Le Monde
Martin Cleaver/AP
A então primeira ministra britânica Margaret Thatcher, aperta a mão do vice-líder Nelson Mandela durante encontro em Londres, no Reino Unido, em 1994
Primeira-ministra britânica por três mandatos, entre 1979 e 1990, Margaret Thatcher deixou uma marca profunda. A "Dama de Ferro", primeira mulher eleita ao comando de um grande país ocidental, não devolveu somente a autoconfiança a um Reino Unido então sem rumo. De certa maneira, ainda vivemos a herança Thatcher.
Primeiramente no plano econômico. Ela chegou ao poder alguns meses antes do presidente americano Ronald Reagan (1980-1988), que veio a ser seu aliado ideológico. Esses dois reinventaram o liberalismo econômico, tendo o mesmo inimigo: o Estado de bem-estar social, tal como os trabalhistas britânicos o instauraram após a Segunda Guerra Mundial e tal como os democratas americanos esboçaram a partir dos anos 1960.
A acusação que eles faziam é conhecida. O Estado de bem-estar mata a iniciativa privada, desacelera a criação de riquezas, defende um igualitarismo que desencoraja o esforço e o mérito, mantém os pobres no assistencialismo. Em suma, ele abafa essa força primeira, essa energia fundadora que é o mercado. Thatcher e Reagan endeusavam o mercado porque este, segundo eles, teria essa qualidade de não poder sair dos trilhos uma vez que – milagre! – ele se autorregula.
No Reino Unido do fim dos anos 1970, a fórmula não era totalmente absurda. O país vivia numa época de ajudas do Fundo Monetário Internacional e de sindicatos onipotentes que muitas vezes paralisavam um vasto setor público nascido das nacionalizações do pós-guerra. O "thatcherismo" – privatizações, luta implacável contra os monopólios sindicais, desregulamentações etc. – deu novo dinamismo à economia britânica. Mas ao mesmo tempo ele desmantelou setores inteiros do serviço público, entre eles a educação e a saúde.
Ele se enxertou à globalização econômica e à abertura cada vez maior das fronteiras a todo tipo de comércio. Thatcher e Reagan não foram os únicos responsáveis por isso, mas eles foram seus agentes intelectuais.
E a esquerda tentou alcançá-los. Por não conseguir reinventar o Estado de bem-estar social, ela depois remendou uma "terceira via" à maneira de Tony Blair em Londres ou de Bill Clinton em Washington. Mas foi somente uma forma civilizada de neoliberalismo. Ou melhor, nesse início de século 21, a monumental crise provocada pelo "endeusamento" do mercado – na verdade, ele ainda não se autorregulou… - não beneficiou a esquerda socialdemocrata. Foi uma vitória póstuma para Margaret Thatcher.
Ninguém marca tão fortemente sua época sem ter um grande talento político. Carisma, charme, fidelidade a suas convicções, coragem em suas escolhas, senso de liderança: ela tinha tudo isso, inegavelmente.
Tradutor: Lana Lim
Primeiramente no plano econômico. Ela chegou ao poder alguns meses antes do presidente americano Ronald Reagan (1980-1988), que veio a ser seu aliado ideológico. Esses dois reinventaram o liberalismo econômico, tendo o mesmo inimigo: o Estado de bem-estar social, tal como os trabalhistas britânicos o instauraram após a Segunda Guerra Mundial e tal como os democratas americanos esboçaram a partir dos anos 1960.
No Reino Unido do fim dos anos 1970, a fórmula não era totalmente absurda. O país vivia numa época de ajudas do Fundo Monetário Internacional e de sindicatos onipotentes que muitas vezes paralisavam um vasto setor público nascido das nacionalizações do pós-guerra. O "thatcherismo" – privatizações, luta implacável contra os monopólios sindicais, desregulamentações etc. – deu novo dinamismo à economia britânica. Mas ao mesmo tempo ele desmantelou setores inteiros do serviço público, entre eles a educação e a saúde.
Ele se enxertou à globalização econômica e à abertura cada vez maior das fronteiras a todo tipo de comércio. Thatcher e Reagan não foram os únicos responsáveis por isso, mas eles foram seus agentes intelectuais.
E a esquerda tentou alcançá-los. Por não conseguir reinventar o Estado de bem-estar social, ela depois remendou uma "terceira via" à maneira de Tony Blair em Londres ou de Bill Clinton em Washington. Mas foi somente uma forma civilizada de neoliberalismo. Ou melhor, nesse início de século 21, a monumental crise provocada pelo "endeusamento" do mercado – na verdade, ele ainda não se autorregulou… - não beneficiou a esquerda socialdemocrata. Foi uma vitória póstuma para Margaret Thatcher.
Não foi a única. Infelizmente, a Europa também viveu amplamente segundo a concepção que Thatcher tinha dela: primeiramente uma zona de livre-comércio, e de forma alguma uma entidade singular no cenário internacional; primeiramente uma associação de Estados soberanos, e de forma alguma uma comunidade cada vez mais unida, como dizem os textos fundadores da União Europeia.
Tradutor: Lana Lim
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