sexta-feira, 12 de abril de 2013

Para analista, Venezuela continuará sendo país parasitário
Juan Jesús Aznárez - El Pais
Leo Ramirez/AFP
O candidato da oposição às eleições de 14 de abril na Venezuela, Henrique Capriles, discursa para seus eleitores durante campanha em Porlamar, no Estado de Nueva Esparta
O candidato da oposição às eleições de 14 de abril na Venezuela, Henrique Capriles, discursa para seus eleitores durante campanha em Porlamar, no Estado de Nueva Esparta
Ganhe quem ganhar as eleiçõespresidenciais de 14 de abril, a Venezuela continuará sendo o país parasitário das receitas do petróleo denunciado por seu intelectual mais notável, Arturo Úslar Pietri, no editorial "Semear o petróleo", publicado em 14 de julho de 1936 no diário "Ahora". O candidato governista, Nicolás Maduro, voltará a consumir milhões para manter na superfície o paternalismo do Estado concebido por seu falecido mentor, Hugo Chávez, enquanto o candidato da oposição, Henrique Capriles, antecipou há meses que não só respeitará os subsídios do oficialismo como os ampliará se chegar à chefia do governo.
A América Latina e o populismo como fomento são primos-irmãos desde o século 19, mas só a Venezuela conseguiu sufragar o vínculo corruptor até suas últimas consequências, porque o maná do petróleo lhe permitiu esbanjamentos impossíveis em outros países. O repentino esgotamento das jazidas do Orinoco ou a queda da cotação do óleo bruto nos mercados internacionais condenaria os venezuelanos quase à indigência, pois o modelo produtivo nacional é essencialmente rentista: o preço do barril determina o valor dos ingressos, do bem-estar e dos escandalosos desmandos dos governos de turno. O populismo bolivariano foi sectário e clientelista durante seus 14 anos de vigência, dirigido "ao povo", à base eleitoral que sustentou o chavismo, mas os dois grandes partidos tradicionais, Ação Democrática, social-democrata, e COPEI (Comitê de Organização Político-Eleitoral Independente), democrata-cristão, também foram populistas e clientelistas durante suas quatro décadas de alternância no poder. A corrupção imperante durante a primeira presidência de Carlos Andrés Pérez (1974-79), sultão da Venezuela Saudita, foi épica.  
O modelo, financiado pelas jazidas do subsolo, continuará vigente depois da nova investidura presidencial, pois nem Maduro nem Capriles oferecem em seus programas um esquema diferente do que elevou o déficit fiscal a 18% do PIB, com o consequente endividamento público, e obrigou a uma recente desvalorização para reduzir o índice em 4 ou 5 pontos. "Acabou-se a mordomia", prometeu, a título de inventário, o ministro das Finanças, Jorge Giordani. O histórico desperdício nacional, associado a uma inflação elevada, não acabará, menos ainda com um regime intervencionista, sustentado não tanto pela convicção ideológica de seus eleitores como pelo carisma do falecido fundador e pelas disponibilidades de caixa. A abundância de bens e serviços gratuitos ou vendidos a preços políticos, desde a cesta básica ao uísque e veículos de alta linha das elites civis e militares, já é direito consuetudinário na Venezuela. Quem tentar modificá-lo provavelmente sucumbirá na tentativa. A sociedade está mais acostumada a consumir do que a produzir, e não renunciará a uma gasolina mais barata que a água mineral, graças aos cerca de 10 bilhões de euros anuais em subvenções.
Henrique Capriles não poderia captar votos entre os compatriotas pobres e chavistas, a maioria, se sua oferta renunciasse à prodigalidade arbitrária, à clientelista distribuição de dinheiro, cargos, máquinas de lavar e geladeiras, e incidisse na circunspeção: na implementação de uma economia mais produtiva e diversificada, menos dependente do petróleo, distante das ajudas improdutivas. Mas não houve presidente que não tenha sucumbido à tentação de redistribuir à vontade, na medida de suas ambições políticas e ideológicas, uma riqueza nacional de provedor, arrecadada sem esforço, sem ter sido semeada. Úslar Pietri pedia que no lugar de o petróleo ser uma maldição "que há de nos transformar em um povo parasita e inútil", fosse a alavanca da produtividade e do progresso.
Os bons desejos do intelectual venezuelano ficaram no anseio não realizado. O vultoso talão de cheques do Estado permitiu ao último governante da Venezuela, o caudilho Hugo Chávez, aumentar as rendas dos mais pobres e executar programas sociais benfeitores, mas a cargo desse populismo multimilionário nasceu uma casta burocrática e empresarial, oportunista e corrupta. Cresceu o tamanho do Estado e o número de funcionários públicos passou de 1,3 milhão para 2,4 milhões. Os bolivarianos se acotovelaram diante do guichê de emprego oficial, brandindo a carteirinha do partido, e a velha divisa nacional recobrou então força e vigência: "Não me dê, ponha-me onde houver".
Tradutor: Luiz Roberto Mendes Gonçalves

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