Faculdades privadas modernizam aulas com método dos EUA
Algumas instituições brasileiras têm trocado a tradicional exposição do professor pelo debate entre alunos em sala
Formato inspirado nas aulas da Universidade Harvard (EUA) deve se espalhar pelo país, dizem educadores
FÁBIO TAKAHASHI - FSP
Estudantes em filas, professor à frente, explicação na lousa ou no
projetor. É tudo que algumas faculdades particulares têm buscado evitar
em seus cursos de graduação.
Há pouco mais de um ano, ao menos quatro instituições brasileiras
adotaram metodologias em que os estudantes precisam ler textos ou ver
vídeos antes das aulas, para terem um conhecimento básico prévio do
conteúdo.
Nas aulas há debates entre os alunos, e não a convencional exposição do
professor. A tradicional escola Belas Artes de São Paulo foi uma das que
adotou o método.
Educadores afirmam que o formato, inspirado em aulas da Universidade
Harvard (EUA), deve se espalhar pelo país, ainda que haja dificuldades
de implementação.
Na nova metodologia, ao professor cabe apresentar temas a serem
debatidos e acompanhar se as conclusões dos alunos caminham para a
direção correta.
Os alunos são distribuídos em mesas redondas de oito lugares cada uma,
em geral. O grupo deve apresentar resposta a uma pergunta posta pelo
docente --que conduz as discussões até que todos saibam a alternativa
certa.
Um dos métodos, chamado "peer instruction" (formação por pares), foi
criado pelo professor Eric Mazur, que leciona física em Harvard.
Ele estava incomodado com o fato de que poucos docentes conseguiam
prender a atenção dos estudantes por uma aula inteira --problema que
atinge cursos superiores no mundo todo.
Pesquisas de Mazur mostram que, com o novo formato, os alunos fixam melhor conteúdos e ganham capacidade de resolver problemas.
ATUALIZAÇÃO
"As aulas precisam ser mesmo atualizadas", disse o consultor de ensino
superior Roberto Lobo, ex-reitor da USP. "Mas os temas a serem abordados
devem ser bem administrados, senão, os alunos ficam com lacunas".
Diretor acadêmico da Unipac (MG), Gustavo Hoffmann afirma ser essencial,
no novo formato, que o aluno se prepare antes das aulas. "No modelo
tradicional, os professores até podem pedir leitura prévia. Mas a aula
ocorre normalmente se o aluno não se preparar", afirma.
"No novo modelo, não se consegue debater algo sem que você tenha uma base."
O preparo prévio exige cerca de uma hora por dia do aluno. Os cursos são
presenciais, ou seja, ao menos 80% da carga horária tem de ser cumprida
na faculdade.
"No começo, ficamos preocupados", disse José Augusto dos Santos Dias,
23, que teve a nova metodologia em algumas matérias do curso de direito
da Unisal (Lorena-SP). Um dos conteúdos que ele estudou no sistema foi
quais recursos poderiam ser impetrados para cada decisão judicial. "No
final, gostei."
A inclusão da nova metodologia nas grades curriculares varia entre as
faculdades. As mesmas instituições também têm adotado outras modalidades
parecidas ao "peer instruction", como a resolução de problemas.
Neste caso, o professor apresenta um problema real, enfrentado por uma
instituição, e os alunos têm de apresentar soluções. Depois, compara-se
com a solução adotada no caso concreto.
"A ideia é evitar que o aluno vá para a aula apenas para ouvir o
professor. Hoje, ele deve ser ativo", disse Marcilene Bueno, da área de
novas metodologias da Unisal.
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