Der Spiegel
Georges Gobet/AFP
Primeira-ministra eslovena Alenka Bratusek (à esq.) cumprimenta o presidente da Comissão europeia Jose Manuel Barroso (à dir.) em reunião realizada na sede da União europeia em Bruxelas
Será que a Eslovênia se transformará na próxima vítima da crise do euro? Um novo relatório divulgado pela OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) destaca os profundos problemas enfrentados pela economia e pelo setor bancário do país. Enquanto Bruxelas e Liubliana insistem que um resgate financeiro não será necessário, o país está prestes a enfrentar tempos difíceis.Uma fileira de edifícios, que abriga 833 apartamentos, está quase vazia, e as obras em alguns desses prédios ainda não foram concluídas. Próximo desse empreendimento há um buraco profundo, pronto para ser preenchido pelas estruturas de um novo hotel – que agora, quase que certamente, nunca será construído.
Essa cena pode ser vista em vários países da zona euro, que têm sido devastados pela crise das dívidas soberanas e pelo estouro da bolha imobiliária. Mas esse complexo de edifícios em especial, conhecido como Siska, está localizado nos arredores de Liubliana, capital da minúscula Eslovênia. E oferece um cenário dramático para os crescentes temores de que o país poderá, em breve, tornar-se o próximo membro da zona do euro a necessitar de um resgate financeiro de Bruxelas.
A preocupação de que Liubliana possa, em breve, solicitar ajuda financeira emergencial foi intensificada na terça-feira passada por um relatório divulgado pela OCDE. Ao citar as dificuldades econômicas pelas quais o país tem passado, além do aumento de sua dívida soberana e os sérios problemas de seu setor bancário, o relatório observou que a Eslovênia corre o risco de sofrer uma "recessão prolongada e ter seu acesso aos mercados financeiros limitado".
Em outras palavras, a Eslovênia pode, em breve, ser incapaz de solicitar nos mercados os empréstimos de que necessita para se manter solvente. A primeira-ministra eslovena, Alenka Bratusek, foi rápida ao descartar os temores relacionados à possibilidade de um resgate financeiro, os quais chamou de "especulação". Ela insistiu que os fundamentos econômicos de seu país continuam sólidos, e que a Eslovênia é capaz de cuidar dos problemas que enfrenta atualmente sem ajuda externa. O presidente da Comissão Europeia, José Manuel Durão Barroso, também rebateu o relatório da OCDE, e afirmou estar "confiante de que a Eslovênia enfrentará os desafios" de frente.
Problemas no setor bancário
E esses desafios são muitos. A economia eslovena está em recessão, e a OCDE prevê uma contração adicional de 2,1% para este ano. A dívida soberana do país, apesar de atualmente ser inferior à média da zona do euro, deverá dobrar para 100% do Produto Interno Bruto (PIB) até 2025, de acordo com o relatório. Embora a OCDE observe que Liubliana tem dado passos significativos no sentido de consolidar seu orçamento e reformar sua economia, o relatório afirma que pode demorar muitos anos até que a Eslovênia consiga voltar a acompanhar o ritmo dos "países-membros mais desenvolvidos da OCDE".
Primeiro e mais importante, no entanto, é o fato de os problemas da Eslovênia estarem concentrados em suas instituições financeiras. Apesar de o valor total do setor bancário esloveno equivaler a cerca de 140% do PIB do país – percentual bem abaixo da média da zona do euro e bem menor do que a taxa de mais de 800% registrada em Chipre –, o colapso do setor imobiliário do país deixou os bancos com uma quantidade significativa de empréstimos podres (ou dívidas incobráveis) em seus livros contábeis.
Como o relatório da OCDE destacou, muitos dos problemas enfrentados pelos bancos eslovenos podem ser atribuídos ao fato de o setor nunca ter sido totalmente privatizado após a queda do comunismo. O resultado é que o governo detém um grande e pouco saudável nível de influência política sobre os grandes bancos da Eslovênia, como o Nova Ljubljanska Banka, o maior do país. Os críticos alegam que algumas empresas até chegaram a receber tratamento especial devido a suas ligações políticas.
"Trabalhando dia e noite"
O resultado direto dessa situação: até 7 bilhões de euros (US$ 9,17 bilhões) em empréstimos podres (ou dívidas incobráveis) que pesam sobre os balanços dos bancos eslovenos. O governo de Bratusek está tentando atualmente traçar um plano para criar um "banco podre" no qual possa descarregar esses empréstimos, muitos deles concedidos à moribunda a indústria da construção civil local. Segundo notícias divulgadas pela imprensa, o país também terá que injetar 1 bilhão de euros nesses bancos de modo a prepará-los para uma venda, embora nenhuma data tenha sido definida ainda. Temores de que o governo esloveno não será capaz de obter esse dinheiro, junto com outros 2 bilhões de euros de que Liubliana necessita para permanecer solvente, têm gerado um aumento no custo dos empréstimos no país.
"Estamos cientes de que o setor bancário é o problema número um da Eslovênia", disse Bratusek, que se tornou primeira-ministra em março passado. "Estamos trabalhando nisso literalmente dia e noite".
Se a Eslovênia for obrigada a pedir ajuda financeira emergencial, o país se tornaria o sexto membro da zona do euro a fazê-lo. A economia da Eslovênia representa apenas 0,4% da produção econômica anual do grupo de países que utilizam o euro como moeda.
Tradutor: Cláudia Gonçalves
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