Vizinha a maior mina a céu aberto do mundo, Marabá vê o fim de empresas e desemprego
Cleide Carvalho - O Globo
A siderúrgica Carajás é uma das sete fechadas em Marabá. Seis mil postos de trabalho foram eliminados na cidade - FOTO: Michel Filho / Agência O Globo
A siderúrgica Carajás é uma das sete fechadas em Marabá. Seis mil postos de trabalho foram eliminados na cidade - FOTO: Michel Filho / Agência O Globo
MARABÁ (PA) — Com 233 mil habitantes, Marabá vive uma crise inusitada. Colada à maior mina de ferro a céu aberto do mundo, a da Serra dos Carajás, a cidade vê o minério escoar rumo à China enquanto seu parque industrial está quase parado. Das dez empresas de ferro gusa criadas para usar a principal matéria-prima da região, sete sucumbiram nos últimos quatro anos. A última a suspender a produção, a Cosipar, parou em outubro passado, demitindo 400 pessoas. Pelo menos seis mil vagas foram eliminadas, espalhando desemprego pela cadeia de prestadores de serviços.
— Estamos do lado da mina, mas pagamos pelo minério o mesmo preço dos compradores internacionais — diz Zeferino Abreu Neto, diretor do Sindicato das Siderúrgicas Produtoras de Ferro Gusa de Marabá (Sindiferpa).
A produção do gusa ficou inviável porque o preço de exportação do minério se tornou superior ao do gusa, cuja oscilação leva em conta também o valor da sucata. Além disso, as empresas amargaram a crise de seu principal comprador, os EUA. No auge da produção, em 2008, o polo chegou a exportar US$ 898 milhões. Em 2012, não passou de US$ 360 milhões. Outro golpe foi o cerco ao desmatamento ilegal na Amazônia, que obrigou as guseiras a garantir a legalidade de outro insumo, o carvão. Muitas carvoarias foram fechadas, por usar madeira tirada de áreas protegidas e até trabalho escravo.
Vale não comenta fechamento de empresas
Para viabilizar a produção, boa parte das guseiras investiram em reflorestamento. A área de floresta plantada já alcança 58 mil hectares, ainda insuficiente para sustentar a produção à plena capacidade do polo guseiro, que precisa em média de 530 quilos de carvão vegetal para cada tonelada de gusa.
Os demitidos do polo, que ganhavam salários acima de R$ 1.200, têm agora de recorrer a empregos no comércio e na construção civil. Em média, não pagam mais do que um salário mínimo.
— Até 2008 a gente trabalhava com produção em três turnos. Depois, começaram parar alguns fornos até que fechou. Com o salário da siderúrgica, eu conseguia pagar o aluguel. Agora, nem isso — lamenta Elias Marques Barbosa, 41 anos, pai de dois filhos e um dos demitidos da Cosipar.
O Grupo Leonar e Abreu Neto são sócios na Maragusa. Segundo o empresário, o investimento foi de R$ 70 milhões, R$ 20 milhões em reflorestamento, mas a empresa funcionou por apenas um ano e meio. Hoje, na fábrica novinha em folha, ficam apenas seguranças e um casal de zeladores, que tenta impedir que o mato tome conta.
— Quando o polo foi criado, há 20 anos, a Vale incentivou, porque não tinha para quem vender. Agora, o minério sai daqui e vai criar milhares de empregos na China.
Em 2010, o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva participou do lançamento de um megaempreendimento da Vale para usar na cidade o minério de Carajás: a Aços Laminados do Pará (Alpa). Em operação, a siderúrgica geraria 5.300 empregos diretos e 16 mil indiretos na aciaria e laminação.
Uma grande área à beira da Transamazônica foi aberta para dar lugar à Alpa, mas o projeto parou na terraplanagem. A Vale suspendeu o investimento à espera de um outro megaprojeto, o da hidrovia Araguaia-Tocantins, cuja navegabilidade no trecho depende da derrocada de cerca de 43 quilômetros de rocha do leito do rio, obra avaliada em pelo menos R$ 530 milhões.
