Adam Nagourney - NYT
J. Emilio Flores/The New York Times
Policial multa pedestre por atravessar a rua ilegalmente no centro de Los Angeles (EUA)
J. Emilio Flores/The New York Times
Policial multa pedestre por atravessar a rua ilegalmente no centro de Los Angeles (EUA)
Em uma cidade de avenidas aparentemente intermináveis –com seu desfile
diário de acidentes de trânsito, congestionamentos e motoristas
agressivos– o Departamento de Polícia de Los Angeles está atualmente
voltando sua atenção para um tipo diferente de ameaça: os pedestres que
atravessam a rua ilegalmente.
Não é como na antiga série de TV "Dragnet", mas o Departamento de Polícia lavrou nas últimas semanas dezenas de multas a trabalhadores, compradores e turistas por atravessarem a rua ilegalmente no centro de Los Angeles. E a repressão levanta questões sobre se as autoridades estão tomando partido dos há muito dominantes automóveis, em um momento em que a cultura de pedestres está começando a decolar, alimentada pelo surgimento de novos escritórios, condomínios, hotéis e restaurantes no centro de Los Angeles.
"Nós temos que encorajar isso, não desencorajar", disse Brigham Yen, que escreve um blog sobre o desenvolvimento do centro, enquanto permanecia em uma esquina movimentada do distrito financeiro da cidade na hora do almoço, com os olhos à procura de algum policial escondido. "Nós deveríamos deixar os pedestres florescerem em Los Angeles, não penalizá-los."
A polícia diz que está simplesmente tentando manter a ordem em um momento em que o centro de Los Angeles, antes um lugar repleto de mato brotando nas frestas da pavimentação e de moradores de rua, está cheio de pessoas disputando espaço com os automóveis. "Há um afluxo imenso de pessoas na região central", disse o sargento Larry Delgado, do Divisão Central de Trânsito. "Se você sair ali, você verá policiamento."
Mesmo assim, o policiamento parece a muitos pedestres –os recém-chegados no pedaço– como um tanto tendencioso e claramente rígido. Quando Adam Bialik, um barman, botou o pé além do meio-fio a caminho do trabalho no Ritz-Carlton, instantes depois do semáforo de pedestres dar início à sua contagem regressiva para "Não Atravesse", ele foi recebido por um policial à espera do outro lado da rua e recebeu uma multa de US$ 197.
"Eu nem mesmo sabia que isso era contra a lei", ele disse. "Foi tipo: 'Você é do Departamento de Polícia de Los Angeles e é isso o que vocês estão fazendo agora?"
Esses pedestres estão enfrentando não apenas a polícia, mas uma cultura de carros historicamente entranhada, que há muito define a experiência de viver e trabalhar em Los Angeles. Com suas ruas largas e motoristas agressivos dobrando esquinas aceleradamente, cortando faixas e cruzando semáforos no vermelho, Los Angeles não é um local feito para pessoas que preferem caminhar.
Mas os tempos podem estar mudando. Há um número crescente de pessoas usando bicicletas, fazendo uso da malha em expansão de ciclovias. Los Angeles está no meio de uma grande ampliação de seu sistema de ônibus e metrô. Grande parte do planejamento urbano nos últimos anos, particularmente no centro e em Hollywood, visa encorajar as pessoas a abrirem mão de seus carros em prol do sistema de transporte público, de caminhar ou pedalar.
Por esse ponto de vista, a repressão é um momento de amadurecimento para esta cidade, uma ratificação de quão longe ela avançou. É uma simples questão de matemática: agora há um número suficiente de pessoas para serem multadas.
Quando Charlie Beck, o chefe de polícia de Los Angeles, apareceu na "KPCC", uma emissora pública de rádio, para seu programa mensal na semana passada, ele teve que responder repetidas vezes sobre o foco nos pedestres. Beck disse que a repressão era uma questão de segurança pública e fluxo de trânsito, notando a frustração dos motoristas que tentam entrar em uma rua e se veem diante de faixas de pedestres tomadas de pessoas.
"Esse é o período do ano mais repleto de pessoas no centro", disse Beck. "Grande parte desse trânsito pode ser atrapalhado por pedestres que não seguem as regras nas faixas de pedestre."
Muita gente argumenta que Los Angeles está tomando o partido errado nesse cabo de guerra nas ruas e de não estar se adaptando à mudança dos tempos.
"Los Angeles precisa de pedestre que atravessam fora da faixa", disse Nelson Algaze, um arquiteto que vive em Manhattan Beach e trabalha no centro. "É muito estúpido. O que isso faz é impedir a vitalidade de Los Angeles. Quando você vai a Nova York, quando você vai a Chicago, quando é seguro atravessar a rua, você simplesmente atravessa."
Blair Besten, diretora executiva do Distrito de Desenvolvimento Econômico do Centro Histórico de Los Angeles, disse estar preocupada que isso possa afugentar turistas de outras partes do país, sem contar turistas de outras partes dessa vasta cidade.
"Há o problema de pessoas atravessando a rua sem se preocuparem com o fato de haver carros, de atravessarem no meio da contagem regressiva e de não terem pressa de atravessar", ela disse. "Mas não estou certa que uma força-tarefa para multar as pessoas indiscriminadamente seja a melhor política. Eu não sei se quero que a primeira experiência de alguém no centro seja uma multa por atravessar a rua ilegalmente."
A polícia disse que ainda não analisou as citações lavradas naquela parte da cidade a pedestres e motoristas, o que documentaria quão intensa é a repressão. Mas Delgado disse que ocorreram cerca de 125 acidentes envolvendo pedestres e veículos motorizados neste ano, isso antes do início do período de Festas.
