Em 20 dias, US$ 7,7 bi deixam o País
Se não houver reversão do fluxo, dezembro registrará maior
saída de dólares desde janeiro de 1999, quando se adotou o câmbio
flutuante
CÉLIA FROUFE - O Estado de S.Paulo
Nada menos do que US$ 7,735 bilhões saíram do País nos
primeiros 20 dias de dezembro, segundo dados divulgados ontem pelo Banco
Central (BC). Se esse déficit não for revertido até o fechamento do
mês, essa será a maior saída mensal registrada desde janeiro de 1999,
quando começou a era do regime de câmbio flutuante. Naquele mês, o saldo
fechou em US$ 8,587 bilhões negativos.
E, mesmo que os números de dezembro melhorem, especialistas já dão
como certo que a conta deste ano fechará no vermelho pela primeira vez
desde 2008, quando teve início a crise financeira internacional. Com os
dados atualizados ontem pelo BC, o resultado acumulado no ano já estava
negativo em US$ 11,216 bilhões.
Em geral, fluxos cambiais negativos indicam desconfiança dos
investidores em relação à economia de um país. "Trata-se de um movimento
preocupante, que deverá reforçar a tendência de desvalorização do real
ante o dólar", comentou o economista Felipe Salto, da consultoria
Tendências.
De fato, o dólar passou a manhã em queda mas, depois da divulgação do
resultado ruim do fluxo pelo BC, houve uma inversão e a moeda americana
encerrou o dia em alta de 0,13%, cotada a R$ 2,36.
"Considerando o cenário doméstico de incertezas, a tendência do dólar
ainda é de alta. Hoje (ontem), os dados ruins do fluxo cambial
lembraram os investidores disso", afirmou um experiente operador do
mercado de câmbio, que preferiu não se identificar.
A principal via de saída de dólares do País neste mês foram as
operações financeiras. Essa conta já vinha negativa, mas o movimento se
acentuou a partir da quarta-feira da semana passada, quando o Federal
Reserve (Fed, o banco central dos EUA) anunciou a redução dos estímulos
financeiros à economia americana. Da decisão do Fed até a sexta-feira
seguinte, a saída líquida foi de cerca de US$ 4 bilhões só no segmento
financeiro. No total, a saída por essa conta chegou a US$ 6,311 bilhões
até o dia 20.
Um saldo negativo nas operações financeiras costuma ser interpretado
como um movimento de evasão de divisas do País. Apesar disso,
representantes do Banco Central têm minimizado as saídas dessa conta e
assegurado que não se trata de fuga de capital.
Conta. O resultado negativo de US$ 11,216 bilhões deste ano, se
confirmado, será o terceiro pior da era do câmbio flutuante. Perderá
para 1999, quando as saídas líquidas foram de R$ 16,182 bilhões, e 2002,
com saldo negativo de US$ 12,989 bilhões. No ano passado, o saldo ficou
positivo em US$ 16,7 bilhões. Em 2011, com US$ 65,3 bilhões, foi o
melhor desde 2007. Em 2010, o resultado foi de US$ 24,3 bilhões.
Para Felipe Salto, um efeito positivo desse movimento poderá ser
sentido, no entanto, pelo comércio exterior, que se beneficiaria da alta
do dólar. A rentabilidade das exportações deverá melhorar e as
importações ficarão mais contidas. Isso resultará num saldo comercial
maior em 2014. A Tendências estima o saldo em US$ 8,2 bilhões, ante US$
2,5 bilhões este ano.
Por outro lado, ele acredita que há efeitos "recessivos" associados à
alta do dólar. Ele cita uma evolução mais tímida da absorção doméstica,
o que deverá resultar em taxas de crescimento modestas, na casa dos 2% a
2,5% no médio prazo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário