Contra a corrupção
Embora tenha avançado em casos importantes de desvio de recursos
públicos, Justiça deve celeridade em episódios de menor repercussão
FSP
Carregado de simbolismo, o julgamento do mensalão chegou ao fim para a
maioria dos réus neste ano. Diversas penas até já são cumpridas pelos
condenados sem direito a mais nenhum recurso --situação, por exemplo, do
ex-ministro da Casa Civil José Dirceu (PT).
Também em 2013 remeteu-se ao Supremo Tribunal Federal (STF) a
investigação sobre o escândalo do cartel em licitações do Metrô e da
CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos) durante sucessivas
administrações do PSDB no Estado de São Paulo.
O mesmo tribunal ordenou, neste ano, a prisão do deputado federal Natan
Donadon (ex-PMDB-RO), condenado a 13 anos em regime fechado por crimes
de peculato e formação de quadrilha. Foi a primeira prisão de um
político determinada pelo STF desde a promulgação da Constituição de
1988.
Ainda nessa seara, prevê-se que o caso do mensalão mineiro, ou tucano, seja julgado pelo Supremo no primeiro semestre de 2014.
São demonstrações de que o Judiciário procura responder, pelo menos em
circunstâncias de grande repercussão midiática, aos anseios de
moralização da política.
Tais episódios, todavia, não representam com exatidão o funcionamento da
Justiça nesse campo. Segundo meta estipulada pelo Conselho Nacional de
Justiça (CNJ), os tribunais deveriam julgar neste ano todas as ações
relativas a corrupção e desvios dos cofres públicos distribuídas até
2011.
O ano termina, no entanto, sem que o objetivo tenha sido alcançado.
Apenas 54% do plano foi cumprido: das 114 mil ações dessa natureza no
estoque judicial, só 62 mil foram julgadas.
É lamentável que uma iniciativa de tamanha importância simbólica
--mostrar à sociedade que políticos que lesem o patrimônio público não
terão privilégios na esfera judicial-- seja tratada com descaso por
alguns tribunais.
Finalizar tais processos traria um relevante efeito concreto. Políticos
condenados por um órgão colegiado, conforme a Lei da Ficha Limpa, ficam
impedidos de disputar eleições por oito anos.
Poucos Estados, contudo, chegaram perto de cumprir a meta, e alguns
mostraram inexplicável descaso --na Bahia e no Piauí, por exemplo, o
número de processos julgados não passou de 11%. São Paulo só deu conta
de 54% dos casos sob sua responsabilidade.
Sem que tenham honrado o compromisso assumido, os presidentes dos
tribunais brasileiros estenderam a diretriz do CNJ para 2014. No intuito
de deixar o atraso menos vexatório, decidiram alargar o objetivo,
incluindo o julgamento de ações distribuídas durante 2012.
Demonstração de avanço, sem dúvida; em outros tempos, talvez dessem de
ombros. Mas o sinal que mais se aguarda é o de que todos os casos de
corrupção serão julgados com celeridade e rigor. E esse, porém, o
Judiciário ainda não deu.
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