Índice do Banco Central mostra desaceleração da atividade econômica
Desempenho ficou acima do esperado por analistas, que projetavam queda de 0,7%
Carlos Thadeu de Freitas, ex-diretor do BC, acredita em alta na Selic por conta de inflação em 2014
Bruno Rosa - O Globo
RIO - O Índice de Atividade Econômica do Banco Central-Brasil (IBC-Br) mostrou que a economia do país recuou 0,52% em fevereiro ante janeiro, de acordo com dados divulgados nesta sexta-feira pela autoridade monetária. O número inclui os chamados ajustes sazonais. O desempenho ficou pouco acima da previsão dos analistas ouvidos pela Bloomberg: na mediana dos economistas, o esperado era recuo de 0,7%.
O IBGE também informou ontem que as vendas do varejo recuaram 0,4% em fevereiro, frente a janeiro, já com ajuste sazonal. O resultado surpreendeu os analistas, que previam uma alta de 1,2% nas vendas do comércio varejista. Em relação a fevereiro do ano passado, o movimento caiu 0,2%. No segmento de supermercados e varejo de alimentos e bebidas, as vendas recuaram 1% em relação a janeiro e 2,1% na comparação com fevereiro de 2012. Os números fracos refletem a alta dos preços, dizem os especialistas. Na última quarta-feira, foi anunciado que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que orienta o sistema de metas de inflação do governo, acumulou em 12 meses 6,59%, estourando o teto da meta de inflação perseguido pelo governo, que é de 6,5%.
Por outro lado, em fevereiro, a taxa de desemprego ficou em 5,6%, de acordo com dados da Pesquisa Mensal de Emprego (PME), divulgados no dia 28 de março. Foi a taxa mais baixa para um mês de fevereiro desde o início da série história, em março de 2002.
É, por isso, que as atenções agora se voltam para o mercado de juros. Na próxima semana, entre os dias 16 e 17 de abril, o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC se reúne para decidir se aumenta ou não a taxa básica de juros (a Selic), hoje em 7,25% ao ano. Parte do mercado acredita que a Selic deve subir em 0,25 ponto percentual. Mas o economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio (CNC) e ex-diretor do BC, Carlos Thadeu de Freitas, afirma que o mais importante é que a autoridade monetária sinalize seus próximos passos.
— Acredito que o BC tem de dar uma sinalização, mesmo que não haja aumento já na próxima reunião. O BC vai olhar para frente. A queda na indústria, a retração no comércio e o recuo da atividade econômica é passado e reflexo de um ano fraco (2012). Por outro lado, o fato de o desemprego estar baixo significa que é possível elevar os juros sem causar problemas — disse Carlos Thadeu.
O economista acredita que o BC vai olhar a expectativa de preços para 2014. Isso é necessário, completa, pois não haverá a ajuda da queda na conta de luz e da desoneração da cesta básica, como ocorre neste ano.
— A minha aposta é que o BC vai trabalhar para reduzir a inflação, de olho em 2014. Mas esse aumento não precisa ser já na próxima reunião. Basta ele sinalizar. Isso é importante para evitar volatilidade, pois as taxas de juros estão subindo no mercado futuro — destaca Carlos Thadeu.
Transporte e serviços podem pressionar ainda mais a inflação, diz FGV
Depois das fortes altas de preços de alimentos no primeiro trimestre, o consumidor deverá ver um alívio este mês. O fim do período das chuvas vai coincidir com os efeitos da desoneração da cesta básica, anunciada pela presidente Dilma Rousseff em 8 de março. Itens como açúcar, óleo de soja e carnes terão queda mais acentuada de preços. Mas começam a aparecer novos focos de pressão, caso do leite longa vida. E analistas afirmam que serviços e transportes poderão puxar a inflação.
No atacado, os preços de alguns alimentos começam a ceder. A caixa com 18 quilos de tomate tipo Débora, que chegou a custar R$ 150 no início de abril, já era comercializado a R$ 80 ontem na Ceasa do Rio. O feijão preto deve se beneficiar da chegada do produto importado da China e passar de cerca de R$ 180 (a saca de 60 quilos) para R$ 120 em maio, no atacado, na previsão do presidente da Bolsa de Gêneros Alimentícios do Rio de Janeiro, José de Souza e Silva.
