sexta-feira, 12 de abril de 2013

Wikileaks ganha concorrente no vazamento de informações confidenciais
Lluís Bassets - El Pais
Carl Court/AFP
Julian Assange, fundador do Wikileaks, se dirige à imprensa e apoiadores na sacada da embaixada do Equador, em Londres
Julian Assange, fundador do Wikileaks, se dirige à imprensa e apoiadores na sacada da embaixada do Equador, em Londres
Sem rachaduras não há vazamentos. E se vê que estes são cada vez mais frequentes. O edifício inteiro parece estar rachado, já que tudo acaba levando ao aparecimento escandaloso de algum vazamento sobre os segredos da CIA, do Departamento de Estado, do Vaticano ou, mais recentemente, das contas correntes escondidas em paraísos fiscais. Quem impôs a moda levava a palavra inscrita em seu nome, WikiLeaks, na qual se juntam a ideia da participação das pessoas (wiki) com a de vazamento (leaks), inspirada na enciclopédia elaborada pelo público que leva o nome de Wikipedia. O fundador, Julian Assange, está recluso na embaixada equatoriana em Londres, onde se refugiou em junho de 2012 para escapar das exigências da justiça de sua extradição para a Suécia, mas dali ainda pretende manter a liderança em vazamentos que lhe deu notoriedade.
Em dezembro passado anunciou a iminente publicação de mais de um milhão de documentos que afetam todos os países do mundo. E assim ocorreu na última segunda-feira (8), quando o Wikileaks ofereceu o acesso a 1,7 milhão de documentos e comunicados diplomáticos americanos, correspondentes ao período 1973-76, no momento em que Henry Kissinger era conselheiro nacional e secretário de Estado do presidente Nixon.  
O habitual senso de medida demonstrado por Assange também se expressou na apresentação deste vazamento, o qual denominou de os Telegramas de Kissinger: "O maior corpo de materiais de conteúdo geopolítico jamais publicado". Lembremos o tuíte que anunciou o vazamento dos 250 mil documentos do Departamento de Estado, o Cablegate, em novembro de 2010: "Os próximos meses verão um novo mundo, no qual a história global será redefinida".
Agora a quantidade é maior, sete vezes mais em número de documentos, mas basta registrar alguns dos títulos da imprensa que provocaram para perceber que está longe dos vazamentos que lançaram o Wikileaks à fama. Os dois que "El País" publicou são os seguintes: "Wikileaks revela o lado mais obscuro da presidência Echeverría no México" e "Wikileaks cria um buscador para os documentos da era Kissinger. Entre o milhão de registros encontram-se as relações do secretário de Estado com Franco e a família real espanhola".
Embora outros dois jornais tenham apresentado o rei da Espanha como um informante a serviço de Washington ao dar conta desta última notícia, os documentos têm interesse quase estritamente para historiadores. O material publicado já não está coberto pelo segredo, pois pertence à Biblioteca Pública da Diplomacia americana e Wikileaks se limitou a criar uma máquina de buscas que dá acesso ordenado ao arquivo. É um bom serviço para a transparência, mas neste caso o Wikileaks não imita o jornalismo nem faz vazamento algum, senão copia o Google.
Além disso, desta vez Assange não teve sorte, porque poucos dias antes se viu assolado por outro vazamento, maior em volume, profissionalismo e relevância internacional, este sim uma mistura de jornalismo e de vazamento, que afeta um dos recursos mais secretos e preocupantes do sistema financeiro mundial, que são os paraísos fiscais. Trata-se da publicação de 130 mil contas secretas, selecionadas de um total de 2,5 milhões, mantidas por clientes de entidades financeiras de 170 países, entre as quais aparecem BNP Paribas, Crédit Agricole e Deustche Bank.
A organização que realizou o vazamento é o Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos, dirigido pelo jornalista Gerard Ryle, australiano como Assange, e contou durante 15 meses com o trabalho de 86 jornalistas de 46 países. A lista de evasores não tem exageros, e nela há nomes perfeitamente previsíveis, como o do multimilionário Gunther Sachs ou o da baronesa Thyssen, e outros que provocaram um terremoto político, como o de Jean-Jacques Augier, amigo do presidente francês, François Hollande, tesoureiro de sua campanha eleitoral e um dos 130 evasores franceses detectados justamente quando acaba de se demitir o ministro da Fazenda, Jerôme Cahuzac, caçado com uma conta opaca na Suíça de 700 mil euros.
"Offshore leaks" é o nome com que se conhece esse último vazamento. Wikileaks está perdendo a corrida, mas não a reputação. Para denominar o Cablegate, Assange inspirou-se no remoto Watergate de 1973, quando jornalistas do "Washington Post" descobriram a espionagem de Nixon à sede do Partido Democrata no edifício assim denominado e acabaram obtendo as gravações que o comprovaram. Tudo deveria levar a palavra "gate" quando se tratava de celebrar a denúncia exercida pela imprensa. Hoje, porém, tudo são vazamentos, "leaks", inclusive os que não o são, em homenagem às inevitáveis rachaduras tecnológicas pelas quais escapam as informações secretas dos países e das entidades financeiras.
Tradutor: Luiz Roberto Mendes Gonçalves

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