Em cinco anos, número de ingressantes na área mais do que dobrou
Dados do MEC mostram que em 2011 foram 227 mil calouros; mesmo assim ainda há deficit de profissionais
FÁBIO TAKAHASHI - FSPPela primeira vez na história do ensino superior brasileiro, o número de calouros em engenharia superou o de direito. A área agora só fica atrás de administração.
Os dados foram levantados pelo Ministério da Educação, a partir dos seus censos.
O aumento do interesse pela engenharia acontece num momento de deficit de profissionais na área, iniciado na década passada.
Em 2006, foram 95 mil ingressantes em engenharia (5% do total). Cinco anos depois, eram 227 mil (10%). Cresceram tanto o número de vagas públicas e privadas quanto o de candidatos.
Já a quantidade de calouros em direito recuou 4%.
A expansão do número de ingressantes em engenharia é um avanço, porém, ainda insuficiente para resolver a carência da área no país, afirma o ministro da Educação, Aloizio Mercadante.
Primeiro, não é garantido que os novos ingressantes na área se formem. Levantamentos mostram que, atualmente, menos da metade dos calouros de engenharia consegue terminar o curso.
Em número de estudantes concluintes, direito segue à frente das engenharias.
Além disso, o deficit de profissionais ainda é muito superior ao volume de universitários concluintes. Foram 45 mil em 2011, ante uma necessidade de ao menos 70 mil novos engenheiros ao ano, de acordo com cálculos oficiais.
"Há uma mudança importante no sistema", disse à Folha o ministro da Educação.
"Nas décadas com hiperinflação e baixo crescimento havia muitos conflitos. A área de interesse era o direito. Agora, há crescimento da construção civil, de obras de infraestrutura, de desenvolvimento tecnológico", disse.
"Sabemos, por outro lado, que precisamos de mais engenheiros", completou.
Para Roberto Lobo, ex-reitor da USP e consultor na área de educação superior, "o momento é positivo, mas os ganhos podem se perder".
Lobo diz que há o risco de a evasão na engenharia crescer, pois, com o aumento no número de alunos, a tendência é que mais estudantes com dificuldades na área de exatas entrem nas faculdades.
"As escolas terão de se preocupar ainda mais em dar reforços de conteúdos básicos."
Mercadante aponta outra dificuldade nos cursos. "São muito teóricos. O aluno fica anos sem ver nada de engenharia, são só cálculos, física. Muitos desistem."
A pasta organizará fóruns para influenciar as instituições a colocarem atividades práticas nos primeiros anos do curso e a aumentarem os estágios aos estudantes.
Mudança no perfil da procura por curso superior é positiva
País, no entanto, ainda tem defasagem no ensino básico de matemática
ÉRICA FRAGA - FSP
A falta de engenheiros em número suficiente para atender a demanda das empresas que atuam no Brasil tem sido um dos temas econômicos mais debatidos no país.
A carência na oferta de mão de obra de profissionais de engenharia é traduzida em números elevados.
O Confea (Conselho de Engenharia e Agronomia) fala em déficit de 20 mil novos engenheiros por ano.
Comparações entre os cerca de 45 mil engenheiros formados a cada ano no Brasil e os mais de 600 mil graduados em engenharia na China são citadas com frequência.
A recente tendência de desaceleração do crescimento da economia do país não fará o assunto desaparecer da agenda, mesmo que leve a desaquecimento no mercado de trabalho. Pelo contrário.
O diagnóstico de que, para atingir taxa mais elevada de expansão do que os 3% previstos para 2013, o Brasil precisa vencer inúmeros gargalos de infraestrutura é consensual entre especialistas.
Para isso, serão necessários mais investimentos e profissionais capacitados para desenvolver projetos complexos que melhorem condições de estradas, portos, aeroportos. Tudo isso passa, necessariamente, por engenharia.
Nesse contexto, o aumento no número de ingressantes nos cursos de graduação da área pode ser o começo de uma tendência positiva.
Tem crescido tanto a procura de estudantes pelo curso quanto a oferta de vagas por parte das universidades.
Isso é um indício de que os sinais de alerta emitidos pelo mercado de trabalho têm sido compreendidos.
O problema ressaltado com frequência por quem estuda educação no país é que a velocidade dos avanços ocorre a passos lentos.
Os indicadores de qualidade do ensino básico continuam ruins se comparado com países desenvolvidos.
O pífio desempenho dos estudantes em testes nacionais e internacionais de proficiência é um exemplo.
Um país que não consegue ensinar matemática para seus alunos pode aspirar formar engenheiros com alta qualificação?
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