Fernanda Santos - NYT
Laura Segall/The New York Times
Agente
penitenciário Leo Vasquez, de capacete vermelho, membro da equipe de
bombeiros da penitenciária do Arizona, trabalha ao lado de um preso, de
capacete amarelo. O uso de detentos no combate a incêndios surgiu como
uma solução barata diante dos cortes de gastos
Os homens se agrupam num bloco coeso, suas identidades ocultadas por
roupas resistentes ao fogo, todos eles anônimos exceto pela cor de seu
capacete: vermelho para os oficiais de correção, azul e amarelo para os
detentos.
Quando o ar estava quente e os bosques ressecados no
verão passado, o pico da temporada de incêndios no oeste dos EUA, esses
bombeiros treinados combateram 13 incêndios florestais no Arizona,
incluindo um em junho que destruiu metade do vilarejo vizinho de Yarnell
e matou 19 membros da Granite Mountain Hotshots, uma equipe de
bombeiros de elite. Em uma manhã fria deste outono, eles usavam serras
elétricas e pulaskis --uma ferramenta de combate a incêndios que combina
machado e enxó-- para cortar arbustos grandes num empreendimento
privado aqui, oferecendo uma certa prevenção contra incêndios para as
casas construídas no campo.Eles moram no Complexo Prisional Lewis do Estado do Arizona, mas quando questionados sobre onde vivem, a resposta é simplesmente "Buckeye", o nome da cidade onde a prisão fica localizada. Se perguntam mais, eles chamam o lugar de "comunidade fechada" e param por aí.
"O fato de sermos presidiários é a última coisa que passa pela cabeça de alguém", diz John Chleboun, 33, que está cumprindo pena por roubo no complexo Lewis e está entrando em seu segundo ano de brigada.
Como as agências federais cortaram custos durante os impasses econômicos em Washington, diminuindo ainda mais o tamanho das equipes de combate a incêndios que já foram reduzidas em 40% desde a década de 80, a responsabilidade por combater incêndios florestais foi transferida para os estados e jurisdições locais, embora eles lutem com o peso de dificuldades econômicas. As equipes de presos, baratas e confiáveis, surgiram como uma solução à medida que os incêndios florestais se alastram mais, com mais potência e por mais tempo a cada ano e consomem uma porção cada vez maior do orçamento do Serviço Florestal dos EUA --só em 2012, as agências federais gastaram US$ 1,9 bilhão em combate ao fogo, pouco abaixo do recorde de 2006.
"A relação custo benefício é muito boa", disse Julie Hutchinson, chefe de batalhão para o Departamento Florestal e de Proteção contra Incêndios da Califórnia, que tem o maior e mais antigo programa de combate a incêndios com detentos do país: cerca de 4 mil presos e 200 funcionários. "E eles estão de volta à comunidade, pagando pelos seus erros."
Os Estados registram economias significativas, pagando aos presos uma pequena fração das taxas de reembolso pagas aos órgãos federais por utilizar suas equipes para combater incêndios ou o preço da contratação de empresas privadas para fazer o trabalho que os prisioneiros fazem na baixa temporada, como coletar lixo ao longo das estradas em Nevada, manter trilhas no Colorado, e desbastar florestas e remover de vegetação seca em toda a região.
A Califórnia paga aos detentos US$ 1 por hora por trabalhar em situações de emergência como incêndios e inundações, economizando para o estado cerca de US$ 80 milhões por ano, de acordo com estatísticas de proteção florestal e fogo. Em Nevada, onde os presos trabalham pelo mesmo salário, eles trazem em torno de US$ 3,5 milhões em receita anual de outros projetos que não o combate ao incêndio para os quais são contratados, disse Jody Weintz, que administra o programa para a Divisão de Florestal de Nevada --os bombeiros que não são presidiários recebem cerca de US$ 10 por hora, bem como pagamento por insalubridade e horas extras.
No Arizona, a remuneração dos presos está entre as mais baixas do país: US$ 0,50 por hora.
No Colorado, que teve de terceira maior taxa de reincidência do país em 2010, 52,5%, o supervisor do programa estima que menos de 25% dos presos liberados depois de trabalhar em equipes de combate a incêndio voltam à prisão.
Alguns especialistas em combate a incêndios, entretanto, não acreditam que o cálculo social faça muito sentido.
O combate ao incêndios florestais "é uma linha de trabalho onde há mais pessoas procurando empregos do que empregos disponíveis", disse Stephen J. Pyne, professor da the Escola de Ciências da Vida da Universidade Estadual do Arizona e ele próprio um ex-combatente de incêndios florestais que escreveu vários livros sobre a história e a mecânica dos incêndios florestais. "Por que estamos entregando isso a equipes de presos?"
Às vezes, os presos tentam se aproveitar da pouca supervisão e fugir. Weintz, em Nevada, disse que acontece "uma ou duas vezes por ano", mas até onde ele pode dizer, os fugitivos sempre foram recapturados, embora não para o programa de combate a incêndios. Um bom histórico disciplinar é condição para participar do programa. Outra é estar preso por um crime não-violento.
O mais comum, dizem os gestores do programa, é que os presos deixem a prisão ao final de suas sentenças e entrem para as equipes de bombeiros. Um deles, Grant Lovato, de 46 anos, que trabalhou duas temporadas com a equipe Lewis enquanto cumpria pena por fraude de cartão de crédito e roubo de identidade, agora é bombeiro para o Serviço de Pesca e Vida Selvagem dos EUA, em Gulfport, Mississipi. Numa entrevista por telefone, ele disse: "a ideia de que eu podeia estar na prisão e ainda assim ir até a floresta e desfrutar da natureza foi uma experiência transformadora para mim."
Tradutor: Eloise De Vylder
Nenhum comentário:
Postar um comentário