Eric Albert - Le Monde
Chris Young/AP
Carros circulam em rua de Londres
Nesta semana, o grande plano de austeridade criado pelo governo do conservador David Cameron quando chegou à Downing Street entra em uma fase crucial. Como previsto, diversos auxílios sociais serão reduzidos, o que terá como consequência um profundo remodelamento do Estado-providência britânico. São medidas que não agradam a oposição trabalhista, associações de caridade e líderes religiosos.
Em uma rara declaração conjunta, divulgada no domingo de Páscoa (31), a Igreja da Escócia, a Igreja Protestante Unida, a União Batista da Grã-Bretanha e a Igreja Metodista acusaram o governo britânico de "distorcer sistematicamente a representação dos mais pobres dentro da sociedade", fazendo das categorias mais humildes um alvo fácil nesses tempos de crise.
Durante todo o mês de abril, uma série de reformas revisará o funcionamento do Estado de bem-estar social. O resultado será uma economia de 3 bilhões de euros por ano, segundo cálculos da associação Child Poverty Action Group.
Para isso, o governo não indexará mais as bolsas-auxílio à inflação (atualmente em 2,8%) e só as aumentará em 1% ao ano durante três anos. O acesso aos auxílios para deficientes também será bastante endurecido. Mas a maior parte das reformas envolve três grandes mudanças.
A primeira é apelidada de "taxa sobre o dormitório" por seus opositores: os britânicos que moram em conjuntos habitacionais e que dispõem de um cômodo vazio terão um corte de 14% em seus auxílios à moradia. O objetivo é obrigar esses habitantes a se mudarem para apartamentos menores, para alojar as famílias amontoadas em exíguas moradias sociais.
A reforma provocou uma grande controvérsia, pois os filhos de uma mesma família devem dividir o mesmo quarto: se cada um tiver o seu, isso conta como um cômodo vago. Além disso, muitos idosos, que viveram a maior parte de sua vida em um mesmo apartamento, mas cujos filhos saíram de casa, não entendem essa obrigação de deixarem seus lares.
A segunda reforma que está no centro da polêmica é a criação de um teto máximo de auxílios sociais que as pessoas não poderão ultrapassar: nenhuma família poderá receber mais de 2.500 euros por mês em auxílios sociais, o equivalente ao que ganha uma família média no Reino Unido.
Pode parecer uma quantia grande, mas ela é insuficiente em quase 100 mil casos no Reino Unido. Na sua maioria, trata-se de pais solteiros, sem emprego, cuidando de vários filhos, que vivem em Londres, onde o aluguel é caro. Em média, eles perderão 450 euros por mês.
Um único auxílio aos desempregados
Essas duas modificações, no entanto, serão somente um aperitivo antes da principal reforma, sobre a qual o governo vem trabalhando nos últimos três anos: seis diferentes auxílios para os desempregados serão fundidos em um só. Um projeto-piloto será lançado no final de abril, antes de ser estendido para todo o país em outubro. Ele tem como princípio nunca ser financeiramente desvantajoso aceitar um emprego.
Essas mudanças vêm lembrar que, ao contrário do que se costuma acreditar, existe um sistema de auxílio social relativamente desenvolvido no Reino Unido, muito mais próximo do modelo europeu que do sistema americano. O país na verdade gasta quase um quarto de seu PIB em auxílios sociais públicos, quase a média da Organização de Cooperação e de Desenvolvimento Econômicos.
Mas esse fenômeno é polêmico. Os "scroungers" (parasitas) que vivem às custas da sociedade costumam ser vilipendiados pela imprensa sensacionalista e pela ala direita dos conservadores. "Quando milhares de pessoas ganham mais vivendo de bolsas do que as famílias que trabalham duro, tem algo de errado", acredita Chris Grayling, secretário de Estado do Trabalho.
Foi essa retórica que as Igrejas condenaram em sua declaração conjunta. Elas lembram que a maioria dos pobres no Reino Unido têm emprego, e que os casos de aproveitadores que abusam do sistema continuam sendo relativamente raros. "A lógica da diminuição dos auxílios sociais dá a impressão de que os pobres mereceriam a pobreza, que seriam pessoas inferiores", lamenta Paul Morrison, da Igreja Metodista.
