quarta-feira, 10 de abril de 2013

Inverno longo estrangula a economia alemã
Der SpiegelHomens limpam neve da escadaria de uma igreja durante nevasca em Erfurt, na Alemanha
Homens limpam neve da escadaria de uma igreja durante nevasca em Erfurt, na Alemanha
O inverno durou mais do que o habitual neste ano na Alemanha, cobrando seu preço não apenas no humor dos alemães, mas também em vários setores econômicos. Construção, agricultura, serviços e varejo estão todos sofrendo, e os especialistas alertam que os efeitos podem ser de longo prazo.
Na última sexta-feira, Dirk Nüsse estava na estação do cume de seu bondinho de esqui, olhando incrédulo para a paisagem. Segundo o calendário, já deveria ser primavera há muito tempo, mas diante de seus olhos um praticante de snowboard deslizava entre os abetos cheios de neve, enquanto os bondinhos cobertos de gelo transportavam um número aparentemente interminável de entusiastas de esportes de inverno para o alto da montanha.
Há uma camada espessa de neve em Wurmberg, um pico nas Montanhas Harz na região central da Alemanha, um dos poucos lugares que estão lucrando com o tempo frio que toma conta da Alemanha há meses. "Todo o país está sofrendo com as temperaturas baixas, mas nós claramente saímos ganhando com este inverno longo", disse Nüsse. O gerente de 56 anos do bondinho de Wurmberg está feliz pela primavera ter se recusado a vir neste ano. A estação de esqui geralmente acaba em meados de março, mas ele prorrogou sua operação de inverno em mais uma semana, o que significa que 15 mil visitantes adicionais chegarão às sete encostas da montanha. Durante um inverno longo como este, o bondinho de Nüsse fatura o dobro do que de costume.
Mas o restante da Alemanha está cada vez mais irritado com o longo inverno. Todo o país está falando sobre o clima. Apesar de ter sido surpreendentemente brando no Natal, o país está desde então mergulhado no frio e na escuridão –atingindo uma temperatura baixa recorde atrás da outra. Desde o início dos registros do clima nacional, em 1951, o inverno nunca foi tão sombrio, e o mês de março foi um dos seis mais frios desde 1881. Nas Montanhas Ore no leste da Alemanha, a temperatura atingiu 21ºC negativos na metade do mês.
Mas o inverno longo afeta mais do que apenas os nervos. A economia alemã poderá permanecer cambaleando em consequência do inverno gelado durante o restante do ano –mesmo se a primavera finalmente chegar com plena força nesta semana. Durante os dois primeiros meses de 2013, quase dois terços mais funcionários permaneceram em casa por licença médica do que no ano passado. O diagnóstico de "infecção semelhante a gripe" foi dado com 86% mais frequência. A empresa de planos de saúde KKH disse que gripes e resfriados foram responsáveis por uma perda de produtividade de pelo menos 5 bilhões de euros.
Impacto negativo na economia
O clube do automóvel ADAC da Alemanha estima que as cidades e comunidades terão que gastar aproximadamente 3 bilhões a mais neste ano para tapar buracos nas vias públicas, algo que se tornou um assunto altamente discutido nos jornais locais.
"É claro que este inverno sem fim está tendo um impacto negativo na economia", disse Rolf Kroker, do Instituto de Pesquisa Econômica de Colônia (IW). "O setor de construção foi atingido de forma particularmente dura pelo clima ruim", ele notou, mas está claro que outros setores, como o de restaurantes e varejo, também sofreram enormemente.
Os economistas das Câmaras da Indústria e Comércio Alemãs (DIHK) preveem que o clima gelado possa custar à economia alemã aproximadamente 2 bilhões de euros. Apesar dos setores individuais ainda relutarem em comentar a extensão das perdas, já está claro que não será possível compensá-las.
Steffen Kirchner é um exemplo típico. O proprietário do Loretta, um popular bar e restaurante no Lago Wannsee, em Berlim, montou suas mesas e bancos ao ar livre em março. Era pouco antes da Páscoa, o primeiro ponto alto de vendas do ano, quando o beer garden, com capacidade para 1.300 pessoas, fica geralmente lotado de clientes apreciando a vista do lago.
Mas em vez de clientes, veio o frio. "Nosso movimento na Páscoa despencou abaixo de 10% em comparação ao ano passado", disse Kirchner. O gelo danificou as mesas e bancos já montados, e funcionários tinham que repetidamente remover a neve com pás. Ele terá que pagar os funcionários sazonais que já tinha contratado, mas que não foram usados.
"Nós estamos nos segurando, mas nossas reservas vão se esgotar em algum momento", disse o proprietário. "A esta altura do ano, os berlinenses já deveriam estar relaxando aqui, e o local deveria estar cheio de turistas no fim de semana." Mas ainda há neve ao longo das margens do Lago Wannsee.
Agricultura e construção sofrem
Há muitos que, como Kirchner, enfrentam problemas por causa de seus negócios dependerem do clima de um jeito ou de outro. Nas lojas de jardinagem e ferragens, por exemplo, há um grande número de violetas e primaveras que deveriam ter sido vendidas há muito tempo. Devido às baixas temperaturas e ausência de sol, as estufas precisam ser aquecidas há um alto custo. A associação do setor estima uma queda nas vendas de 30% a 50% nesta primavera –um prejuízo irrecuperável.
O clima também deixa os agricultores nervosos, já que são forçados a permanecer ociosos e aguardar pelo clima de primavera. "A natureza ainda está no meio do inverno", disse Michael Lohse, da Associação dos Agricultores Alemães, "e a vegetação está pelo menos duas a três semanas atrasada".
Para os agricultores, isso significa que a fertilização de primavera terá que ser adiada, batatas não poderão ser plantadas e o aspargo, muito apreciado pelos alemães na primavera, não está crescendo. Apesar de ainda ser cedo demais para a Associação dos Agricultores citar números, a situação é claramente enervante. "A primavera determina todo o ano –ela dita as colheitas e os preços", disse Lohse.
O mesmo vale para o setor de construção. A Federação Central do Setor de Construção Alemão fala em "paralisia de inverno". Uma queda nas vendas de quase 11% foi registrada em janeiro. Sem causar surpresa, isso ocorreu devido às "temperaturas geladas que praticamente interromperam as atividades de construção", segundo um representante da associação.
O longo inverno não é caro apenas para empresas de pequeno e médio porte. Para a operadora alemã de ferrovias, Deutsche Bahn, por exemplo, cada dia gelado custa dinheiro. Após invernos recentes atormentados por panes e atrasos, neste ano a empresa quis voltar aos trilhos e investiu milhões em sistemas de degelo para os trens, equipamento de remoção de neve e sistemas de aquecimento para os desvios nos trilhos. Com uma força-tarefa de inverno de 20 mil pessoas, a ferrovia também conta com o dobro de funcionários de prontidão ao longo das rotas que nos invernos anteriores. Ao todo, o programa anticaos de inverno deste ano custará aproximadamente 50 milhões de euros, segundo representantes da empresa.
O consumo também é afetado

