Reinaldo Azevedo - VEJA
Posso ser acusado de tudo, menos de não compreender a alma dos petistas, não é mesmo? Sou, assim, uma espécie de narrador onisciente de suas peripécias. Escrevi ontem aqui um post em que lembrava um anúncio pago que o pastor Silas Malafaia fez publicar em 2009 nos principias jornais do país. Ali, ele fazia a defesa irrestrita da liberdade de imprensa, mesmo destacando que costuma ser um de seus alvos permanentes, recusando toda forma de controle da imprensa. Respondia a um ataque bucéfalo que Lula havia feito ao jornalismo livre. Contrastei, então, em meu texto a opinião correta do pastor com o clamor vagabundo que há na grande imprensa em favor de formas entre veladas e escancaradas de censura.
OS NOSSOS JORNALISTAS E OS NOSSOS VEÍCULOS DE COMUNICAÇÃO SE APETRALHARAM! Acham que a censura, desde que aplicada a quem detestam, é correta. Escrevi aqui, mais de uma vez, e vocês são testemunhas, que a investida contra o presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara, Marco Feliciano (PSC-SP), era só uma etapa de um processo. E será, caso os comandantes continuem a conduzir seus respectivos barcos para o abismo, em busca do aplauso das milícias politicamente corretas. A censura é uma tara, um desvio de caráter. Quem pratica não consegue parar. É diante daquilo que execramos que o nosso compromisso com a liberdade de expressão se revela ou não.
Pois bem. Tarso Genro é governador do Rio Grande do Sul. Petista da gema! Quer-se mais ideológico e mais puro do que muitos de seus companheiros. No período do mensalão, até ensaiou um discurso mais duro contra os desmandos. Mas logo parou. Cedeu aos imperativos do partido. Nada a estranhar. Lembro sempre que ele é autor de um livro intitulado “Lênin, Coração e Mente”. Foi o único a ter achado um coração naquele senhor. Tarso chegou aonde Krupskaia nunca esteve.
O homem se animou com o clima e fez a mais contundente defesa da censura jamais feita por um petista. Sente que o campo está propício para a sua pregação. Se milícias podem tomar a Câmara de assalto, sob o aplauso unânime de jornais, TVs, sites e revistas, então é chegada a hora de voltar àquela velha agenda; então é chegada a hora de voltar a falar, e com ênfase, no controle da imprensa. E ele fez isso. Já chego lá. Alguns “progressistas” não gostam de Malafaia e de suas opiniões sobre o casamento gay — preferem ignorar a sua defesa da imprensa livre. Mas gostam do PT, cujo Diretório Nacional aprovou uma resolução defendendo abertamente controle de conteúdo da imprensa — nada menos! E de qualquer uma, não só da radiodifusão, que é uma concessão pública (sou contra esse também, só para deixar claro!).
Assim, alguns bananas disfarçados de jornalistas são fascinados por aquilo que, no limite, poderia cassar o seu registro profissional e mesmo mandá-los para a cadeia, mas hostilizam quem defende a plena liberdade de opinião. E hostilizam por quê? Ora, porque não gostam de sua opinião!!! Essa profissão já foi um pouco mais robusta intelectualmente, quando se assentava num número um pouco maior de livros e de textos de referência; quando os profissionais sabiam quem era Krupskaia e não tinham ideia de quem era Lady Gaga (a Lady Gaga da época, claro…).
Tarso participou anteontem de um evento com sindicatos e movimentos sociais em Porto Alegre. E vociferou, referindo-se ao Artigo 221 da Constituição, segundo informa a Folha:
“Se esses artigos fossem aplicados de maneira séria, provavelmente mais de 80% dos programas que estão nas rádios e principalmente nas televisões teriam de sair do ar. (…) São programas que ou transformam a mercadoria em notícia ideologizada ou promovem a violência, o sexismo e a discriminação”.
“Se esses artigos fossem aplicados de maneira séria, provavelmente mais de 80% dos programas que estão nas rádios e principalmente nas televisões teriam de sair do ar. (…) São programas que ou transformam a mercadoria em notícia ideologizada ou promovem a violência, o sexismo e a discriminação”.
É o que queremÉ o que eles querem: censurar 80% dos programas de televisão e rádio. E notem ali a mistura de anticapitalismo rombudo — como se petistas não se entendessem muito bem com o capital; parece que cobram mais caro… — com a agenda politicamente correta. Quando fala em “violência, sexismo e discriminação”, aqueles fascitoides travestidos de democratas que vão promover bagunça na Câmara se arrepiam de prazer.
Eis aí um bom recado para alguns humoristas bestalhões, que deveriam ser objetos das próprias piadas, que resolveram engrossar o coro da censura, ainda que à sua maneira. Eis aí um bom recado para os “artistas”, que sempre sabem tudo sobre hidrelétricas e Constituição e saem se beijando por aí (sempre sem língua; ainda escreverei a respeito) “contra Feliciano”…
Não! Não quero aproveitar a fala de Tarso para abonar as tolices ditas pelo deputado. Não se trata disso. Desde o começo dessa jornada, tenho alertado aqui que me interessa é a questão de princípio. Eu não preciso concordar com o outro para reconhecer seu direito de dizer o que pensa — ainda que essa coisa pareça estúpida.
Mesmo espírito Atenção! O espirito que anima as milícias da Câmara e, por incrível que pareça, da imprensa é o mesmo que inspira Tarso Genro. E ele evoca, vejam só, a Constituição para defender a censura, esquecendo-se que os Artigos 5º e 220 impedem qualquer forma de cerceamento da liberdade de expressão.Tarso não é peixe pequeno no PT. Já presidiu o partido. Já foi ministro da Educação e da Justiça. É agora governador do Rio Grande do Sul. É visto por parte do jornalismo adesista como a ala boa do PT — dá para imaginar como é a podre. Bem, a gente sabe como é.
Na reunião com movimentos sindicais e sociais, todos ali salivando para dar cacete em jornalista (e há jornalistas que não veem a hora de tomar porrada, desde que por uma boa causa…), ele também defendeu o governo nos casos de corrupção e provou — afinal, ele é Tarso Genro — a inocência dos corruptos: “Quem leva para dentro do Estado o vírus da corrupção é a iniciativa privada.” Entenderam. Na verdade, Dirceu e aquela gente toda era pura. Mas aí chegou a inciativa privada para corrompê-los, coitados! É asqueroso!
O atual governador do Rio Grande do Sul já se aventurou pela poesia, como sabem. É mesmo um poeta de mão cheia. Cometeu versos assim:
“Quanto te esperei e quanto sêmen
inútil derramei até o momento”.
Pode parecer incrível, mas sua poesia consegue ser mais limpa do que seu pensamento…
“Quanto te esperei e quanto sêmen
inútil derramei até o momento”.
Pode parecer incrível, mas sua poesia consegue ser mais limpa do que seu pensamento…
Vão lá, vão…É isso aí. Vão lá, vão, coleguinhas, ajoelhar-se no altar do politicamente correto. Entreguem a cachola ao cutelo. Engrossem as milícias e as patrulhas que querem restituir no Brasil o crime de opinião. Criem corvos para ver o que lhes acontece com os olhos.
Era sobre isso que eu falava desde o começo. E, para quem ainda não se convenceu, segue mais um poema de Tarso Genro (sim, esse é o poema inteiro):
“Em Cuba planta-se cana”
“Em Cuba planta-se cana”
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