Lionel Bonaventure/AFP
O presidente da França, François Hollande, faz pronunciamento sobre a situação dos conflitos em Mali, país africano da região do Sahel (área semiárida no continente), em Paris
O presidente francês François Hollande está fazendo uma faxina moral de primavera. Suas recentes exigências de que os ministros do governo tornem públicos todos seus ativos financeiros fazem parte de um esforço para recuperar a reputação da casta política –e legitimar seu governo, para que ele possa finalmente recomeçar a governar.
Marie-Arlette Carlotti foi a primeira. A vice-ministra para pessoas com invalidez publicou uma relação abrangente de todos seus bens em seu site. Sua ação ocorreu poucas horas antes do anúncio pelo primeiro-ministro Jean-Marc Ayrault de que todos os membros de seu Gabinete deveriam fazer o mesmo.
O strip-tease financeiro prosseguiu até os mínimos detalhes: um apartamento de 130 metros quadrados em Marselha, no valor estimado de 270 mil euros; uma casa departamento mediterrâneo de Herault, comprada em 2005 por 220 mil euros; um apartamento na Córsega, comprado em 2004 por 75 mil euros. Além disso, havia ações do conglomerado europeu de defesa EADS no valor de 917,80 euros, uma conta-poupança na Credit Cooperatif no valor de 1.655 euros e uma apólice de seguro de vida no valor de 40 mil euros. Os depósitos em várias contas bancárias totalizavam cerca de 36 mil euros.
Isso era tudo? Não, a política também incluiu seus carros –um Smart e um Toyota, totalizando um valor estimado de 8 mil euros. Tudo o que ficou de fora foram as joias e relíquias de família.
Todos os ministros do Gabinete deverão em breve tornar públicos seus bens e ativos de modo tão detalhado quanto fez Carlotti, que pretende disputar a prefeitura de Marselha em 2014. Após o escândalo de dinheiro escondido que forçou a renúncia do ministro do Orçamento, Jerome Cahuzac, o presidente François Hollande prescreveu transparência total. A exemplaridade das autoridades públicas seria sem exceção, prometeu Hollande. Os bens particulares das principais autoridades da República, até agora analisados apenas internamente, em breve serão informados em detalhes publicamente.
Hollande vê uma chance de recuperar a popularidade
O esforço por transparência pertence a um pacote maior de "medidas de choque" que o socialista sitiado –eleito com promessas de uma "República exemplar"– espera finalmente legitimá-lo política e moralmente. Além de afastar do governo os políticos que não tiverem registros impecáveis de seus ativos, as medidas incluem uma intensificação do combate aos paraísos fiscais. Juntamente com seus parceiros da UE, Hollande busca acabar com as operações opacas de bancos e provedores de serviços financeiros. As empresas escondem seus fluxos de capital em subsidiárias no exterior para permanecerem fora do alcance do Fisco, tudo dentro da lei.
A "contraofensiva do Eliseu", como chamou o jornal "Le Monde", também é um esforço por parte de um presidente impopular para restaurar sua autoridade. Seus pedidos para proibir qualquer um condenado por corrupção ou fraude fiscal de disputar cargos eletivos são apoiados por aproximadamente 90% dos eleitores, tanto na esquerda quanto na direita.
A reputação do governo está manchada e a capacidade de manobra do presidente está limitada –particularmente após circularem novos relatos sobre vários lapsos por parte de membros do partido de Hollande e membros do governo. Mais recentemente, o ministro das Relações Exteriores, Laurent Fabius, negou a especulação publicada pelo jornal "Liberation" de que ele tinha uma conta na Suíça. Também sob pressão está o ministro da Economia, Pierre Moscovici, um político peso pesado que é acusado pela oposição de ter tentado proteger seu colega Cahuzac, ao investigar frouxamente as acusações de evasão fiscal.
Escândalos distraem da reforma da aposentadoria
Os rumores do escândalo causaram pânico em vários ministérios no Eliseu, impedindo ao mesmo tempo o governo de promover a reforma impopular, mas necessária, da aposentadoria. Os esquerdistas no governo, assim como a oposição, expressaram oposição aos cortes draconianos e aumentos drásticos de impostos que Hollande espera que recoloquem as finanças da França nos trilhos. Ele planeja apresentar seus planos revistos para redução da dívida em Bruxelas em 17 de abril. Tudo isso ao mesmo tempo que crescem os pedidos dentro de seu próprio partido para uma reforma ministerial.
Hollande ainda não está pronto para demitir o primeiro-ministro Ayrault, nem mudar seu Gabinete –pelo menos ainda não. Por ora, a "lei da moralidade", que poderia entrar em vigor antes do recesso de verão, visa aplacar o sentimento popular. A lei não apenas endurece as restrições e aumenta as penas para o crime financeiro, como também estabelece uma promotoria especificamente dedicada a assuntos financeiros.O tempo está correndo. "Nós temos pressa", disse o ministro da Agricultura, Stephane Le Foll, ao "Le Monde". "Nós precisamos de propostas que correspondam ao tamanho da crise."
Enquanto isso, a oposição esquerdista está montando um protesto contra os socialistas. O mais radical Parti de Gauche, liderado por Jean-Luc Melenchon, pediu por uma manifestação em massa em Paris em 5 de maio. Um ano após a eleição de Hollande, ele e o Partido Comunista querem realizar um protesto contra a corrupção na Quinta República, a chamando de uma "grande limpeza".
