A recuperação americana
O Estado de S.Paulo
O fortalecimento do papel da economia dos Estados Unidos
como um dos principais motores da recuperação mundial, reafirmado pela
estimativa de crescimento de 4,1% do seu Produto Interno Bruto (PIB) no
terceiro trimestre - de acordo com a mais recente revisão feita pelo
Departamento do Comércio do governo americano -, torna ainda mais
animadoras as perspectivas para os demais países.
Com a China, a segunda maior economia do planeta, que pode ter
crescido 7,5% em 2013, e o Japão, a terceira maior, que dá sinais de
finalmente ter iniciado um processo de firme crescimento (embora a um
ritmo menos intenso do que o das duas outras potências), os EUA poderão
contrabalançar a lentidão da recuperação da Europa, ainda às voltas com
os problemas fiscais de alguns dos membros da área do euro.
Os países em desenvolvimento perderam parte do impulso apresentado
nos primeiros anos que se seguiram ao início da crise mundial em 2008,
mas podem ter crescido cerca de 4,5% em 2013, segundo estimativas mais
recentes de organizações internacionais. Nesse cenário, o Brasil vai se
consolidando como uma exceção: cresce a um ritmo bem mais lento do que
os demais países em desenvolvimento e tende a repetir esse papel em
2014.
Tem sido notável a recuperação americana. Depois de registrar uma
variação muito próxima de zero no último trimestre de 2012, o PIB dos
EUA passou a apresentar índices de crescimento cada vez maiores. Cresceu
apenas 0,1% no quarto trimestre de 2012, na comparação com o resultado
de igual período do ano anterior, mas registrou aumento de 1,1% no
primeiro trimestre de 2013 e de 2,5% no segundo. A primeira estimativa
de crescimento para o terceiro trimestre era de 2,8%, revista para 3,6%
no início de dezembro e para os 4,1% anunciados na terceira estimativa.
Na estimativa anterior, o crescimento era atribuído em grande parte
ao estoque das empresas, o que indicava um desempenho pior da economia
nos meses seguintes. Isso gerou preocupação. Mas a revisão dos dados
feita pelo Departamento do Comércio afastou boa parte dos temores.
O aumento do crescimento na nova estimativa se deveu à revisão dos
gastos dos consumidores, que subiram 2% no terceiro trimestre (a
estimativa anterior era de crescimento de 1,4%). O Departamento do
Comércio constatou que, no período, as famílias americanas gastaram mais
com itens como eletrodomésticos, gasolina e serviços, incluindo os de
saúde.
Também foram revistos para cima o crescimento das exportações e a expansão dos gastos do poder público nos três níveis.
Quanto ao último trimestre de 2013, as projeções são mais
pessimistas. Foi, como se recorda, um período de grandes dificuldades
políticas para o governo de Barack Obama, que travou duras negociações
com a oposição no Congresso para aprovar o orçamento federal. As
limitações impostas pelos congressistas tolhem as ações do governo para
estimular a economia. Mas as revisões feitas pelo Departamento do
Comércio do desempenho da economia americana no terceiro trimestre de
2013 reforçam as expectativas de que o crescimento em 2014 também pode
ser forte.
O Federal Reserve Board por certo já tinha detectado os bons sinais
recentes da atividade econômica, cuja recuperação considerou consistente
o suficiente para anunciar a redução gradual do total de compras de
títulos do Tesouro americano e de papéis lastreados em hipotecas
imobiliárias iniciadas em meados de 2012 para injetar dinheiro na
economia, com o objetivo de estimular o crédito, a recuperação do setor
de imóveis e a redução dos juros de longo prazo. A partir de janeiro de
2014, o Federal Reserve reduzirá mensalmente em US$ 10 bilhões o total
de compras, que vinha sendo de US$ 85 bilhões por mês.
Países em que predominam políticas adequadas certamente se
beneficiarão da recuperação mundial puxada pelos EUA e por outras
grandes economias. Tendo de conviver com pressões inflacionárias,
dúvidas sobre a consistência da política fiscal e deterioração nas
contas externas, o Brasil tenderá a manter o desempenho frustrante que
apresentou em 2013.
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