Para o prefeito de Marabá, João Salame, um projeto de desenvolvimento da região passa pelo uso do minério de ferro.
— A Vale é quase um estado dentro do estado. A produção de minério de ferro no Pará vai superar a de Minas Gerais em pouco tempo. A Vale precisa entender que a população é sócia dela. A empresa precisa atuar ativamente e participar do desenvolvimento na região — diz Salame.
Procurada, a Vale não se pronunciou.
— Estamos do lado da mina, mas pagamos pelo minério o mesmo preço dos compradores internacionais — diz Zeferino Abreu Neto, diretor do Sindicato das Siderúrgicas Produtoras de Ferro Gusa de Marabá (Sindiferpa).
A produção do gusa ficou inviável porque o preço de exportação do minério se tornou superior ao do gusa, cuja oscilação leva em conta também o valor da sucata. Além disso, as empresas amargaram a crise de seu principal comprador, os EUA. No auge da produção, em 2008, o polo chegou a exportar US$ 898 milhões. Em 2012, não passou de US$ 360 milhões. Outro golpe foi o cerco ao desmatamento ilegal na Amazônia, que obrigou as guseiras a garantir a legalidade de outro insumo, o carvão. Muitas carvoarias foram fechadas, por usar madeira tirada de áreas protegidas e até trabalho escravo.
Vale não comenta fechamento de empresas
Para viabilizar a produção, boa parte das guseiras investiram em reflorestamento. A área de floresta plantada já alcança 58 mil hectares, ainda insuficiente para sustentar a produção à plena capacidade do polo guseiro, que precisa em média de 530 quilos de carvão vegetal para cada tonelada de gusa.
Os demitidos do polo, que ganhavam salários acima de R$ 1.200, têm agora de recorrer a empregos no comércio e na construção civil. Em média, não pagam mais do que um salário mínimo.
— Até 2008 a gente trabalhava com produção em três turnos. Depois, começaram parar alguns fornos até que fechou. Com o salário da siderúrgica, eu conseguia pagar o aluguel. Agora, nem isso — lamenta Elias Marques Barbosa, 41 anos, pai de dois filhos e um dos demitidos da Cosipar.
O Grupo Leonar e Abreu Neto são sócios na Maragusa. Segundo o empresário, o investimento foi de R$ 70 milhões, R$ 20 milhões em reflorestamento, mas a empresa funcionou por apenas um ano e meio. Hoje, na fábrica novinha em folha, ficam apenas seguranças e um casal de zeladores, que tenta impedir que o mato tome conta.
— Quando o polo foi criado, há 20 anos, a Vale incentivou, porque não tinha para quem vender. Agora, o minério sai daqui e vai criar milhares de empregos na China.
Em 2010, o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva participou do lançamento de um megaempreendimento da Vale para usar na cidade o minério de Carajás: a Aços Laminados do Pará (Alpa). Em operação, a siderúrgica geraria 5.300 empregos diretos e 16 mil indiretos na aciaria e laminação.
Uma grande área à beira da Transamazônica foi aberta para dar lugar à Alpa, mas o projeto parou na terraplanagem. A Vale suspendeu o investimento à espera de um outro megaprojeto, o da hidrovia Araguaia-Tocantins, cuja navegabilidade no trecho depende da derrocada de cerca de 43 quilômetros de rocha do leito do rio, obra avaliada em pelo menos R$ 530 milhões.
Para o prefeito de Marabá, João Salame, um projeto de desenvolvimento da região passa pelo uso do minério de ferro.
— A Vale é quase um estado dentro do estado. A produção de minério de ferro no Pará vai superar a de Minas Gerais em pouco tempo. A Vale precisa entender que a população é sócia dela. A empresa precisa atuar ativamente e participar do desenvolvimento na região — diz Salame.
Procurada, a Vale não se pronunciou.
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