Tradutor: Lana Lim
Carros circulam em rua de Londres
Nesta semana, o grande plano de austeridade criado pelo governo do conservador David Cameron quando chegou à Downing Street entra em uma fase crucial. Como previsto, diversos auxílios sociais serão reduzidos, o que terá como consequência um profundo remodelamento do Estado-providência britânico. São medidas que não agradam a oposição trabalhista, associações de caridade e líderes religiosos.
Em uma rara declaração conjunta, divulgada no domingo de Páscoa (31), a Igreja da Escócia, a Igreja Protestante Unida, a União Batista da Grã-Bretanha e a Igreja Metodista acusaram o governo britânico de "distorcer sistematicamente a representação dos mais pobres dentro da sociedade", fazendo das categorias mais humildes um alvo fácil nesses tempos de crise.
Durante todo o mês de abril, uma série de reformas revisará o funcionamento do Estado de bem-estar social. O resultado será uma economia de 3 bilhões de euros por ano, segundo cálculos da associação Child Poverty Action Group.
Para isso, o governo não indexará mais as bolsas-auxílio à inflação (atualmente em 2,8%) e só as aumentará em 1% ao ano durante três anos. O acesso aos auxílios para deficientes também será bastante endurecido. Mas a maior parte das reformas envolve três grandes mudanças.
A primeira é apelidada de "taxa sobre o dormitório" por seus opositores: os britânicos que moram em conjuntos habitacionais e que dispõem de um cômodo vazio terão um corte de 14% em seus auxílios à moradia. O objetivo é obrigar esses habitantes a se mudarem para apartamentos menores, para alojar as famílias amontoadas em exíguas moradias sociais.
A reforma provocou uma grande controvérsia, pois os filhos de uma mesma família devem dividir o mesmo quarto: se cada um tiver o seu, isso conta como um cômodo vago. Além disso, muitos idosos, que viveram a maior parte de sua vida em um mesmo apartamento, mas cujos filhos saíram de casa, não entendem essa obrigação de deixarem seus lares.
A segunda reforma que está no centro da polêmica é a criação de um teto máximo de auxílios sociais que as pessoas não poderão ultrapassar: nenhuma família poderá receber mais de 2.500 euros por mês em auxílios sociais, o equivalente ao que ganha uma família média no Reino Unido.
Pode parecer uma quantia grande, mas ela é insuficiente em quase 100 mil casos no Reino Unido. Na sua maioria, trata-se de pais solteiros, sem emprego, cuidando de vários filhos, que vivem em Londres, onde o aluguel é caro. Em média, eles perderão 450 euros por mês.
Um único auxílio aos desempregados
Essas duas modificações, no entanto, serão somente um aperitivo antes da principal reforma, sobre a qual o governo vem trabalhando nos últimos três anos: seis diferentes auxílios para os desempregados serão fundidos em um só. Um projeto-piloto será lançado no final de abril, antes de ser estendido para todo o país em outubro. Ele tem como princípio nunca ser financeiramente desvantajoso aceitar um emprego.
Essas mudanças vêm lembrar que, ao contrário do que se costuma acreditar, existe um sistema de auxílio social relativamente desenvolvido no Reino Unido, muito mais próximo do modelo europeu que do sistema americano. O país na verdade gasta quase um quarto de seu PIB em auxílios sociais públicos, quase a média da Organização de Cooperação e de Desenvolvimento Econômicos.
Mas esse fenômeno é polêmico. Os "scroungers" (parasitas) que vivem às custas da sociedade costumam ser vilipendiados pela imprensa sensacionalista e pela ala direita dos conservadores. "Quando milhares de pessoas ganham mais vivendo de bolsas do que as famílias que trabalham duro, tem algo de errado", acredita Chris Grayling, secretário de Estado do Trabalho.
Foi essa retórica que as Igrejas condenaram em sua declaração conjunta. Elas lembram que a maioria dos pobres no Reino Unido têm emprego, e que os casos de aproveitadores que abusam do sistema continuam sendo relativamente raros. "A lógica da diminuição dos auxílios sociais dá a impressão de que os pobres mereceriam a pobreza, que seriam pessoas inferiores", lamenta Paul Morrison, da Igreja Metodista.
Tradutor: Lana Lim
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