A confiança dos industriais
O Estado de S.Paulo
A recuperação da indústria pode estar começando, depois
de dois anos muito ruins, mas as perspectivas para 2014 ainda são de
crescimento muito moderado. De toda forma, há sinais de otimismo entre
os dirigentes do setor e hoje há mais sinais positivos do que em
novembro, comentou a pesquisadora Tabi Thuler Santos, da Fundação
Getúlio Vargas, ao apresentar a edição de dezembro da Sondagem
Conjuntural da Indústria de Transformação. Mas a sua avaliação foi
complementada por um toque de prudência: é bom esperar a confirmação da
tendência nos próximos meses. Sempre sensata, essa ressalva é
especialmente justificável neste momento, quando a maior parte das
previsões aponta mais um ano de crescimento econômico medíocre, inflação
alta e sérias dificuldades no setor externo.
Três sinais positivos foram apontados pela coordenadora da sondagem,
mas todos acompanhados de alguma restrição. O Índice de Confiança da
Indústria, com variação de 1,1%, aumentou pelo segundo mês consecutivo e
atingiu 100,1 pontos, o maior nível desde junho, mas ainda inferior à
média dos últimos 60 meses (104 pontos). O Índice de Expectativas
avançou pelo terceiro mês consecutivo e passou de 98,1 para 100,3, mas
continuou abaixo da média histórica, de 103,2. A previsão de emprego
para os próximos três meses subiu 3,1%, chegou a 100,4 pontos e, como os
dois itens anteriores, continuou abaixo da média de cinco anos (112,2
pontos). Além disso, aponta mais para a estabilidade - período sem
demissões - do que para mais contratações, observou a pesquisadora. O
Índice de Situação Atual ficou praticamente estável, com variação de
00,9 para 100 pontos (média de 104,9).
Nenhum desses números valeria um comentário otimista, se a indústria
de transformação estivesse operando em condições mais próximas da
normalidade. Mas o setor esteve muito mal nos últimos dois anos. Perdeu
espaço no comércio exterior e tem tido muita dificuldade para enfrentar
os estrangeiros até no mercado interno, apesar da proteção oferecida a
alguns segmentos pela política federal. Entre 1996 e 2012 a parcela de
importados no consumo de bens industriais intermediários e finais passou
de 12,5% para 22%. No terceiro trimestre de 2013 essa participação
chegou a 22,8%, segundo pesquisa da Confederação Nacional da Indústria
(CNI) e da Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex). O
aumento de participação foi especialmente sensível nos últimos seis
anos.
Segundo a CNI, a indústria de transformação deve ter crescido 2,3%
neste ano e poderá crescer 2,5% no próximo. No ano passado, o Produto
Interno Bruto (PIB) de toda a indústria (mineração, transformação,
construção e utilidade pública) diminuiu 0,8%. Para este ano a CNI
estima 1,4% de expansão. O quadro geral, portanto, ainda é de
estagnação, quando se leva em conta o desempenho a partir de 2011. Nos
três primeiros anos do governo da presidente Dilma Rousseff o setor
industrial permaneceu atolado em dificuldades. Os estímulos fiscais e
financeiros adotados nesse período serviram muito mais para a expansão
do consumo do que para o aumento da produção manufatureira.
Os sinais de otimismo detectados na sondagem da FGV podem ser
antecipações de uma retomada do investimento industrial. O total
investido pelo governo e pelo setor privado em todos os setores da
economia continua abaixo de 20% do Produto Interno Bruto. No ano
passado, o investimento diminuiu e a proporção em relação ao PIB foi
pouco superior a 18%, uma taxa baixíssima em relação às necessidades
nacionais (de, no mínimo, 24%) quanto e também quando comparada com os
padrões das economias emergentes.
Para 2014 a CNI estima elevação de 5% no valor investido em máquinas,
equipamentos e instalações públicas e privadas. Pelas projeções
conhecidas até agora, ainda será insuficiente para alcançar 20% do PIB.
Investimento depende só em parte da disponibilidade de recursos. A
confiança na economia - e, portanto, na política econômica - é
determinante. No País, essa confiança tem sido mais escassa que o
financiamento.
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