Reinaldo Azevedo - VEJA
Que pena que existe mercado no Brasil, não é? Feliz é a Coreia do Norte — para citar um, digamos, clássico, do coletivismo, que não está submetido a esses homens cúpidos, a essa canalha que só quer ganhar dinheiro especulando. É bem verdade, vamos admitir, que aquele país enfrenta alguns probleminhas e, de vez em quando, no campo, especialmente no inverno, coreanos do norte mais fortes comem coreanos do norte mais fracos, em sentido nada bíblico e numa releitura bastante, digamos, estomacal e particular de Darwin. Mas, ao menos, a gente sabe que são mortes morais, sem o vetor indecente do mercado.
Que pena que existe mercado no Brasil, não é? Feliz é a Coreia do Norte — para citar um, digamos, clássico, do coletivismo, que não está submetido a esses homens cúpidos, a essa canalha que só quer ganhar dinheiro especulando. É bem verdade, vamos admitir, que aquele país enfrenta alguns probleminhas e, de vez em quando, no campo, especialmente no inverno, coreanos do norte mais fortes comem coreanos do norte mais fracos, em sentido nada bíblico e numa releitura bastante, digamos, estomacal e particular de Darwin. Mas, ao menos, a gente sabe que são mortes morais, sem o vetor indecente do mercado.
Mas não
precisamos chegar a esse extremo de pureza antimercado. Podemos ficar
com uma versão mais amena. Vejam a Venezuela. A felicidade daquele povo é
garantida, no momento, por um sábio que reúne os poderes do Legislativo
e do Executivo. O homem regula até o valor dos aluguéis comerciais.
Nicolás Maduro gosta do mercado ético. Falta papel higiênico no país —
por isso, ultimamente, as pessoas têm visto pouco a imagem estampada de
Chávez em borrões… —, mas não falta patriotismo.
É o mercado que estraga tudo.
Vejam o
caso da Petrobras. Trata-se de uma empresa de capital misto. Durante os
danosos anos tucanos, o Brasil chegou perto da autossuficiência de
petróleo — não alcançada até agora, a despeito das mentiras de Lula — e
ao pré-sal. E alcançou esse patamar seguindo as regras do… mercado. Mas
aí se descobriu que isso era muito pouco social, entenderam? Em tese, as
gestões petistas fortaleceram enormemente a empresa. A gigante
petroleira é obrigada, por exemplo, a ser a operadora do pré-sal. Tem de
entrar na exploração como sócia, queira ela ou não, tenha autonomia de
caixa ou não. Não é pelo petróleo, não é pela eficiência, é pelo
patriotismo, pô! Então vamos entregar todo o nosso “ouro negro” — que, a
cada dia, menos gente quer — a sagazes negociantes? Nem pensar? Um dia
veremos a imagem de Lula estampada por aí nas coisas mais improváveis…
Você pedirá um suco e vai perceber uma caca meio repulsiva no copo mal
lavado… Olhe direito, preste bem atenção… Você terá visto aquilo em
algum lugar.
Com todo o
poderio que o PT devolveu à Petrobras, deixou a empresa menor do que
era, mais fraca, mais vulnerável. Culpa de quem? Dos homens de negócios!
Podem reparar: as nações mais prósperas da Terra, aquelas que garantem a
seus cidadãos uma vida verdadeiramente digna, são as que repudiam o
jogo perverso dos que só pensam no lucro. Nesses países, falar em setor
privado é um anátema. Todo mundo sabe que os grandes progressos da
humanidade — das vacinas ao vaso sanitário, passando pelo McLanche Feliz
— foram garantidos pelo estatismo, pelos sábios que se reúnem para
definir os caminhos da felicidade humana.
Do
petróleo ao mercado de arte, o estado sabe o que é melhor para nós. Os
“neoliberais” ficam fazendo pressão porque estão a serviço de interesses
inconfessáveis, entenderam? Vejam o caso do preço dos combustíveis. O
que quer esse bando de gente indecente? Ora, elevar o preço e ver
disparar a inflação para Dilma perder a eleição… E bem verdade que a
gente constata que a inflação continua a pressionar mesmo com o preço
dos combustíveis reprimido, o que é um sinal bastante evidente de que
algo não vai bem na equação geral… Pare por aí, leitor!
Interrompa
esse raciocínio! Isso é só o diabo da Razão tentando o seu cérebro,
fazendo um esforço para se insinuar na sua crença, tirando-o do caminho
reto. Toda a força da argumentação dos homens do livre mercado deriva do
mundo que existe, do mundo dos fatos, e nós, os esquerdistas de antes e
de agora, falamos em nome de um outro mundo possível. Não aceitamos que
a realidade seja uma tirana do nosso pensamento.
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