Na Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp), que é o maior centro de abastecimento de hortifrutigranjeiros do país, a expectativa é de uma “normalização” nos preços. A oferta de tomate, por exemplo, melhorou, e fez o preço cair de R$ 7,80 para R$ 4,20 o quilo. Josmar Macedo, assistente-executivo do Ceagesp, diz que a expectativa é que esse preço caia para R$ 2,50.
No varejo, dados da Fundação Getulio Vargas (FGV) apontam queda de 3,29% do quilo do açúcar refinado nos 30 dias encerrados em 10 de abril. Nos 30 dias encerrados em 1º de abril, a queda era menor, de 2,61%. O frango inteiro passa de uma alta de 1,19% em 1º de abril para uma queda de 0,57% agora. Mas o leite sai de uma alta de 1,36% para 2,82%. Segundo André Braz, da FGV, a alta do leite está relacionada ao clima. Com menos chuvas, as pastagens começam a secar. Para Elson Teles, do Itaú Unibanco, o aumento do leite pode ter relação com a seca na Nova Zelândia, que é grande produtor.
Se a alta da maioria dos alimentos começa a perder fôlego, outros itens poderão pressionar a inflação daqui para frente, como os serviços e as tarifas de transportes. O emprego e a renda em alta, apesar do "PIB anêmico", segundo Paulo Picchetti, da FGV, são algo sem precedente que dificulta projeções, mas vão continuar pressionando a demanda. Juan Jensen, da Consultoria Tendências, lembra que, em São Paulo, o último reajuste das tarifas de ônibus foi em janeiro de 2011, o que significa que em junho, quando serão reajustadas, as tarifas estarão há 30 meses congeladas.
O IBC-Br incorpora estimativas para a produção nos três setores básicos da economia: serviços, indústria e agropecuária. Por causa da defasagem de tempo na divulgação dos dados oficiais pela instituição, o Banco Central leva em conta o IBC-Br para traçar os rumos da política de juros do país.
Segundo a última pesquisa Focus, realizada semanalmente pelo BC com analistas, o mercado projeta que a Selic vai encerrar 2013 a 8,50% e o IPCA, a 5,70%. Já para o Produto Interno Bruto a expectativa é de expansão de 3% este ano.
O IBGE também informou ontem que as vendas do varejo recuaram 0,4% em fevereiro, frente a janeiro, já com ajuste sazonal. O resultado surpreendeu os analistas, que previam uma alta de 1,2% nas vendas do comércio varejista. Em relação a fevereiro do ano passado, o movimento caiu 0,2%. No segmento de supermercados e varejo de alimentos e bebidas, as vendas recuaram 1% em relação a janeiro e 2,1% na comparação com fevereiro de 2012. Os números fracos refletem a alta dos preços, dizem os especialistas. Na última quarta-feira, foi anunciado que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que orienta o sistema de metas de inflação do governo, acumulou em 12 meses 6,59%, estourando o teto da meta de inflação perseguido pelo governo, que é de 6,5%.
Por outro lado, em fevereiro, a taxa de desemprego ficou em 5,6%, de acordo com dados da Pesquisa Mensal de Emprego (PME), divulgados no dia 28 de março. Foi a taxa mais baixa para um mês de fevereiro desde o início da série história, em março de 2002.
É, por isso, que as atenções agora se voltam para o mercado de juros. Na próxima semana, entre os dias 16 e 17 de abril, o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC se reúne para decidir se aumenta ou não a taxa básica de juros (a Selic), hoje em 7,25% ao ano. Parte do mercado acredita que a Selic deve subir em 0,25 ponto percentual. Mas o economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio (CNC) e ex-diretor do BC, Carlos Thadeu de Freitas, afirma que o mais importante é que a autoridade monetária sinalize seus próximos passos.