Tradutor: George El Khouri Andolfato
O presidente da França, François Hollande, faz pronunciamento sobre a situação dos conflitos em Mali, país africano da região do Sahel (área semiárida no continente), em Paris
O presidente francês François Hollande está fazendo uma faxina moral de primavera. Suas recentes exigências de que os ministros do governo tornem públicos todos seus ativos financeiros fazem parte de um esforço para recuperar a reputação da casta política –e legitimar seu governo, para que ele possa finalmente recomeçar a governar.
Marie-Arlette Carlotti foi a primeira. A vice-ministra para pessoas com invalidez publicou uma relação abrangente de todos seus bens em seu site. Sua ação ocorreu poucas horas antes do anúncio pelo primeiro-ministro Jean-Marc Ayrault de que todos os membros de seu Gabinete deveriam fazer o mesmo.
O strip-tease financeiro prosseguiu até os mínimos detalhes: um apartamento de 130 metros quadrados em Marselha, no valor estimado de 270 mil euros; uma casa departamento mediterrâneo de Herault, comprada em 2005 por 220 mil euros; um apartamento na Córsega, comprado em 2004 por 75 mil euros. Além disso, havia ações do conglomerado europeu de defesa EADS no valor de 917,80 euros, uma conta-poupança na Credit Cooperatif no valor de 1.655 euros e uma apólice de seguro de vida no valor de 40 mil euros. Os depósitos em várias contas bancárias totalizavam cerca de 36 mil euros.
Isso era tudo? Não, a política também incluiu seus carros –um Smart e um Toyota, totalizando um valor estimado de 8 mil euros. Tudo o que ficou de fora foram as joias e relíquias de família.
Todos os ministros do Gabinete deverão em breve tornar públicos seus bens e ativos de modo tão detalhado quanto fez Carlotti, que pretende disputar a prefeitura de Marselha em 2014. Após o escândalo de dinheiro escondido que forçou a renúncia do ministro do Orçamento, Jerome Cahuzac, o presidente François Hollande prescreveu transparência total. A exemplaridade das autoridades públicas seria sem exceção, prometeu Hollande. Os bens particulares das principais autoridades da República, até agora analisados apenas internamente, em breve serão informados em detalhes publicamente.
Hollande vê uma chance de recuperar a popularidade
O esforço por transparência pertence a um pacote maior de "medidas de choque" que o socialista sitiado –eleito com promessas de uma "República exemplar"– espera finalmente legitimá-lo política e moralmente. Além de afastar do governo os políticos que não tiverem registros impecáveis de seus ativos, as medidas incluem uma intensificação do combate aos paraísos fiscais. Juntamente com seus parceiros da UE, Hollande busca acabar com as operações opacas de bancos e provedores de serviços financeiros. As empresas escondem seus fluxos de capital em subsidiárias no exterior para permanecerem fora do alcance do Fisco, tudo dentro da lei.
A "contraofensiva do Eliseu", como chamou o jornal "Le Monde", também é um esforço por parte de um presidente impopular para restaurar sua autoridade. Seus pedidos para proibir qualquer um condenado por corrupção ou fraude fiscal de disputar cargos eletivos são apoiados por aproximadamente 90% dos eleitores, tanto na esquerda quanto na direita.
A reputação do governo está manchada e a capacidade de manobra do presidente está limitada –particularmente após circularem novos relatos sobre vários lapsos por parte de membros do partido de Hollande e membros do governo. Mais recentemente, o ministro das Relações Exteriores, Laurent Fabius, negou a especulação publicada pelo jornal "Liberation" de que ele tinha uma conta na Suíça. Também sob pressão está o ministro da Economia, Pierre Moscovici, um político peso pesado que é acusado pela oposição de ter tentado proteger seu colega Cahuzac, ao investigar frouxamente as acusações de evasão fiscal.
Escândalos distraem da reforma da aposentadoria
Os rumores do escândalo causaram pânico em vários ministérios no Eliseu, impedindo ao mesmo tempo o governo de promover a reforma impopular, mas necessária, da aposentadoria. Os esquerdistas no governo, assim como a oposição, expressaram oposição aos cortes draconianos e aumentos drásticos de impostos que Hollande espera que recoloquem as finanças da França nos trilhos. Ele planeja apresentar seus planos revistos para redução da dívida em Bruxelas em 17 de abril. Tudo isso ao mesmo tempo que crescem os pedidos dentro de seu próprio partido para uma reforma ministerial.
Hollande ainda não está pronto para demitir o primeiro-ministro Ayrault, nem mudar seu Gabinete –pelo menos ainda não. Por ora, a "lei da moralidade", que poderia entrar em vigor antes do recesso de verão, visa aplacar o sentimento popular. A lei não apenas endurece as restrições e aumenta as penas para o crime financeiro, como também estabelece uma promotoria especificamente dedicada a assuntos financeiros.O tempo está correndo. "Nós temos pressa", disse o ministro da Agricultura, Stephane Le Foll, ao "Le Monde". "Nós precisamos de propostas que correspondam ao tamanho da crise."
Enquanto isso, a oposição esquerdista está montando um protesto contra os socialistas. O mais radical Parti de Gauche, liderado por Jean-Luc Melenchon, pediu por uma manifestação em massa em Paris em 5 de maio. Um ano após a eleição de Hollande, ele e o Partido Comunista querem realizar um protesto contra a corrupção na Quinta República, a chamando de uma "grande limpeza".
Tradutor: George El Khouri Andolfato
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