamos questionando a potabilidade da água, mas sim os possíveis efeitos da mistura entre várias moléculas e as consequências dessas contaminações a longo prazo", diz Emmanuel Poilâne, da France Libertés.
A análise de certos galões de água, muitas vezes utilizados em empresas e repartições públicas, é mais preocupante para a saúde. Foram encontrados vestígios de bisfenol A, um disruptor endócrino, vestígios de pesticidas (atrazina) e de um retardador de chama, sobretudo em galões da marca Culligan. Uma concentração extremamente alta de uma dezena de microrganismos de bisfenol A por litro foi detectada. Como esses galões são reutilizáveis, os pesquisadores observaram que o teor de bisfenol A na água poderia aumentar com o tempo. Nos galões da Obio, vestígios de outro disruptor endócrino foram detectados.
A água de torneira também foi analisada em três departamentos da França: Ile-et-Vilaine, Haute-Vienne e Seine-et-Marne. Em sete de dez casos a água continha entre dois e quatro pesticidas. Dois resíduos de medicamentos também foram encontrados.
Para Emmanuel Poilâne, essa pesquisa mostra "que a lista atual dos poluentes controlados está aquém da realidade das contaminações e que as normas são obsoletas". A France Libertés e a "60 Millions de consommateurs" pedem para que as normas sejam refeitas do zero e que sejam conduzidos estudos sobre os efeitos da exposição a essas pequenas contaminações.
Essas novas revelações sobre a qualidade da água concluem "a operação transparência" lançada pelas duas associações em março de 2011. Elas evidenciaram o desperdício anual de 1,3 bilhão de metros cúbicos de água potável devido a vazamentos em canalizações coletivas, a pouca transparência no preço da água e a inúmeras derrogações que permitem que os municípios forneçam água que ultrapasse os limites de nitratos, de arsênio e de outros poluentes.
Após dois anos de investigação, as duas parceiras estão pedido com urgência por "conferências nacionais da água".
Tradutor: Lana Lim
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