segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

A recuperação americana
O Estado de S.Paulo
O fortalecimento do papel da economia dos Estados Unidos como um dos principais motores da recuperação mundial, reafirmado pela estimativa de crescimento de 4,1% do seu Produto Interno Bruto (PIB) no terceiro trimestre - de acordo com a mais recente revisão feita pelo Departamento do Comércio do governo americano -, torna ainda mais animadoras as perspectivas para os demais países.
Com a China, a segunda maior economia do planeta, que pode ter crescido 7,5% em 2013, e o Japão, a terceira maior, que dá sinais de finalmente ter iniciado um processo de firme crescimento (embora a um ritmo menos intenso do que o das duas outras potências), os EUA poderão contrabalançar a lentidão da recuperação da Europa, ainda às voltas com os problemas fiscais de alguns dos membros da área do euro.
Os países em desenvolvimento perderam parte do impulso apresentado nos primeiros anos que se seguiram ao início da crise mundial em 2008, mas podem ter crescido cerca de 4,5% em 2013, segundo estimativas mais recentes de organizações internacionais. Nesse cenário, o Brasil vai se consolidando como uma exceção: cresce a um ritmo bem mais lento do que os demais países em desenvolvimento e tende a repetir esse papel em 2014.
Tem sido notável a recuperação americana. Depois de registrar uma variação muito próxima de zero no último trimestre de 2012, o PIB dos EUA passou a apresentar índices de crescimento cada vez maiores. Cresceu apenas 0,1% no quarto trimestre de 2012, na comparação com o resultado de igual período do ano anterior, mas registrou aumento de 1,1% no primeiro trimestre de 2013 e de 2,5% no segundo. A primeira estimativa de crescimento para o terceiro trimestre era de 2,8%, revista para 3,6% no início de dezembro e para os 4,1% anunciados na terceira estimativa.
Na estimativa anterior, o crescimento era atribuído em grande parte ao estoque das empresas, o que indicava um desempenho pior da economia nos meses seguintes. Isso gerou preocupação. Mas a revisão dos dados feita pelo Departamento do Comércio afastou boa parte dos temores.
O aumento do crescimento na nova estimativa se deveu à revisão dos gastos dos consumidores, que subiram 2% no terceiro trimestre (a estimativa anterior era de crescimento de 1,4%). O Departamento do Comércio constatou que, no período, as famílias americanas gastaram mais com itens como eletrodomésticos, gasolina e serviços, incluindo os de saúde.
Também foram revistos para cima o crescimento das exportações e a expansão dos gastos do poder público nos três níveis.
Quanto ao último trimestre de 2013, as projeções são mais pessimistas. Foi, como se recorda, um período de grandes dificuldades políticas para o governo de Barack Obama, que travou duras negociações com a oposição no Congresso para aprovar o orçamento federal. As limitações impostas pelos congressistas tolhem as ações do governo para estimular a economia. Mas as revisões feitas pelo Departamento do Comércio do desempenho da economia americana no terceiro trimestre de 2013 reforçam as expectativas de que o crescimento em 2014 também pode ser forte.
O Federal Reserve Board por certo já tinha detectado os bons sinais recentes da atividade econômica, cuja recuperação considerou consistente o suficiente para anunciar a redução gradual do total de compras de títulos do Tesouro americano e de papéis lastreados em hipotecas imobiliárias iniciadas em meados de 2012 para injetar dinheiro na economia, com o objetivo de estimular o crédito, a recuperação do setor de imóveis e a redução dos juros de longo prazo. A partir de janeiro de 2014, o Federal Reserve reduzirá mensalmente em US$ 10 bilhões o total de compras, que vinha sendo de US$ 85 bilhões por mês.
Países em que predominam políticas adequadas certamente se beneficiarão da recuperação mundial puxada pelos EUA e por outras grandes economias. Tendo de conviver com pressões inflacionárias, dúvidas sobre a consistência da política fiscal e deterioração nas contas externas, o Brasil tenderá a manter o desempenho frustrante que apresentou em 2013.

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