"Nós temos uma grande área onde as pessoas usam carros e há pedestres circulando", ele disse. "Logo, é mais importante controlar isso e ter alguma civilidade."
Tradutor: George El Khouri Andolfato
Não é como na antiga série de TV "Dragnet", mas o Departamento de Polícia lavrou nas últimas semanas dezenas de multas a trabalhadores, compradores e turistas por atravessarem a rua ilegalmente no centro de Los Angeles. E a repressão levanta questões sobre se as autoridades estão tomando partido dos há muito dominantes automóveis, em um momento em que a cultura de pedestres está começando a decolar, alimentada pelo surgimento de novos escritórios, condomínios, hotéis e restaurantes no centro de Los Angeles.
"Nós temos que encorajar isso, não desencorajar", disse Brigham Yen, que escreve um blog sobre o desenvolvimento do centro, enquanto permanecia em uma esquina movimentada do distrito financeiro da cidade na hora do almoço, com os olhos à procura de algum policial escondido. "Nós deveríamos deixar os pedestres florescerem em Los Angeles, não penalizá-los."
A polícia diz que está simplesmente tentando manter a ordem em um momento em que o centro de Los Angeles, antes um lugar repleto de mato brotando nas frestas da pavimentação e de moradores de rua, está cheio de pessoas disputando espaço com os automóveis. "Há um afluxo imenso de pessoas na região central", disse o sargento Larry Delgado, do Divisão Central de Trânsito. "Se você sair ali, você verá policiamento."
Mesmo assim, o policiamento parece a muitos pedestres –os recém-chegados no pedaço– como um tanto tendencioso e claramente rígido. Quando Adam Bialik, um barman, botou o pé além do meio-fio a caminho do trabalho no Ritz-Carlton, instantes depois do semáforo de pedestres dar início à sua contagem regressiva para "Não Atravesse", ele foi recebido por um policial à espera do outro lado da rua e recebeu uma multa de US$ 197.
"Eu nem mesmo sabia que isso era contra a lei", ele disse. "Foi tipo: 'Você é do Departamento de Polícia de Los Angeles e é isso o que vocês estão fazendo agora?"
Esses pedestres estão enfrentando não apenas a polícia, mas uma cultura de carros historicamente entranhada, que há muito define a experiência de viver e trabalhar em Los Angeles. Com suas ruas largas e motoristas agressivos dobrando esquinas aceleradamente, cortando faixas e cruzando semáforos no vermelho, Los Angeles não é um local feito para pessoas que preferem caminhar.
Mas os tempos podem estar mudando. Há um número crescente de pessoas usando bicicletas, fazendo uso da malha em expansão de ciclovias. Los Angeles está no meio de uma grande ampliação de seu sistema de ônibus e metrô. Grande parte do planejamento urbano nos últimos anos, particularmente no centro e em Hollywood, visa encorajar as pessoas a abrirem mão de seus carros em prol do sistema de transporte público, de caminhar ou pedalar.
Por esse ponto de vista, a repressão é um momento de amadurecimento para esta cidade, uma ratificação de quão longe ela avançou. É uma simples questão de matemática: agora há um número suficiente de pessoas para serem multadas.
Quando Charlie Beck, o chefe de polícia de Los Angeles, apareceu na "KPCC", uma emissora pública de rádio, para seu programa mensal na semana passada, ele teve que responder repetidas vezes sobre o foco nos pedestres. Beck disse que a repressão era uma questão de segurança pública e fluxo de trânsito, notando a frustração dos motoristas que tentam entrar em uma rua e se veem diante de faixas de pedestres tomadas de pessoas.
"Esse é o período do ano mais repleto de pessoas no centro", disse Beck. "Grande parte desse trânsito pode ser atrapalhado por pedestres que não seguem as regras nas faixas de pedestre."
Muita gente argumenta que Los Angeles está tomando o partido errado nesse cabo de guerra nas ruas e de não estar se adaptando à mudança dos tempos.
"Los Angeles precisa de pedestre que atravessam fora da faixa", disse Nelson Algaze, um arquiteto que vive em Manhattan Beach e trabalha no centro. "É muito estúpido. O que isso faz é impedir a vitalidade de Los Angeles. Quando você vai a Nova York, quando você vai a Chicago, quando é seguro atravessar a rua, você simplesmente atravessa."
Blair Besten, diretora executiva do Distrito de Desenvolvimento Econômico do Centro Histórico de Los Angeles, disse estar preocupada que isso possa afugentar turistas de outras partes do país, sem contar turistas de outras partes dessa vasta cidade.
"Há o problema de pessoas atravessando a rua sem se preocuparem com o fato de haver carros, de atravessarem no meio da contagem regressiva e de não terem pressa de atravessar", ela disse. "Mas não estou certa que uma força-tarefa para multar as pessoas indiscriminadamente seja a melhor política. Eu não sei se quero que a primeira experiência de alguém no centro seja uma multa por atravessar a rua ilegalmente."
A polícia disse que ainda não analisou as citações lavradas naquela parte da cidade a pedestres e motoristas, o que documentaria quão intensa é a repressão. Mas Delgado disse que ocorreram cerca de 125 acidentes envolvendo pedestres e veículos motorizados neste ano, isso antes do início do período de Festas.
"Nós temos uma grande área onde as pessoas usam carros e há pedestres circulando", ele disse. "Logo, é mais importante controlar isso e ter alguma civilidade."
Tradutor: George El Khouri Andolfato
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