quarta-feira, 10 de abril de 2013

O legado da "Dama de Ferro"
Le Monde
Martin Cleaver/APA então primeira ministra britânica Margaret Thatcher, aperta a mão do vice-líder Nelson Mandela durante encontro em Londres, no Reino Unido, em 1994
A então primeira ministra britânica Margaret Thatcher, aperta a mão do vice-líder Nelson Mandela durante encontro em Londres, no Reino Unido, em 1994
Primeira-ministra britânica por três mandatos, entre 1979 e 1990, Margaret Thatcher deixou uma marca profunda. A "Dama de Ferro", primeira mulher eleita ao comando de um grande país ocidental, não devolveu somente a autoconfiança a um Reino Unido então sem rumo. De certa maneira, ainda vivemos a herança Thatcher.
Primeiramente no plano econômico. Ela chegou ao poder alguns meses antes do presidente americano Ronald Reagan (1980-1988), que veio a ser seu aliado ideológico. Esses dois reinventaram o liberalismo econômico, tendo o mesmo inimigo: o Estado de bem-estar social, tal como os trabalhistas britânicos o instauraram após a Segunda Guerra Mundial e tal como os democratas americanos esboçaram a partir dos anos 1960.

A acusação que eles faziam é conhecida. O Estado de bem-estar mata a iniciativa privada, desacelera a criação de riquezas, defende um igualitarismo que desencoraja o esforço e o mérito, mantém os pobres no assistencialismo. Em suma, ele abafa essa força primeira, essa energia fundadora que é o mercado. Thatcher e Reagan endeusavam o mercado porque este, segundo eles, teria essa qualidade de não poder sair dos trilhos uma vez que – milagre! – ele se autorregula.
No Reino Unido do fim dos anos 1970, a fórmula não era totalmente absurda. O país vivia numa época de ajudas do Fundo Monetário Internacional e de sindicatos onipotentes que muitas vezes paralisavam um vasto setor público nascido das nacionalizações do pós-guerra. O "thatcherismo" – privatizações, luta implacável contra os monopólios sindicais, desregulamentações etc. – deu novo dinamismo à economia britânica. Mas ao mesmo tempo ele desmantelou setores inteiros do serviço público, entre eles a educação e a saúde.
Ele se enxertou à globalização econômica e à abertura cada vez maior das fronteiras a todo tipo de comércio. Thatcher e Reagan não foram os únicos responsáveis por isso, mas eles foram seus agentes intelectuais.
E a esquerda tentou alcançá-los. Por não conseguir reinventar o Estado de bem-estar social, ela depois remendou uma "terceira via" à maneira de Tony Blair em Londres ou de Bill Clinton em Washington. Mas foi somente uma forma civilizada de neoliberalismo. Ou melhor, nesse início de século 21, a monumental crise provocada pelo "endeusamento" do mercado – na verdade, ele ainda não se autorregulou… - não beneficiou a esquerda socialdemocrata. Foi uma vitória póstuma para Margaret Thatcher.

Não foi a única. Infelizmente, a Europa também viveu amplamente segundo a concepção que Thatcher tinha dela: primeiramente uma zona de livre-comércio, e de forma alguma uma entidade singular no cenário internacional; primeiramente uma associação de Estados soberanos, e de forma alguma uma comunidade cada vez mais unida, como dizem os textos fundadores da União Europeia.
Ninguém marca tão fortemente sua época sem ter um grande talento político. Carisma, charme, fidelidade a suas convicções, coragem em suas escolhas, senso de liderança: ela tinha tudo isso, inegavelmente.
Tradutor: Lana Lim

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