Problema é citado por 26% de 1.429 pequenos empresários entrevistados
Aumento da taxa de juros é o segundo entrave mais lembrado, com praticamente a mesma porcentagem
ÉRICA FRAGA - FSP
Nem inflação mais alta nem crescimento fraco. As maiores barreiras ao desenvolvimento de pequenos negócios no Brasil são o excesso de burocracia e as dificuldades logísticas.
É o que revela pesquisa com 1.429 empresários feita pelo Centro de Pesquisas em Estratégia do Insper, que incluiu uma pergunta exclusiva da Folha sobre os maiores empecilhos à expansão das companhias de menor porte.
Para 25,8% dos entrevistados, problemas como a papelada são mais nocivos do que aspectos negativos da conjuntura econômica.
"É um resultado surpreendente", afirma José Luiz Rossi Júnior, pesquisador do Insper. "Mostra que há impedimentos do dia a dia que atrapalham demais as pequenas empresas e mobilizam recursos que poderiam estar indo para investimentos."
A enquete com representantes de negócios de pequeno e médio porte, feita com apoio do Santander, foi realizada em outubro e novembro.
Em segundo lugar entre os problemas apontados, aparece o aumento da taxa de juros nos últimos meses, apontada como principal barreira por 25,6% entrevistados.
Segundo Rossi Júnior, as pequenas empresas são mais dependentes de linhas de financiamento de curto prazo, como capital de giro, cujo custo é bastante sensível à elevação dos juros básicos.
"Embora a alta de juros recente seja conjuntural, eles partem de um patamar elevado", diz Júlio César Durante, consultor do Sebrae-SP.
Durante ressalta que falta estrutura às pequenas empresas para lidar com problemas como o excesso de burocracia e a dificuldade de conseguir empréstimos.
"Empresas grandes têm departamentos jurídicos e tributários, as menores, não, e isso dificulta muito", diz.
DIFICULDADES
Ele afirma que uma parcela não desprezível do faturamento das pequenas
empresas é destinada a cobrir os custos para cumprir com suas
obrigações.
O empresário André Fernandes diz sentir isso no cotidiano de sua consultoria, a MV Engenharia de Alimentos, com 12 anos de mercado.
Ele conta que há complicações pequenas e frequentes como o fato de que certos bancos não aceitam o pagamento de determinadas contas ou a dificuldade em quitar uma obrigação atrasada.
Recentemente, Fernandes levou dois meses para receber uma ordem de pagamento feita por uma empresa espanhola para a qual tinha prestado serviços no Brasil.
"Isso atrapalha o negócio, a área financeira faz um planejamento contando com aquela receita", diz.
Fernandes afirma que há profissionais que o procuram para abrir um negócio e acabam desistindo. "Não raro são necessárias documentações diferentes, que precisam ser apresentadas em diferentes órgãos públicos".
Ana Paula Vironez enfrentou isso para abrir uma loja de tintas. O excesso de documentação e a lentidão dos processos fizeram com que a inauguração, ocorrida em novembro, atrasasse dois meses.
"Perdi o melhor período para minha loja se tornar conhecida antes do fim do ano", diz ela.
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