— Acredito que o BC tem de dar uma sinalização, mesmo que não haja aumento já na próxima reunião. O BC vai olhar para frente. A queda na indústria, a retração no comércio e o recuo da atividade econômica é passado e reflexo de um ano fraco (2012). Por outro lado, o fato de o desemprego estar baixo significa que é possível elevar os juros sem causar problemas — disse Carlos Thadeu.
O economista acredita que o BC vai olhar a expectativa de preços para 2014. Isso é necessário, completa, pois não haverá a ajuda da queda na conta de luz e da desoneração da cesta básica, como ocorre neste ano.
— A minha aposta é que o BC vai trabalhar para reduzir a inflação, de olho em 2014. Mas esse aumento não precisa ser já na próxima reunião. Basta ele sinalizar. Isso é importante para evitar volatilidade, pois as taxas de juros estão subindo no mercado futuro — destaca Carlos Thadeu.
Transporte e serviços podem pressionar ainda mais a inflação, diz FGV
Depois das fortes altas de preços de alimentos no primeiro trimestre, o consumidor deverá ver um alívio este mês. O fim do período das chuvas vai coincidir com os efeitos da desoneração da cesta básica, anunciada pela presidente Dilma Rousseff em 8 de março. Itens como açúcar, óleo de soja e carnes terão queda mais acentuada de preços. Mas começam a aparecer novos focos de pressão, caso do leite longa vida. E analistas afirmam que serviços e transportes poderão puxar a inflação.
No atacado, os preços de alguns alimentos começam a ceder. A caixa com 18 quilos de tomate tipo Débora, que chegou a custar R$ 150 no início de abril, já era comercializado a R$ 80 ontem na Ceasa do Rio. O feijão preto deve se beneficiar da chegada do produto importado da China e passar de cerca de R$ 180 (a saca de 60 quilos) para R$ 120 em maio, no atacado, na previsão do presidente da Bolsa de Gêneros Alimentícios do Rio de Janeiro, José de Souza e Silva.
Na Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp), que é o maior centro de abastecimento de hortifrutigranjeiros do país, a expectativa é de uma “normalização” nos preços. A oferta de tomate, por exemplo, melhorou, e fez o preço cair de R$ 7,80 para R$ 4,20 o quilo. Josmar Macedo, assistente-executivo do Ceagesp, diz que a expectativa é que esse preço caia para R$ 2,50.
No varejo, dados da Fundação Getulio Vargas (FGV) apontam queda de 3,29% do quilo do açúcar refinado nos 30 dias encerrados em 10 de abril. Nos 30 dias encerrados em 1º de abril, a queda era menor, de 2,61%. O frango inteiro passa de uma alta de 1,19% em 1º de abril para uma queda de 0,57% agora. Mas o leite sai de uma alta de 1,36% para 2,82%. Segundo André Braz, da FGV, a alta do leite está relacionada ao clima. Com menos chuvas, as pastagens começam a secar. Para Elson Teles, do Itaú Unibanco, o aumento do leite pode ter relação com a seca na Nova Zelândia, que é grande produtor.
Se a alta da maioria dos alimentos começa a perder fôlego, outros itens poderão pressionar a inflação daqui para frente, como os serviços e as tarifas de transportes. O emprego e a renda em alta, apesar do "PIB anêmico", segundo Paulo Picchetti, da FGV, são algo sem precedente que dificulta projeções, mas vão continuar pressionando a demanda. Juan Jensen, da Consultoria Tendências, lembra que, em São Paulo, o último reajuste das tarifas de ônibus foi em janeiro de 2011, o que significa que em junho, quando serão reajustadas, as tarifas estarão há 30 meses congeladas.
O IBC-Br incorpora estimativas para a produção nos três setores básicos da economia: serviços, indústria e agropecuária. Por causa da defasagem de tempo na divulgação dos dados oficiais pela instituição, o Banco Central leva em conta o IBC-Br para traçar os rumos da política de juros do país.
Segundo a última pesquisa Focus, realizada semanalmente pelo BC com analistas, o mercado projeta que a Selic vai encerrar 2013 a 8,50% e o IPCA, a 5,70%. Já para o Produto Interno Bruto a expectativa é de expansão de 3% este ano.
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