A boa notícia é que a maioria dos prejuízos ligados à estação como os atuais será, pelo menos do ponto de vista macroeconômico, recuperado ao longo do ano. Os investimentos planejados em fábricas e estradas foram apenas adiados, não cancelados.
Por outro lado, há vários indicadores de que o efeito de compensação pode vir a ser menos pronunciado neste ano. "As construtoras estão com suas agendas lotadas", disse o economista do DIHK, Dirk Schlotböller, acrescentando que "muitas não têm capacidade de concluir os projetos que foram adiados devido ao clima ruim".
Por mais absurdo que possa soar, já que o setor de construção conta com contratos demais, a Alemanha corre o risco de conseguir apenas pequenos ganhos nesta frente. Para piorar a situação, os primeiros meses do ano geralmente têm um impacto decisivo sobre o crescimento do ano todo: "Um primeiro trimestre miserável tem um efeito particularmente negativo", disse Kroker, do instituto IW de Colônia. Schlotböller, o especialista do DIHK, deposita suas esperanças nos consumidores: "Se ainda quisermos ter um ano decente", ele argumenta, "então nós precisaremos de um forte aumento no consumo doméstico".
Mas é precisamente neste ponto que os alemães estão se contendo. As lojas de roupas, em particular, estão notando uma queda no movimento. Os varejistas de vestuário relataram uma queda de 22% nas vendas na última semana de março –um novo recorde negativo. Além do número significativamente menor de clientes nas lojas, aqueles que entram nelas fazem menos compras.
"O inverno longo está levando a uma crescente frustração, relutância e exaustão", disse Stephen Grünewald, um psicólogo e autor do livro "Die erschöpfte Gesellschaft" (ou "A Sociedade Esgotada"). A primavera é normalmente o tempo de despertar, ele disse. Em vez disso, a nação caiu em um estranho torpor, um senso paralisante de indiferença, ele disse. "As pessoas não sentem o impulso para mudar, o que torna a vida difícil, por exemplo, para o setor de moda e cosméticos."
Mas talvez os motivos sejam simplesmente orçamentários para a atual relutância em fazer compras. Apesar do desemprego estar em declínio e os salários dos trabalhadores estarem aumentando rapidamente, milhões de proprietários de imóveis e inquilinos estão enfrentando contas enormes de aquecimento.
Os alemães gastam anualmente cerca de 40 bilhões de euros em óleo, gás e carvão. Se o período de aquecimento for particularmente longo, como neste inverno, os gastos poderão subir facilmente em 10% a 20%. Como resultado, os consumidores se verão rapidamente sem bilhões de euros. A Associação dos Consumidores de Renânia do Norte-Vestfália, o Estado mais populoso do país, calculou que uma família comum terá despesas adicionais de 140 euros neste ano.
Tradutor: George El Khouri Andolfato

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