quinta-feira, 11 de abril de 2013

Na Grécia, política de desvalorização interna faz os preços caírem
Alain Salles - Le Monde
Sakis Mitrolidis/AFPManifestantes protestam na cidade grega de Thessaloniki contra as medidas de austeridade propostas pelo governo do país, que tiveram o objetivo de atrair ajuda financeira internacional e prevenir o calote da dívidaManifestantes protestam na cidade grega de Thessaloniki contra as medidas de austeridade propostas pelo governo do país, que tiveram o objetivo de atrair ajuda financeira internacional e prevenir o calote da dívida
Pela primeira vez desde 1968, a inflação foi negativa na Grécia em março. Os preços caíram 0,2%, em relação a março de 2012. Essa mudança acaba com uma das anomalias da crise. Enquanto os salários baixavam e o PIB do país afundava, os preços continuavam a subir.
Desde que as primeiras medidas de austeridade foram adotadas em 2010, a inflação foi de 9,5%, ao passo que o PIB perdeu 18,4% e os salários diminuíram 10,2%. Ao mesmo tempo, os impostos não pararam de aumentar.  
Em 2012, a inflação havia desacelerado para se estabelecer em 1,5%, um resultado inferior que na maioria dos países europeus. O governo previu uma inflação de 0,8% em 2013.
O número deveria ser menor, segundo Angelos Tsakanikas, da Fundação para Pesquisa Econômica e Industrial: "Nós prevíamos uma inflação zero, ou até ligeiramente negativa, de -0,1% ou -0,2%. Foi bom, pois as pessoas estavam imaginando por que os preços não baixavam, sendo que suas rendas estavam diminuindo. E o consumo caiu".
Redução dos aluguéis
Até então, os aumentos dos impostos, a falta de concorrência em diversos setores, o peso dos intermediários no grande varejo e o volume de importações impediram qualquer queda de preço, provocando uma queda no consumo.
Os preços baixaram sobretudo no domínio das telecomunicações e da saúde, graças aos genéricos, até então caros e pouco receitados. Os laboratórios se aproveitavam da desorganização no abastecimento dos hospitais. Ao lançar licitações na internet para a compra centralizada de medicamentos, o Ministério da Saúde constatou, em certos casos, reduções de 90% para certos produtos.
Já os preços no setor de moradia, pelo contrário, aumentaram – apesar de uma queda nos aluguéis – em razão dos aumentos de impostos (taxa sobre propriedade, taxa sobre combustível de uso doméstico).
Para o economista Panayotis Petrakis, da Universidade de Atenas, esse é o "primeiro sinal de que a política de desvalorização interna está dando seus frutos". Segundo ele, "esse efeito poderia ter sido atingido antes e a um custo social menor, se os impostos não tivessem sido aumentados de maneira tão brusca".
Essa inflação negativa beneficiará as empresas voltadas para a exportação. Embora correspondam a somente 14,2% do PIB grego, isso representa quase o dobro de 2009.
Para Tsakanikas, "é bom o fato de que a Grécia tenha o menor índice de inflação da zona do euro". Embora ele não acredite que isso permitirá uma retomada do consumo, ele não teme um grande risco de deflação: "Se essa tendência durasse quatro ou cinco anos, certamente seria preocupante, mas não creio que seja o caso".
Petrakis é menos otimista: "Temo que essa corrente deflacionista, ainda que pequena, reverta antes que a demanda volte a aumentar", ele diz. "Provavelmente através de investimentos em infraestrutura financiados pelos fundos estruturais europeus e pelas empresas voltadas para a exportação". A economia grega continua dependendo da volta do crescimento.
Tradutor: Lana Lim 

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