Refugiados africanos marcham por asilo político em Israel
Nos último dias, autoridades israelenses iniciaram prisões em massa de refugiados que moram no sul de Tel Aviv
Guila Flint - OM
Milhares de refugiados africanos, acompanhados por ativistas
israelenses, marcharam na noite deste sábado (28/12) em Tel Aviv, em
protesto contra o encarceramento de eritreus e sudaneses que pedem asilo
político em Israel.
Os manifestantes fizeram uma passeata que começou no sul da cidade e
terminou na Praça Rabin, no centro, portando cartazes com os dizeres
“Liberdade”, “Somos refugiados” e “Ouçam nosso apelo”, em inglês,
hebraico, árabe e tigrínia.
Nos últimos dias as autoridades israelenses iniciaram prisões em massa
de refugiados que moram no sul de Tel Aviv. A polícia da Imigração
aparece de repente na região, prende todos os refugiados que encontra
nas ruas e os envia para a prisão de Holot, que fica no deserto do
Negev, no sul do país.
"Nos próximos dias vamos convidar os infiltrados a se deslocarem para o
campo aberto de Holot", disse o ministro do Interior, Gidon Saar.
Guila Flint/Opera Mundi
Milhares de refugiados participaram de manifestação nas ruas de Tel Aviv
Para o governo israelense, que não verificou individualmente o status
dos imigrantes, os 50 mil eritreus e sudaneses que se encontram em
Israel são "infiltrados ilegais que vieram em busca de trabalho".
No entanto, segundo a lei internacional, eles são refugiados, pois
fugiram de países onde corriam perigo de vida. Nessas circunstâncias,
Israel, que é signatário da convenção internacional sobre os direitos de
refugiados, não pode expulsar os africanos, que entraram a pé no país,
depois de cruzarem o deserto egípcio do Sinai.
Caçada humana
A israelense Orly Feldheim, uma das organizadoras da passeata, disse a Opera Mundi
que "é inconcebível que o Estado de Israel realize verdadeiras caçadas
humanas e envie os refugiados para campos de concentração".
"O tratamento que Israel está dando aos refugiados africanos é uma
vergonha, exigimos que eles sejam reconhecidos como refugiados e que
possam viver aqui de maneira digna e livre, até que seja possível seu
retorno a seus países", disse.
O que as autoridades israelenses qualificam como "campo aberto de
Holot" é uma prisão com sistema semiaberto, que fica no meio do deserto.
Em Holot os prisioneiros devem se apresentar para chamadas três vezes
por dia e são obrigados a dormir no local. Entre as chamadas eles
teoricamente podem sair do local, mas de fato não têm como desfrutar da
suposta liberdade, pois a prisão fica longe dos centros urbanos do Negev
e eles estão expressamente proibidos de trabalhar.
Os prisioneiros que se ausentam de Holot por mais de 48 horas são
enviados para a prisão de Saharonim, também no deserto do Negev, onde o
sistema é totalmente fechado.
Guila Flint/Opera Mundi
O ativista israelense Uri Gotlib, em meio às manifestações de refugiados africanos
O refugiado sudanês Mutasim Ali, de 27 anos, chegou em Israel em 2009, depois de atravessar a pé o deserto do Sinai.
"Estamos protestando pois a situação está ficando cada vez pior, as
autoridades israelenses estão prendendo milhares de pessoas que não
cometeram crime algum, estamos pedindo abrigo, somos refugiados", disse
Ali a Opera Mundi.
Ali fugiu da região de Darfur, onde centenas de milhares de pessoas
foram assassinadas. Ele contou que sua família ficou no Sudão, mas como
Israel não tem relações diplomáticas com seu país, a comunicação com os
familiares fica muito difícil.
"Tenho medo de telefonar para meus parentes no Sudão, pois como não há
relações diplomáticas, um telefonema daqui pode lhes causar danos",
disse.
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