O governo rendeu-se
Pressionada pelos próprios fracassos e pelo descrédito internacional,
administração Dilma percebeu que precisa mudar a política econômica
FSP
Muito a contragosto, o governo rendeu-se às críticas de que sua política
econômica conduziria o país a uma crise grave. Premido pelo
esvaziamento de seus cofres, rendeu-se ao fato de que não pode continuar
a gastar como nos primeiros anos de Dilma Rousseff.
Acuado pelo risco de fracasso das privatizações de serviços públicos,
rendeu-se à necessidade de reformular os leilões de concessão.
Rendeu-se ainda à necessidade de dar combate direto à inflação, e a taxa
básica de juros voltou a subir. Rendeu-se ao descrédito e malogro de
sua política de controlar preços, diretamente ou por meio de
desonerações de impostos, embora os desarranjos ainda permaneçam,
maquiando e reprimindo artificialmente a inflação.
O esgotamento do arsenal de medidas de estímulo econômico e de
intervenção em preços e rendas não resultou em progresso nem segundo os
critérios do governo.
A presidente e seus ministros diziam no início de 2011 que a economia
cresceria a 6% ao ano; mudaram para 4,5% em 2012. No final do ano
passado, acreditavam em expansão de 4% neste 2013. Na média anual, o PIB
do triênio não terá avançado mais de 2%.
Seria difícil ter crescido muito mais que isso, sob qualquer governo. No
início dos anos Dilma, o país tinha de lidar com os problemas da crise
mundial, os excessos do final da gestão Lula, os efeitos de quase meia
década de inércia reformista, entre outros obstáculos.
Mas é lamentável que o triênio tenha sido perdido em tentativas pueris
de estimular a economia no curto prazo, como se o país estivesse pronto
para deslanchar.
Impressionado pelas ruas, pelo descrédito internacional, pelo aumento
das taxas de juros no mercado doméstico, o governo cedeu. Até sua
estimativa de crescimento é mais modesta para 2014: "melhor que o deste
ano", apenas.
Ainda assim, não se percebe atitude positiva do governo. Desistiu de
acumular equívocos, mas não deu provas de que vai reformular de modo
decisivo sua política. Se por mais não fosse, 2014 é ano de eleição.
Convém não fazer marolas, não desagradar nem a comunidade financeira nem
o eleitorado.
Seria ingênuo, pois, reivindicar que fizesse logo o ajuste necessário
para o país retomar ao menos o caminho da normalidade, tendo, assim,
condições de refletir sobre alternativas de desenvolvimento.
Normal seria o governo ao menos controlar sua dívida. Desistir de
reprimir preços --arbitrariedade que, por exemplo, avaria a mais
importante empresa do país, a Petrobras. Normal seria o realismo
tarifário no setor elétrico, nos serviços públicos a conceder; seria a
redução de subsídios caríssimos a empresas, por meio do BNDES.
Trata-se de uma proposta muito modesta, nada além de um primeiro e
pequeno passo para que o Brasil se habilite a planejar e modificar o seu
futuro, nublado por três anos de imediatismos simplórios e, obviamente,
ineficazes.
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