Campanha de Capriles é ofuscada por câncer de Hugo Chávez
Rival do atual presidente da Venezuela tenta diminuir diferença na corrida eleitoral
O GLOBO/Reuters
CARACAS — Em uma noite em meados de fevereiro, Henrique Capriles ficou rouco de tanto comemorar a vitória surpreendente que lhe transformou no candidato da oposição que iria disputar as eleições presidenciais contra Hugo Chávez, na Venezuela. Três meses depois, apesar de uma cansativa campanha, Capriles segue muito longe do atual líder venezuelano na maioria das pesquisas. Em algumas sondagens, inclusive, chegou a perder um ou dois pontos. A campanha, meticulosamente planejada, não consegue passar por um tema que não sai dos holofotes: a luta de Chávez contra um câncer.
A maior promessa política de Capriles até agora, de criar 3 milhões de empregos em seis anos, teve pouca presença nas manchetes do jornais do país e nas ruas. — Ele estava hoje em campanha, mas pelo resto do país ninguém sabe — disse o pesquisador de opinião pública local, Oscar Schémel.
Os dados mostram que Capriles segue estagnado nas preferências eleitorais, desde que ganhou as primárias da oposição, com 34% de apoio, contra 53% de Chávez. Até o jornal opositor, “Tal Cual”, sugeriu que a campanha do candidato segue insossa. “A imagem de Capriles prometendo criar empregos pode competir com as declarações de um Chávez que pede a Deus que lhe dê vida para servir o povo venezuelano, enquanto destina os lucros do petróleo a programas sociais pré-eleitorais”, declarou um dos colunistas.
Capriles e seus assessores questionam a opinião de Schémel e de outros especialistas, destacando o fracasso das pesquisas em prever o nível de sua vitória nas primárias, com 62%, ou a inesperada presença de 3 milhões de eleitores. Confiante, o candidato da oposição gosta de lembrar aos venezuelanos que nunca perdeu uma eleição, e que inclusive chegou a governador de Miranda após derrotar o poderoso aliado de Chávez, Diosdado Cabello.
Ao ser consultado durante uma visita a Colômbia sobre seus problemas para crescer nas pesquisas, Capriles relembrou as primárias e prometeu que estaria de volta em breve, mas como presidente da Venezuela.
— As pessoas simplesmente não revelam sua verdadeira intenção de voto porque têm medo de uma retaliação. Temos um governo que todos os dias lembra aos empregados públicos e beneficiários de programas sociais que, se não estiverem com o Governo, serão considerados inimigos e perderão todos seus benefícios — disse a Reuters Maria Corina Machado, uma das líderes da campanha de Capriles.
A influência do fator câncer
Nos últimos dias, Capriles tem se mostrado mais agressivo ao se igualar a Chávez com uma série de mensagens fortes pelo Twitter. Ainda que não tenha especulado sobre a saúde do presidente socialista, faz críticas sobre o “governo por telefone” de Cuba.
O consenso geral, desde analistas de Wall Street até as universidades da Venezuela é que seria pouco provável que Capriles derrote Chávez em circunstâncias normais, devido a forte conexão emocional das pessoas mais pobres com o líder venezuelano, a permanente popularidade de suas políticas sociais e a retomada econômica. Mas as circunstâncias não são normais: Chavéz só foi visto em público uma única vez desde 13 de abril, o que alimenta as especulações de que o câncer diagnosticado há um ano tenha se alastrado e possa ser fatal. Neste caso, as pesquisas indicam que Capriles provavelmente venceria os principais aliados do atual presidente.
O jovem Capriles tem buscado se identificar com os ideiais da “esquerda moderna” do Brasil, e prometeu manter as políticas sociais populares de Chavéz. Ele também mostra um estilo cheio de energia que faz lembrar os primeiros dias do atual presidente. Até agora sua estratégia está baseada em dois princípios: centrar-se nos principais problemas dos venezuelanos, como o desemprego e a criminalidade, e estreitar os laços com eleitores, de casa em casa, em todos os cantos do país.
— Esse senhor tem um dilema: quem ele é e quem quer parecer ser. Por isso trata de colocar jaquetas, como o presidente. Quer utilizar a linguagem do presidente, falar com o povo, mas da garganta dele não sai a palavra ‘povo’ — debochou Cabello, seu antigo rival.
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