Pobreza atinge níveis recordes na Itália
James Mackenzie - Reuters
A pobreza chegou ao nível mais elevado na Itália em pelo
menos 16 anos como resultado da crise econômica que provocou o aumento
do desemprego e a redução do valor dos salários, de acordo com um estudo
sobre coesão social divulgado nesta segunda-feira.
A pobreza relativa, definida como uma família com duas pessoas
vivendo com uma renda mensal de 991 euros ou menos, afeta 12,7 por cento
das famílias, o percentual mais elevado desde que a atual compilação de
dados teve início, em 1997, de acordo com o relatório do instituto de
estatísticas Istat.
O estudo, um compêndio de dados abrangendo itens como emprego e
demografia, assinala que a pobreza se aprofundou em todas as regiões na
Itália entre 2011 e 2012. A pobreza relativa passou de 4,9 para 6,2 por
cento no rico norte da Itália, e de 23,3 para 26,2 por cento no sul,
área mais pobre.
O relatório apresenta um quadro sombrio do impacto da pior recessão
do pós-guerra no país, com níveis recordes de desemprego, renda
arrochada e o declínio dos empregos permanentes e de período integral.
"Como um dos países mais afetados pela crise, a Itália registrou um
declínio progressivo nos principais indicadores macroeconômicos e
sociais em 2012", disse o ministro do Trabalho e ex-chefe do Istat,
Enrico Giovannini, no prefácio do estudo.
"Apesar disso, a coesão social se mantém, permitindo ao país aguentar
os sacrifícios com o objetivo de recuperar a estabilidade financeira e
aprovar reformas importantes", escreveu.
O tom relativamente otimista contrasta fortemente com comentários
recentes da federação empresarial, a Confindustria, que alertou neste
mês para o fato de a recessão ter infligido danos na economia italiana
comparáveis aos causados por uma guerra.
As dificuldades causadas pelo desemprego e medidas tomadas pelo
governo para manter as exauridas finanças públicas sob controle
alimentam crescente descontentamento no país, expresso por uma longa
série de protestos, às vezes violentos, nas ruas no início deste mês.
O desemprego está no seu maior nível na Itália desde pelo menos o fim
dos anos 1970. A taxa total era de 12,5 por cento em outubro, de acordo
com as últimas cifras da Istat, mas alcançava 41,2 por cento entre os
jovens.
Os dados do instituto mostram que o número de trabalhadores com
contratos permanentes, de jornada de período integral, caiu 1,3 por
cento em 2013, passando a 10,3 milhões de pessoas, enquanto o de jovens
na mesma condição diminuiu 9,4 por cento.
Essas cifras são uma amostra dos desafios do governo do
primeiro-ministro Enrico Letta, que planeja reformar a legislação
trabalhista para reduzir o fosso entre os funcionários com contratos
permanentes, que possuem uma ampla gama de benefícios e privilégios, e
um crescente exército de trabalhadores temporários e de meio-período,
com pouca proteção legal.
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